Mortes maternas no Afeganistão disparam após corte de ajuda

Mortes maternas no Afeganistão disparam após corte de ajuda é o alerta que emerge de uma investigação da BBC, que acompanhou comunidades da província de Badakhshan desde que os Estados Unidos suspenderam quase toda a assistência ao país.

Segundo o levantamento, mais de 400 clínicas financiadas pela Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID) fecharam as portas em 2024. Sem atendimento próximo, mulheres grávidas são obrigadas a viajar por estradas esburacadas ou dar à luz em casa, cenário que já elevou os óbitos maternos em até 50% e aumentou as mortes de recém-nascidos em um terço nos últimos quatro meses.

Mortes maternas no Afeganistão disparam após corte de ajuda

Um dos casos mais dramáticos ocorreu na vila de Shesh Pol. Shahnaz entrou em trabalho de parto, mas encontrou a pequena clínica local fechada. Teve a filha dentro de um carro e sangrou até morrer; a bebê faleceu horas depois. Situações semelhantes vitimaram Daulat Begi, Javhar e Gul Jan, cujos maridos relataram à BBC a impossibilidade de pagar viagens mais longas ou acessar medicamentos básicos.

Os EUA justificam a retirada da ajuda alegando que verbas beneficiariam “grupos terroristas, incluindo o Talibã”. Relatório do Inspetor-Geral para a Reconstrução do Afeganistão aponta que US$ 10,9 milhões teriam sido cobrados em impostos ou taxas pelo governo talibã, acusação negada por Cabul. Ainda assim, Washington foi responsável por 43% de toda a ajuda recebida pelo país em 2024, proporção que desabou após a decisão.

Com o fechamento das unidades rurais, o hospital regional de Faizabad está superlotado: 120 leitos para mais de 300 pacientes. O diretor, Dr. Shafiq Hamdard, disse que o orçamento anual caiu de US$ 80 mil para US$ 25 mil. “Uma mulher pode morrer antes de conseguir um leito”, afirmou. A principal parteira, Razia Hanifi, relata exaustão e falta de pessoal, quadro agravado pela proibição talibã, em dezembro de 2024, de cursos de enfermagem e obstetrícia para mulheres.

Organizações internacionais, como o Unicef, alertam que a combinação de cortes de financiamento e restrições de gênero coloca “em risco imediato” o direito à saúde de milhões de afegãs.

Diante da escalada de mortes, líderes comunitários responsabilizam diretamente a interrupção dos repasses americanos. “Mesmo que minha filha não sobrevivesse, teríamos a certeza de que tentaram salvá-la”, lamentou Ahmad Khan, pai de Maidamo, outra vítima recente.

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Crédito da imagem: Aakriti Thapar / BBC

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