Nubank encerra trabalho 100% remoto, exige presença gradual e demite 12 funcionários após reunião interna

No primeiro encontro corporativo de grande amplitude em 2024, o Nubank comunicou a milhares de colaboradores o fim do modelo de trabalho totalmente remoto e anunciou um cronograma que obrigará equipes a comparecer ao escritório em datas escalonadas a partir do próximo ano. A reunião, realizada na quinta-feira, 6, teve participação do CEO David Vélez, alcançou cerca de 7 mil dos 9,5 mil empregados da fintech e desencadeou reações imediatas. Um dia depois, 12 trabalhadores foram desligados, gerando questionamentos do sindicato da categoria sobre possível retaliação a manifestações contrárias à nova política.
- O que muda no regime de trabalho
- Reação imediata de parte dos empregados
- Demissões no dia seguinte e controvérsia sobre motivação
- Posicionamento oficial do Nubank
- Ação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
- Perspectiva de ex-funcionários nas redes profissionais
- Detalhes da reunião corporativa
- Cronologia dos fatos já confirmados
- Solicitações do sindicato e próximos passos
- Pontos de consenso e de disputa
- Implicações para a cultura organizacional
- Próximas etapas aguardadas
O que muda no regime de trabalho
De acordo com as informações apresentadas na reunião, o Nubank encerrará o atual formato 100% remoto e adotará um modelo híbrido obrigatório. O sistema será implementado em duas etapas:
• até 1º de julho de 2026: comparecimento mínimo de dois dias presenciais por semana;
• a partir de 1º de janeiro de 2027: aumento para três dias presenciais por semana.
A direção da empresa explicou que, com esse calendário, pretende assegurar tempo para ajustes logísticos, adaptação das equipes e reorganização das rotinas individuais. A transição, segundo o comunicado interno, visa reforçar colaboração presencial, promover integração entre áreas e preservar flexibilidade parcial de horário.
Reação imediata de parte dos empregados
Embora a reunião tenha sido anunciada como um “coffee break” corporativo, o conteúdo estratégico gerou insatisfação visível na audiência. Alguns funcionários expressaram desconforto nos canais de comunicação interna, questionando tanto o prazo apertado para mudanças de moradia quanto a revogação de um modelo que se consolidou durante a pandemia. Para esse grupo, a decisão contraria compromissos anteriores de manter alternativas remotas e afeta trabalhadores que se deslocaram para cidades mais distantes de escritórios físicos.
Demissões no dia seguinte e controvérsia sobre motivação
Em 7 de junho, menos de 24 horas após o encontro, 12 profissionais foram desligados. O timing alimentou a hipótese de retaliação pela discordância manifestada na reunião. O Nubank refuta essa versão e afirma que as demissões ocorreram por “conduta inadequada” em canais corporativos, sem relação direta com o debate sobre o modelo híbrido. A fintech sustenta que os conteúdos publicados pelos ex-colaboradores excederam limites de respeito e descumpriram regras internas, ainda que não divulgue detalhes sobre as mensagens ou os critérios usados na decisão.
Posicionamento oficial do Nubank
Em nota destinada ao ambiente interno, a empresa destacou que preserva meios transparentes para debate, mas não tolera ofensas, assédio ou violação de políticas. A direção reiterou que não comenta casos individuais de desligamento e que continuará incentivando a participação dos times, contanto que se mantenham padrões de civilidade. O CEO David Vélez, ao responder a questionamentos em rede social corporativa, declarou que os comentários que motivaram as demissões teriam usado “linguagem incompatível com o ambiente profissional”.
Ação do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região
O Sindicato dos Bancários e Financiários de São Paulo, Osasco e Região afirma não ter sido informado previamente sobre a reunião e contestou o caráter das demissões. A presidenta da entidade, Neiva Ribeiro, solicitou imediatamente à empresa a suspensão dos desligamentos até que os fatos sejam esclarecidos. Segundo o órgão, relatos recebidos de ex-funcionários apontam que as dispensas estão ligadas à manifestação espontânea contra a mudança de regime de trabalho.
O sindicato pede transparência nos critérios utilizados para o corte e quer garantias de que não haverá retaliação a empregados que demonstrem opinião divergente. A entidade também planeja realizar uma reunião virtual aberta nos próximos dias para coletar depoimentos, construir um dossiê de informações e definir ações coletivas, se necessário.
