Negociações de paz em Gaza avançam sob impasses cruciais

Negociações de paz em Gaza reúnem, nesta segunda-feira (18), delegações de Israel e Hamas em Sharm el-Sheikh, Egito, no encontro mais próximo de um acordo desde o início da guerra, há dois anos. O diálogo indireto baseia-se no plano de 20 pontos apresentado pelo ex-presidente dos EUA Donald Trump, aceito por Israel e parcialmente pelo Hamas.
O documento de apenas poucas páginas estabelece diretrizes gerais, mas quatro pontos continuam emperrando a assinatura do cessar-fogo definitivo.
Negociações de paz em Gaza avançam sob impasses cruciais
1. Libertação de reféns
Pelo plano, todos os 48 reféns israelenses — 20 deles supostamente vivos — seriam libertados até 72 horas após a ratificação do acordo. Trump afirmou no fim de semana que isso pode ocorrer “muito em breve”, e o premiê Benjamin Netanyahu projetou a libertação até 13 de outubro, fim da festa judaica de Sucot. O Hamas aceitou a “fórmula de troca” se determinadas “condições de campo” forem respeitadas, mas mantém os reféns como principal moeda de troca e evita detalhar prazos.
2. Desarmamento do Hamas
Jerusalém exige a completa destruição militar do grupo. O texto de Trump prevê que o Hamas entregue seu arsenal antes de qualquer transição política. Entretanto, a organização repetidamente condiciona o desarme à criação de um Estado palestino e ignorou o tema em sua resposta formal, sinalizando que não mudou de posição.
3. Futuro governo da Faixa
Pela proposta, Gaza seria administrada temporariamente por tecnocratas palestinos supervisionados por um “Board of Peace” comandado por Trump e com participação do ex-premiê britânico Tony Blair. A administração seria depois transferida à Autoridade Palestina (AP). Mesmo tendo aceitado o plano, Netanyahu resistiu publicamente a qualquer envolvimento da AP, afrontando a própria coalizão, que inclui ultranacionalistas favoráveis à permanência israelense e à reconstrução de assentamentos. O Hamas, por sua vez, reivindica lugar em um “movimento palestino unificado”, hipótese rejeitada por Israel.
4. Retirada militar israelense
O cronograma divulgado pela Casa Branca prevê três etapas, reduzindo gradualmente a presença das Forças de Defesa de Israel de 55% para 15% do território, com um “perímetro de segurança” indefinido até a eliminação de “qualquer ameaça terrorista”. A falta de datas claras e divergências entre os mapas dos EUA e os do Exército israelense alimentam a desconfiança do Hamas.
A construção de confiança é frágil: em agosto, Israel tentou eliminar a equipe de negociação do Hamas com um ataque aéreo em Doha, que matou o filho do chefe da delegação, Khalil al-Hayya. Agora, esses mesmos representantes estão a poucos metros dos israelenses no balneário egípcio.
Dentro de Israel, Netanyahu sofre pressão oposta. Ala radical ameaça romper a coalizão se a guerra terminar antes da destruição total do Hamas, enquanto pesquisas indicam que 70% da população aceita encerrar o conflito em troca dos reféns. O premiê, investigado por corrupção, também encara eleições marcadas para 2026.
Segundo levantamento da BBC, diplomatas esperam um rascunho final ainda esta semana, mas alertam que qualquer das quatro divergências pode implodir o esforço.
O desfecho das conversas em Sharm el-Sheikh determinará se o cessar-fogo finalmente sairá do papel ou se a guerra continuará sem horizonte de fim.
Para acompanhar outros desdobramentos geopolíticos, visite a editoria Notícias e tendências e fique por dentro das atualizações.
Crédito da imagem: AFP via Getty Images
Postagens Relacionadas