Núcleo da Terra passa por alteração inédita detectada a 3 000 km de profundidade, segundo análise dos satélites GRACE, operados pelos EUA e Alemanha entre 2002 e 2017. O estudo, publicado em agosto na revista Geophysical Research Letters, indica que a transformação ocorreu de 2006 a 2008, mas só foi percebida anos depois.
Os satélites voavam em formação, monitorando variações mínimas na distância entre eles para mapear mudanças no campo gravitacional terrestre. Um sinal anômalo captado em 2007, próximo à costa atlântica da África, chamou a atenção da equipe liderada pela geofísica Isabelle Panet, da Universidade da Cidade de Paris.
Núcleo da Terra apresenta mudança inédita, indicam satélites
Após descartar oscilações provocadas por água ou gelo na superfície, pesquisadores concluíram que a origem do fenômeno está, ao menos em parte, na Terra sólida. A hipótese mais provável aponta que cristais de perovskita, mineral abundante no fundo do manto, alteraram sua estrutura sob pressões extremas, elevando a densidade local. Esse processo teria deslocado rochas próximas e deformado o limite entre manto e núcleo em cerca de 10 cm.
Para a sismóloga Barbara Romanowicz, da Universidade da Califórnia em Berkeley, trata-se de evidência convincente de processos dinâmicos que ocorrem na base do manto em escalas de tempo humanas. Entender essa interação é crucial para explicar desde a geração do campo magnético até a origem de grandes terremotos.
A descoberta reforça o valor de missões de gravimetria como o GRACE. A próxima geração de satélites poderá confirmar se fenômenos semelhantes estão em curso em outras regiões. Como destacou a revista Nature, monitorar o interior do planeta ajuda a prever riscos naturais e a proteger a vida na superfície.
Segundo Panet, a continuidade do acompanhamento permitirá detectar novas anomalias quase em tempo real, abrindo caminho para modelos mais precisos da dinâmica profunda da Terra.
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Imagem: GC Quarterland / Shutterstock