Perspectiva de ex-funcionários nas redes profissionais
A controvérsia transbordou para o LinkedIn, onde a publicação de Neiva Ribeiro somou mais de 1,2 mil reações e atraiu comentários de ex-colaboradores. Entre eles, Rafael Calsaverini, que trabalhou cinco anos no Nubank, afirmou ter testemunhado críticas bem mais incisivas à gestão sem consequência disciplinar no passado. Na visão dele, o desligamento atual contrasta com a cultura de “debate aberto” cultivada pela fintech por mais de uma década.
Marcado na conversa, o CEO David Vélez respondeu que Calsaverini não dispunha de informações completas sobre o caso e reforçou que a linguagem utilizada pelos 12 desligados extrapolou limites aceitáveis. Vélez comparou o tom empregado a comportamentos de “arquibancada de estádio”, argumentando que qualquer organização manteria política disciplinar diante de ataques pessoais ou ofensas.
Detalhes da reunião corporativa
O encontro da quinta-feira foi convocado sob o formato de coffee break online, recurso usado pela empresa para transmitir mensagens estratégicas e aproximar a liderança do quadro geral. Ao todo, participaram cerca de 7 mil empregados, número que abrange a maioria das equipes distribuídas entre escritórios no Brasil e unidades internacionais. O evento foi conduzido pelo CEO, acompanhado de executivos de Recursos Humanos que explicaram o cronograma de retorno gradual aos escritórios.
Durante a sessão de perguntas e respostas, foram liberados canais de chat para perguntas espontâneas. Fontes ouvidas pelo sindicato relatam que algumas intervenções críticas ganharam tom irônico ou sarcástico, mas sustentam que não configuraram justa causa. A companhia, por sua vez, afirma que avaliou o teor específico de cada mensagem antes de aplicar as demissões.
Cronologia dos fatos já confirmados
• quinta-feira, 6: Nubank anuncia fim do trabalho 100% remoto e estabelece cronograma híbrido;
• sexta-feira, 7: 12 empregados recebem comunicação de desligamento;
• ainda na sexta-feira: sindicato é acionado por trabalhadores e inicia tratativas;
• dias seguintes: Neiva Ribeiro publica nota em rede profissional e convoca reunião virtual;
• CEO David Vélez responde a críticas em comentários públicos.
Solicitações do sindicato e próximos passos
O sindicato reivindica duas medidas centrais. A primeira é a reavaliação das demissões para averiguar se houve abuso disciplinar ou violação de direito à livre manifestação. A segunda é o estabelecimento de um canal formal de negociação para discutir o regime híbrido, incluindo suporte a trabalhadores que residem fora dos polos presenciais.
A entidade também propõe a criação de um mecanismo permanente de mediação, que avalie o conteúdo de interações em plataformas corporativas antes da aplicação de sanções. Para a direção sindical, o objetivo é prevenir que manifestações críticas sejam interpretadas como transgressões sem análise contextual ampla.
Pontos de consenso e de disputa
Há concordância, tanto por parte da empresa quanto do sindicato, de que o diálogo precisa continuar. A discordância surge na definição do que constitui conduta imprópria e nos critérios de proporcionalidade entre comportamento e punição. Enquanto a companhia classifica as mensagens como ofensivas, os representantes dos trabalhadores defendem que se tratou de crítica legítima, mesmo se expressa em tom irônico.
Implicações para a cultura organizacional
A adoção do modelo híbrido representa mudança significativa em uma instituição que, desde 2020, operava amplamente de forma remota. A transição exigirá renegociação de contratos de trabalho, logística de infraestrutura nos escritórios e revisão de políticas de compensação. Além disso, a forma como a empresa conduz o episódio das demissões poderá impactar a percepção interna de segurança psicológica e a reputação externa em relação à cultura aberta que a fintech historicamente promoveu.
Próximas etapas aguardadas
Nos próximos dias, aguarda-se a confirmação da reunião virtual proposta pelo sindicato, bem como eventual resposta formal do Nubank aos pedidos de transparência. Caso não haja consenso, o órgão sindical pode recorrer a instrumentos legais, como abertura de mediação no Ministério do Trabalho ou ajuizamento de ação coletiva. Por ora, a empresa mantém o posicionamento de que as demissões são casos particulares e que o cronograma de retorno presencial segue inalterado.
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