New Horizons desvenda Arrokoth e redefine teorias sobre formação planetária

A missão New Horizons, da NASA, continua a fornecer dados inéditos sobre os limites do Sistema Solar. Lançada em 2006, a sonda tornou-se a primeira a visitar Plutão e, desde 2019, estuda Arrokoth, o objeto mais remoto já alcançado por uma nave.

Da partida em 2006 à chegada a Plutão

Para atingir as regiões exteriores do Sistema Solar, a New Horizons recorreu a uma manobra gravitacional em Júpiter, concluída quatro meses após o lançamento. O impulso aumentou a velocidade para cerca de 14 000 km/h, reduzindo em vários anos o tempo de viagem.

O encontro com Plutão ocorreu em julho de 2015. Durante a aproximação, a sonda mapeou a superfície do planeta anão, analisou a composição da atmosfera e confirmou um diâmetro de aproximadamente 2 370 quilómetros, valor superior ao estimado até então.

Exploração do Cinturão de Kuiper

Concluída a fase principal da missão, a NASA redireccionou a sonda para o Cinturão de Kuiper, região povoada por corpos gelados além da órbita de Neptuno. O objetivo passa por estudar planetesimais preservados desde a formação do Sistema Solar.

Em 1 de janeiro de 2019, a New Horizons sobrevoou Arrokoth, anteriormente designado 2014 MU69. Com 35 km de comprimento e 20 km de largura, o objeto revelou-se um binário de contacto — duas rochas que colidiram a velocidade inferior a 1 m/s e permaneceram unidas, formando a silhueta de um “boneco de neve”.

Composição e idade

As imagens de alta resolução mostraram que o lóbulo maior possui forma lenticular, enquanto o menor é mais arredondado. Modelos dinâmicos indicam que a fusão ocorreu há cerca de 4,5 mil milhões de anos, período em que os primeiros planetas ainda se formavam.

Arrokoth mantém-se praticamente inalterado porque a sua órbita, situada a mais de 6 000 milhões de quilómetros do Sol, o protegeu de colisões frequentes e de variações de temperatura significativas. A composição rica em gelo e poeira fornece pistas sobre os ingredientes presentes no disco protoplanetário que rodeava o Sol primitivo.

Significado do nome

O termo “Arrokoth” significa “céu” na língua dos Powhatan, povo nativo da região que hoje corresponde ao estado norte-americano de Maryland, onde está sediado o Laboratório de Física Aplicada Johns Hopkins. A escolha foi aprovada pelos líderes indígenas e reflete o vínculo entre a missão e a comunidade local.

Impacto científico

Os dados recolhidos estão a obrigar os cientistas a rever modelos de formação planetária. A estrutura suave da junção entre os dois lobos respalda a hipótese de aglomeração lenta de partículas num disco protoplanetário, em vez de colisões violentas. Esta evidência reforça a teoria da instabilidade gravitacional, segundo a qual nuvens de poeira colapsam sobre si próprias, originando aglomerados que evoluem para corpos maiores.

Alan Stern, investigador principal da missão, sublinhou que a observação de Arrokoth fornece um “instantâneo congelado” dos blocos que deram origem aos planetas. Objetos com características semelhantes poderão ajudar a validar ou refutar cenários alternativos de acreção planetária.

Próximos passos da missão

A NASA pretende manter a New Horizons operacional até, pelo menos, 2029, quando se prevê que a sonda deixe o Cinturão de Kuiper. Durante esse período, a equipa procura alvos adicionais para sobrevoos, bem como medições do ambiente de partículas e campos magnéticos nos confins do Sistema Solar.

Mesmo após quase duas décadas de viagem, a New Horizons continua a transmitir dados valiosos, tornando-se uma janela privilegiada para a compreensão das origens e da evolução dos corpos que orbitam para lá de Neptuno.

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Imagem: NASA via olhardigital.com.br

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