NASA inicia missão ESCAPADE rumo a Marte com lançamento do foguete New Glenn

Lead — A decolagem que recoloca Marte no radar da agência espacial norte-americana ocorreu às 17h57 (horário de Brasília) na Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, quando o foguete New Glenn, da Blue Origin, iniciou a viagem da missão ESCAPADE, primeiro projeto da NASA voltado ao planeta vermelho em mais de cinco anos.
- Quem participa da operação
- Quando o lançamento finalmente ocorreu
- Onde a missão começou
- Como o voo se desenrolou nos primeiros minutos
- Por que o pouso representa um marco
- O que a missão ESCAPADE pretende descobrir
- Relevância para a segurança de futuras tripulações
- Estratégia de navegação fora da janela clássica
- Intervalo desde a última missão marciana da agência
- Fases futuras e cronograma de operações
- Significado técnico para a Blue Origin
- Perspectiva do programa científico
Quem participa da operação
A iniciativa reúne três protagonistas centrais. A NASA financia e conduz os propósitos científicos; a Blue Origin fornece o veículo lançador de grande porte; e a Universidade da Califórnia em Berkeley coordena os dois satélites idênticos que formam a carga útil. Esses orbitadores, batizados de Blue e Gold, foram construídos pela Rocket Lab especificamente para investigar fenômenos atmosféricos e eletromagnéticos em Marte.
Quando o lançamento finalmente ocorreu
O cronograma original previa a decolagem para o domingo, 9 de junho. Entretanto, duas interrupções alteraram o plano, e a contagem regressiva definitiva só foi retomada na quinta-feira seguinte, 13 de junho. O último adiamento decorreu de uma explosão solar que poderia comprometer tanto os sistemas eletrônicos do foguete quanto a segurança da tripulação em terra, obrigando engenheiros a postergar o disparo por precaução.
Onde a missão começou
O local escolhido foi o Complexo de Lançamento 36, dentro da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida. A plataforma possui infraestrutura adaptada a veículos de grande diâmetro e carga elevada, requisitos cumpridos pelo New Glenn, considerado o maior foguete já desenvolvido pela empresa fundada por Jeff Bezos. Posicionar o lançador ali facilita a inclinação orbital necessária para trajetórias interplanetárias que partem da costa leste dos Estados Unidos.
Como o voo se desenrolou nos primeiros minutos
Após iluminação dos motores, o New Glenn rompeu a torre de lançamento e, cerca de três minutos depois, realizou o corte do motor principal, acompanhado pela separação dos estágios. O segundo estágio prosseguiu transportando a espaçonave ESCAPADE para além da atmosfera densa, enquanto o primeiro estágio iniciou uma sequência de frenagem controlada. Esse bloco primário reentrou na atmosfera aproximadamente sete minutos após a decolagem, reiniciou três dos seus sete motores para reduzir a velocidade e, dois minutos mais tarde, completou um pouso propulsivo vertical em um navio de recuperação posicionado a 604 quilômetros da costa, no Atlântico.
Por que o pouso representa um marco
A manobra bem-sucedida transforma a Blue Origin na segunda companhia a recuperar um primeiro estágio de grande porte por meio de descida retropropulsiva, prática que, até então, apenas a SpaceX havia consolidado com o foguete Falcon 9. Demonstrar esse recurso logo no segundo ensaio operacional do New Glenn reforça o potencial de reutilização planejado pela empresa, reduzindo custos e tempo de preparação para missões futuras.
O que a missão ESCAPADE pretende descobrir
ESCAPADE é a sigla para Escape and Plasma Dynamics Explorers. A dupla de sondas Blue e Gold vai estudar de forma coordenada a interação entre o vento solar — fluxo constante de partículas eletricamente carregadas emitidas pelo Sol — e a atmosfera superior de Marte, incluindo o comportamento do campo magnético local. Cientistas esperam compreender de que maneira essa relação contribuiu para a perda da maior parte da atmosfera original do planeta e, em consequência, para a alteração das condições que poderiam ter sido favoráveis à vida em algum momento remoto.
Relevância para a segurança de futuras tripulações
Além do interesse acadêmico, os dados devem fortalecer modelos de previsão de tempestades solares. Eventos de alta intensidade podem expor astronautas a radiação prejudicial tanto em órbita quanto na superfície marciana. Ao mapear com precisão os efeitos do vento solar sobre o ambiente marciano, a equipe do projeto pretende criar referências que auxiliem a planejar missões tripuladas com maior proteção e antecedência.
Diferentemente de expedições que partem durante as chamadas janelas de transferência direta, situadas em ciclos de aproximadamente 26 meses, a ESCAPADE utilizará uma rota alternativa. Logo após a injeção inicial, os satélites permanecerão por cerca de um ano nas proximidades do ponto de Lagrange L2, posição gravitacionalmente estável entre a Terra e o Sol. Em 2026, realizarão um sobrevoo de retorno ao planeta natal, ganhando impulso gravitacional adicional para, então, ajustar a trajetória final rumo a Marte. Esse percurso levará cerca de dez meses, culminando na inserção orbital em 2027. Uma vez em torno do alvo, a fase científica deverá estender-se por aproximadamente 11 meses.
Intervalo desde a última missão marciana da agência
O lançamento atual encerra um hiato de mais de cinco anos sem envios da NASA ao planeta vermelho. O registro anterior remonta a 30 de julho de 2020, quando o rover Perseverance e o helicóptero Ingenuity partiram a bordo de um foguete Atlas V. A retomada com a ESCAPADE sinaliza a continuidade do programa de exploração marciana, agora com ênfase em fenômenos atmosféricos e na preparação de cenários seguros para voos humanos.
Fases futuras e cronograma de operações
Concluído o período de órbita em torno de L2, a missão entrará em etapa crítica de correções de curso durante o sobrevoo da Terra em 2026. Esse ponto marca a transição do estágio heliocêntrico para a fase interplanetária propriamente dita. Alcanzado Marte, os satélites Blue e Gold adotarão órbitas elípticas complementares, condição que possibilita comparar simultaneamente regiões distintas do ambiente marciano, enriquecendo a leitura dos instrumentos. Ao término dos 11 meses de investigação, os controladores avaliarão a saúde dos sistemas para determinar a extensão ou encerramento das operações.
Significado técnico para a Blue Origin
Para o fabricante do lançador, o voo intitulado NG-2 representa o primeiro serviço operacional de cargas institucionais. A missão fornece validação adicional ao design do New Glenn, que havia realizado apenas um teste anterior. O sucesso da recuperação do primeiro estágio, aliado à entrega da carga na trajetória planejada, fortalece a posição da empresa no mercado de lançamentos governamentais e científicos de alto valor.
Perspectiva do programa científico
Do ponto de vista da comunidade de pesquisa, ESCAPADE complementa observações realizadas por sondas anteriores que documentaram a perda atmosférica de Marte, mas careciam de medições simultâneas em dois pontos espaciais distintos. A configuração em pares promete oferecer uma visão tridimensional dos processos de erosão por vento solar, elemento considerado chave para reconstruir a história climática do planeta.
Com o foguete já a caminho e a rota alternativa delineada, a NASA volta a concentrar esforços em análises de longa duração que pretendem responder tanto a perguntas sobre o passado marciano quanto a necessidades práticas de segurança para missões tripuladas vindouras. O cronograma estendido, que combina estação em L2, sobrevoo terrestre e chegada ao planeta em 2027, fornece amplo espaço para ajustes, garantindo que os satélites Blue e Gold atinjam seu destino e desempenhem o papel de mensageiros do clima espacial de Marte.

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