Mercado Livre avança no mercado farmacêutico e pressiona concorrentes

O Mercado Livre prepara-se para entrar na venda de medicamentos no Brasil através da aquisição da farmácia Target, nome comercial da Cuidamos Farma, situada na zona Sul de São Paulo. A operação, noticiada pelo jornal O Globo e confirmada parcialmente pela empresa à Reuters, marca a estreia do marketplace num dos maiores segmentos do retalho brasileiro.

Negociação em fase avançada

Embora o acordo ainda não tenha sido anunciado oficialmente, o Mercado Livre reconheceu estar a negociar a compra de uma empresa que comercializa medicamentos, comprometendo-se a divulgar detalhes «no momento oportuno». A Target opera com licença para venda online, requisito indispensável segundo a legislação brasileira, que obriga cada transação a ser supervisionada por um farmacêutico numa farmácia física.

Impacto imediato nas bolsas

A mera hipótese de entrada do gigante do comércio electrónico no sector afectou as cotações das principais redes de farmácias listadas. Na sexta-feira, 29 de Março, as acções da RD Saúde — detentora das bandeiras Drogasil e Raia — recuaram 6,9 %, enquanto a Pague Menos perdeu 3,72 %. Na segunda-feira seguinte, as quedas continuaram: RD Saúde deslizou 2,28 % e Pague Menos 1,66 %. Os títulos do Mercado Livre, negociados nos Estados Unidos, mantiveram-se praticamente inalterados.

Análise dos bancos de investimento

Para os analistas do Itaú BBA, a movimentação é «óbvia» dado o esforço do grupo argentino em sustentar o ritmo de crescimento no Brasil. O banco sublinha que o segmento farmacêutico sempre foi relevante no retalho nacional e questiona a ausência anterior da plataforma nesse mercado. Segundo o relatório enviado a clientes, o Mercado Livre já terá delineado um plano de longo prazo, mas a expansão exigirá capital considerável.

O Banco Safra partilha visão semelhante: a venda online de medicamentos representa quase um quarto das transacções das grandes redes, mas a compra de apenas uma farmácia em São Paulo limita, para já, o poder de fogo do marketplace. Os analistas recordam que a lei proíbe centros de distribuição de medicamentos e obriga cada venda a partir de um balcão autorizado, o que eleva custos e complexidade logística.

Quase 25 % das vendas de farmácias já são digitais

Dados citados pelos bancos indicam que cerca de 25 % das transacções das grandes cadeias são realizadas através da internet. Esse volume confirma o potencial do nicho e ajuda a explicar o interesse do Mercado Livre. Ao adquirir uma farmácia licenciada, a empresa passa a cumprir o enquadramento legal e conquista uma porta de entrada para um público consumidor habituado ao comércio electrónico.

Estratégia de crescimento sustentada

Fundado em 1999, na Argentina, o Mercado Livre opera em 18 países da América Latina e exibe mais de 60 milhões de ofertas em tempo real. No segundo trimestre de 2024, o grupo registou receita de 6,79 mil milhões de dólares, 34 % acima do mesmo período do ano anterior, e lucros operacionais de 825 milhões, um recorde trimestral. Entre as iniciativas recentes estão a expansão do serviço de frete gratuito no Brasil e o reforço do cartão de crédito próprio, medidas destinadas a aumentar fidelização e volume de transacções.

A iniciativa de comprar a Target encaixa nesta lógica de diversificação. Além de elevar o sortido disponível, a empresa passa a competir num segmento pouco explorado pelos marketplaces regionais. O Itaú BBA prevê uma «jornada longa», enquanto o Safra considera o impacto imediato «limitado», mas ambos assinalam que a presença digital robusta do Mercado Livre poderá acelerar adaptações regulamentares e intensificar a concorrência.

Próximos passos

O acordo depende agora das negociações finais entre as partes e da eventual aprovação das autoridades brasileiras. Sem centros de distribuição dedicados, o Mercado Livre terá de integrar a farmácia adquirida à sua rede logística existente, garantindo o cumprimento das normas sanitárias. Nos bastidores, investidores e retalhistas acompanham a operação, atentos à forma como o novo concorrente poderá influenciar preços, prazos de entrega e participação de mercado.

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