Master Lemon homenageia amigo e leva jornada sobre memória ao cenário indie brasileiro

Master Lemon: The Quest for Iceland surgiu como um ponto fora da curva entre os mais de duzentos títulos que chegam semanalmente à Steam. Desenvolvido pelo estúdio brasileiro Pepita Digital, o game estreou em novembro carregando uma missão pessoal: eternizar a memória de André Lima, amigo do fundador Julio Santi, falecido em 2016.
- Como o luto deu origem a Master Lemon
- A jornada de desenvolvimento de Master Lemon
- Pepita Digital: o pequeno estúdio por trás de Master Lemon
- Jogabilidade e narrativa: o que esperar de Master Lemon
- Recepção inicial e próximos passos para a Pepita Digital
- Por que Master Lemon se destaca no mercado indie
Como o luto deu origem a Master Lemon
O ponto de partida do projeto remonta a uma madrugada de 2018, dois anos após a morte de André. Naquele momento, Julio Santi, ainda lidando com a ausência do amigo, acordou com o nome “Master Lemon: The Quest for Iceland” na cabeça. Antes que a inspiração se dissipasse, escreveu uma página inteira no computador descrevendo a essência da aventura que mais tarde guiaria todo o design do jogo.
A iniciativa nasceu, portanto, de uma necessidade emocional: converter dor em criação. O enredo acompanha Limão, protagonista que enfrenta uma praga devoradora de lembranças em terras inspiradas na Islândia. A metáfora é direta: quem perde alguém querido entende o receio de ver as memórias se apagarem. Ao tornar esse medo um obstáculo dentro do gameplay, Julio traduziu o luto em mecânicas interativas, oferecendo aos jogadores um convite para refletir sobre amizade e permanência.
A jornada de desenvolvimento de Master Lemon
Embora a semente tenha sido plantada em 2018, a produção oficial começou apenas em 2021, depois da chegada do produtor executivo Thomas Leme. A previsão inicial era concluir tudo em pouco mais de um ano, mas o cronograma se estendeu para cerca de cinco. O principal motivo foi a curva de aprendizado: Julio, com formação em Letras, mestrado em Literatura e experiência em cinema, precisou mergulhar no universo do game design, linguagem que ainda lhe era estranha.
Nesse período, o roteiro passou por inúmeras reescritas. Em algumas ocasiões, ajustes de mecânica exigiam mudanças na narrativa; em outras, a própria carga emocional impulsionava revisões para garantir que a mensagem permanecesse autêntica. Também durante a produção Julio procurou os pais de André para incluí-los formalmente no tributo, reforçando que o jogo deixaria de ser apenas inspirado na amizade para se tornar uma homenagem assumida, com nome, coração e propósito declarados.
Pepita Digital: o pequeno estúdio por trás de Master Lemon
A Pepita Digital funciona como um laboratório criativo de cinco pessoas. O time se divide entre administração, arte, conteúdo e programação. Apesar de estrear nos games, o estúdio já possuía trajetória no audiovisual, além de trabalhos em realidade virtual e vídeos corporativos.
A biografia de Julio ajuda a explicar o DNA multidisciplinar do projeto. Além de escritor, ele é ator, dramaturgo e dirigiu um filme produzido pela MGM. Quando as barreiras do mercado cinematográfico nacional apertaram, viu nos jogos um caminho mais acessível de distribuição. Descobriu depois que vender games também impõe desafios, mas o ambiente se mostrou aberto o suficiente para acomodar a proposta intimista de Master Lemon.
Jogabilidade e narrativa: o que esperar de Master Lemon
Desde o princípio, Julio optou por descartar sistemas tradicionais de combate. Em vez disso, o foco recai sob palavras, cultura e quebra-cabeças linguísticos — escolha alinhada às conversas filosóficas que ele mantinha com André e ao método autodidata de aprendizado de idiomas que os aproximou. O objetivo central é estimular o jogador a explorar ilhas vibrantes, absorver expressões e resolver enigmas que envolvem linguagem, sempre avançando contra a ameaça que consome recordações.
Visualmente, a produção recorre à pixel art para equilibrar temas pesados com estética leve. A escolha não é acidental: esse contraste busca alcançar o conceito japonês de yūgen, a percepção do belo mesmo em experiências dolorosas. Logo, ambientes coloridos e personagens estilizados servem de moldura para discussões sobre ausência e persistência da memória.
Quanto ao cenário, a Islândia — ou “Ilhas Bashires” dentro da ficção — fornece geografia de paisagens amplas, vulcões e gelo. Tal pano de fundo reforça o senso de jornada, enquanto o confronto contra a praga devoradora de lembranças simboliza a luta interna de quem teme esquecer.
Recepção inicial e próximos passos para a Pepita Digital
Desde o lançamento em PCs, PlayStation, Xbox e Switch, o feedback do público voltou-se especialmente para a sensibilidade do enredo. Um jogador belga, por exemplo, foi o primeiro a completar todos os desafios na versão de console e enviou mensagem que emocionou o desenvolvedor. Casos similares revelam que a narrativa pessoal de Master Lemon encontra eco em vivências de outras pessoas ao redor do mundo.
A despeito da resposta positiva, Julio relata sentir-se “um nervo exposto” após dividir história tão íntima. Ele afirma precisar de tempo para se recompor emocionalmente antes de encarar novos ciclos de produção. Ainda assim, planos existem: o estúdio considera um projeto em parceria com uma editora chinesa e mantém ideias em fase conceitual, sem detalhes divulgados.
Enquanto isso, quem deseja experimentar o game pode recorrer à demo disponível na Steam. A versão demonstrativa apresenta as primeiras mecânicas de linguagem, fornece visão do contraste visual e antecipa a trama centrada na preservação da memória.
Por que Master Lemon se destaca no mercado indie
O lançamento ocorreu em um contexto lotado: segundo dados da própria Steam, cerca de 200 novos títulos chegam à plataforma toda semana. Para um estúdio de cinco pessoas, ganhar visibilidade nesse volume de oferta exige proposta clara. Master Lemon alcança tal façanha ao unir narrativa pessoal, mecânicas comprometidas com o tema de aprendizagem e estética que mistura nostalgia e poesia.
A abordagem reforça a missão declarada da Pepita Digital de “despertar o potencial humano em cada um”. Ao transformar a busca por palavras em mecânica e a preservação de lembranças em objetivo, o jogo convida o público a explorar culturas, respeitar histórias e valorizar o tempo presente.
A próxima etapa oficial para os interessados é acompanhar futuras atualizações do estúdio, especialmente o próximo projeto que poderá nascer após a fase de recomposição emocional de Julio Santi.

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