Mafia: The Old Country aposta na narrativa e deixa a jogabilidade em segundo plano

Uma história sólida no centro da experiência

Mafia: The Old Country regressa às origens do crime organizado e conduz o jogador a Sicília, no início do século XX. No papel de Enzo, um jovem minerador que foge de um patrão abusivo e é acolhido por uma família rival, o jogador acompanha a ascensão de um protagonista que passa de simples empregado a braço-direito de Bernardo Torrisi. O enredo cobre etapas marcantes dessa trajetória, inclui reviravoltas e elementos clássicos — como o romance proibido com a filha do chefe — e mantém um ritmo similar ao de uma produção cinematográfica. Esse foco narrativo tem sido apontado como o maior trunfo do título.

Apesar da qualidade do roteiro, o jogo reserva mais tempo a cenas animadas e diálogos do que à ação propriamente dita. A campanha pode ser concluída entre dez e doze horas, período que diminui se o jogador optar por avançar rapidamente pelas cut-scenes ou usar a função de viagem rápida. Esse equilíbrio, claramente favorável à narrativa, afasta quem prefere um ciclo de jogabilidade mais prolongado.

Mundo aberto com liberdade limitada

A recriação da Sicília da época destaca-se pelo detalhe das construções, da vegetação e do relevo. No entanto, a amplitude do mapa contrasta com a escassez de actividade fora da linha principal. Não existem missões secundárias, e diversos atalhos ou rotas alternativas ficam bloqueados por barreiras invisíveis. Mesmo quando o título oferece um interlúdio para explorar, a ausência de recompensas significativas desencoraja o desvio do caminho previsto.

O sistema “Veiculopédia” permite comprar automóveis da época e percorrer estradas em modo teste, mas os itens coleccionáveis e melhorias obtidos nesse ambiente tornam-se pouco úteis após terminar a história, já que não é possível revisitá-la livremente. Este perfil extremamente linear lembra jogos de gerações anteriores, em que limitações técnicas justificavam restrições semelhantes.

Combate entre o realismo e a simplicidade

A jogabilidade mantém os pilares dos primeiros Mafia, acrescentando secções furtivas. Contudo, ser detectado raramente compromete a missão; basta sobreviver à vaga de inimigos, algo facilitado por padrões de IA previsíveis. Nas missões obrigatoriamente discretas, o caminho é tão claro que o desafio resume-se a seguir as áreas assinaladas e eliminar guardas isolados.

O arsenal reflecte o período histórico: armas de fogo menos precisas, sem mira automática e com munição limitada. A condução de veículos também respeita as características da época, exibindo perda de velocidade em subidas e curvas mais exigentes. Há ainda confrontos de faca em formato quase de jogo de luta, com barras de energia e comandos de ataque e defesa. Embora o sistema não dependa de contra-golpes automáticos, sofre com atrasos na resposta, obrigando o jogador a antecipar cada acção.

Aspecto técnico detalhado, mas personagens repetem-se

Em configurações máximas, a versão para PC mantém 120 fotogramas por segundo e evidencia um sistema de luz e sombra convincente, que varia consoante a posição do sol e o horário das missões. O nível de detalhe do cenário contrasta com modelos de personagens pouco variados: inimigos repetem roupas, feições e animações, chegando a surgir clones lado a lado durante tiroteios.

Veredito: roteiro de qualidade versus liberdade ausente

Mafia: The Old Country oferece um dos argumentos mais consistentes da série e apresenta uma ambientação cuidada. Contudo, a ausência de missões laterais, a curta duração da campanha e as barreiras que restringem a exploração podem frustrar jogadores que valorizam um mundo aberto dinâmico. O resultado é uma experiência intensa, mas rigidamente guiada, que privilegia quem procura uma narrativa forte e não se importa com liberdade limitada.

Posts Similares

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.