Maior hidrelétrica da África é o novo título conquistado oficialmente pela Grand Ethiopian Renaissance Dam (Gerd), inaugurada nesta terça-feira (14) pelo primeiro-ministro Abiy Ahmed, na presença dos presidentes do Quênia e do Djibuti. O empreendimento, construído sobre o Nilo Azul, promete transformar o acesso à eletricidade na Etiópia e em toda a região.
Com 1,78 km de extensão, 145 m de altura e 11 milhões de m³ de concreto, a barragem formou o lago Nigat (“amanhecer”, em amárico) e, quando operar a plena carga, deverá gerar 5.100 MW — mais que o dobro da capacidade elétrica atual do país.
Maior hidrelétrica da África é inaugurada na Etiópia
Iniciada em 2010 e concluída após 14 anos de trabalho ininterrupto, a obra mobilizou milhares de profissionais e uniu uma nação marcada por tensões étnicas e políticas. O engenheiro mecânico Moges Yeshiwas, que chegou ao canteiro em 2012 aos 27 anos, relembra jornadas de 12 horas sob temperaturas que chegavam a 45 °C e longos períodos longe da família em Bahir Dar, a 400 km dali. “Deixou de ser apenas um emprego; passei a sentir o projeto como parte da minha vida”, disse à BBC.
O financiamento foi totalmente doméstico, segundo o governo etíope. Milhões de cidadãos adquiriram títulos públicos ou fizeram doações, como o enfermeiro Kiros Asfaw, que comprou mais de cem títulos desde 2011, mesmo durante a guerra na região de Tigré. A mobilização popular respondeu às críticas de países a jusante do Nilo, especialmente o Egito, que teme impactos no fluxo de água. O tema segue em negociação diplomática, de acordo com reportagem da BBC News.
Para Abiy Ahmed, a Gerd “coloca a Etiópia no mapa” e serve de símbolo de orgulho nacional. Entretanto, o desafio agora é distribuir a energia. O ministro da Água e Energia, Habtamu Ifeta, admite que quase metade dos 135 milhões de habitantes ainda não têm luz. O objetivo oficial é levar eletricidade a 90% da população até 2030, o que exige instalar dezenas de milhares de quilômetros de cabos e novas subestações.
Em Alamura, vilarejo agrícola a 10 km de Hawassa, a agricultora Getenesh Gabiso aguarda esse futuro. Ela, o marido e três filhos dependem de lenha para cozinhar e de lampiões a querosene para iluminação. “Quero apenas enxergar minha casa à noite”, resume. Para famílias como a dela, a energia da maior hidrelétrica da África pode significar saúde, educação e desenvolvimento.
Enquanto isso, para Moges Yeshiwas, o sacrifício valeu a pena: “Meu filho nasceu enquanto eu trabalhava na barragem. Sei que o futuro dele será melhor graças a algo de que participei”, conclui o engenheiro.
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Imagem: AFP via Getty Images