Ministro israelita avança com mapas para anexar grande parte da Cisjordânia

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou esta quarta-feira, em conferência de imprensa em Jerusalém, que estão a ser elaborados mapas para aplicar a soberania israelita sobre vastas zonas da Cisjordânia ocupada. O responsável, ligado ao movimento dos colonatos e representante da ala mais à direita do executivo, indicou que o processo decorre sob a sua supervisão no Ministério da Defesa.

Plano visa “território máximo com população mínima”

À frente de um mapa que excluía apenas seis grandes cidades palestinianas — entre elas Ramallah e Nablus — Smotrich defendeu que «chegou o momento de aplicar a soberania de Israel a Judeia e Samaria», designações bíblicas usadas pelas autoridades israelitas para a Cisjordânia. Segundo o ministro, o objetivo é incorporar «o máximo de território com o mínimo de população palestiniana», afastando em definitivo a criação de um Estado palestiniano.

O dirigente pediu ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu que aceite o plano, sublinhando que a proposta pretende «remover da agenda» a divisão do território e impedir a formação de «um Estado de terror» no centro de Israel. Smotrich esclareceu ainda não ter interesse em conceder aos residentes palestinianos os benefícios da cidadania israelita.

Silêncio de Netanyahu e críticas imediatas

O gabinete do chefe do governo não reagiu de imediato às declarações. Qualquer processo formal de anexação exigiria a aprovação do Knesset e poderia arrastar-se por meses, deixando em aberto o empenho de Netanyahu.

Do lado palestiniano, o porta-voz do presidente Mahmoud Abbas classificou qualquer avanço territorial como «ilegítimo, condenado e inaceitável». O Hamas, facção rival com influência na Faixa de Gaza, alertou que a anexação não garantirá segurança a Israel e provocará «mais resistência e confronto».

Nos países árabes, o Emirado Árabe Unido — que reconheceu Israel em 2020 através dos Acordos de Abraão — assinalou que tal medida constitui «linha vermelha». Entre os aliados ocidentais, França, Reino Unido, Austrália e Canadá anunciaram recentemente a intenção de reconhecer oficialmente um Estado palestiniano na próxima Assembleia-Geral das Nações Unidas, aumentando a pressão diplomática sobre Telavive.

Antecedentes históricos e enquadramento jurídico

Israel capturou a Cisjordânia na guerra de 1967 e desde então controla militarmente a região, onde vivem hoje cerca de três milhões de palestinianos e mais de 450 000 colonos israelitas. A comunidade internacional considera os colonatos ilegais ao abrigo do direito internacional, posição reafirmada em 2024 pelo Tribunal Internacional de Justiça, que pediu o fim da ocupação «o mais rapidamente possível».

As autoridades israelitas rejeitam a classificação de «territórios ocupados», defendendo que a área é «disputada». O eventual avanço para a anexação definitiva, além de suscitar forte contestação externa, exigiria um complexo processo legislativo interno e poderia agravar o isolamento diplomático do país, já sujeito a críticas pelo conflito em Gaza.

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