Nagasaki recorda 80 anos da bomba atómica e renova apelo ao desarmamento

Nagasaki assinalou este sábado, 9 de agosto de 2025, oito décadas sobre a explosão nuclear que matou dezenas de milhares de pessoas e acelerou o fim da Segunda Guerra Mundial. A cerimónia central decorreu no Parque da Paz, onde sobreviventes, representantes governamentais e delegações de mais de 90 países voltaram a defender um mundo livre de armas atómicas.

Cerimónia reúne 2 600 participantes

Cerca de 2 600 pessoas estiveram presentes no Parque da Paz e no vizinho Hipocentro, ponto exacto da detonação de 1945. Às 11:02, hora em que a bomba de plutónio rebentou, o sino tocou e os participantes guardaram um minuto de silêncio. Pombas brancas foram libertadas logo após a intervenção do presidente da câmara, Shiro Suzuki, filho de sobreviventes, que descreveu a memória do ataque como “património comum da humanidade”.

O primeiro-ministro Shigeru Ishiba reiterou o compromisso japonês com um “mundo sem armas nucleares” e prometeu levar essa posição à próxima conferência de revisão do Tratado de Não Proliferação, agendada para abril e maio de 2026 em Nova Iorque. A mensagem do secretário-geral da ONU, António Guterres, lida no local, apelou ao reforço do regime global de controlo de armamento, recomendando que o TNP seja complementado pelo impulso criado pelo Tratado de Proibição de Armas Nucleares.

Testemunhos de quem sobreviveu

Com uma idade média superior a 86 anos, restam 99 130 sobreviventes registados. Muitos compareceram sob chuva para deixar flores, gruas de papel e orações. Hiroshi Nishioka, 93 anos, recordou que, mesmo após o fim da guerra, “o terror invisível” da radiação continuou a matar. “Nunca mais utilizem armas nucleares, ou estaremos perdidos”, declarou.

Entre os presentes, Koichi Kawano, 85 anos, resumiu o sentimento de muitos: “Procuro apenas um mundo sem guerra.” Já Fumi Takeshita, 83, desloca-se regularmente a escolas para partilhar o seu relato. “Quando crescerem, lembrem-se do que ouviram hoje e perguntem-se o que cada um pode fazer para evitar novos conflitos”, pediu aos alunos.

Memória e futuro

No passado, milhares de conversos católicos esconderam-se em Nagasaki para escapar à perseguição feudal. O sinistro de 1945 destruiu a Catedral de Urakami, cujos dois sinos voltaram a tocar em conjunto este ano, depois de um deles, desaparecido desde a explosão, ter sido restaurado por voluntários.

A preocupação com o desaparecimento gradual das testemunhas diretas levou organizações locais a digitalizar depoimentos para plataformas como o YouTube. Teruko Yokoyama, 83 anos, explicou que o projecto pretende preservar “as histórias de vida de quem ainda resiste”. A iniciativa foi apresentada num fórum de paz que reuniu mais de 300 jovens de todo o país.

Um dos oradores, Seiichiro Mise, 90 anos, distribuiu sementes de flores, símbolo da transmissão de responsabilidades para as novas gerações: “Espero vê-las florir em mãos mais jovens.”

Debate sobre defesa e dissuasão

Apesar das palavras de paz, o contexto internacional mantém-se tenso. Sobreviventes criticam o Governo japonês por não assinar nem participar, sequer como observador, no Tratado de Proibição de Armas Nucleares, alegando Tóquio depender do guarda-chuva nuclear dos Estados Unidos. A ausência de referência explícita a esse acordo no discurso de Ishiba motivou comentários de vários grupos anti-nucleares.

Alguns países enviaram delegações ao acto; a China comunicou que não estaria presente sem explicar a decisão. Em 2024, a cerimónia ficara marcada pela ausência do embaixador norte-americano e de outros representantes ocidentais, depois de a cidade ter recusado convidar autoridades israelitas.

O aniversário de Nagasaki encerra a semana de recordações iniciada em Hiroshima a 6 de agosto. Para quem viveu o ataque de 1945, a mensagem mantém-se: transformar a cidade no último sítio do planeta alguma vez atingido por uma bomba atómica.

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