Justiça australiana revela tentativas de envenenamento do marido por Erin Patterson
Erin Patterson, condenada no mês passado por assassinar três familiares com cogumelos venenosos, enfrentou novas revelações em tribunal sobre alegadas tentativas de matar o marido, Simon Patterson, ao longo de vários anos.
Acusações até agora mantidas em sigilo
O Supremo Tribunal do estado de Victoria autorizou a divulgação de detalhes que tinham sido suprimidos durante o julgamento principal. Patterson, de 50 anos, foi considerada culpada por ter servido, a 29 de julho de 2023, um bife Wellington contaminado com espécies letais de cogumelos, provocando a morte dos ex-sogros Don e Gail Patterson, ambos de 70 anos, e da cunhada Heather Wilkinson, de 66. O pastor Ian Wilkinson, marido de Heather, sobreviveu após várias semanas de internamento.
Antes do julgamento, o Ministério Público acusara Erin Patterson de três crimes de tentativa de homicídio contra o seu ex-marido. Essas imputações foram retiradas na véspera da seleção do júri, sem explicação pública, e toda a prova relacionada foi excluída da audiência principal. Com o processo concluído, o tribunal levantou a ordem de sigilo, permitindo que os factos venham agora a público.
Doenças graves associadas a refeições preparadas pela arguida
Em audiências preliminares, Simon Patterson descreveu um alegado padrão de envenenamentos iniciado em novembro de 2021. Nessa data, consumiu uma dose de penne à bolonhesa guardada em recipiente de plástico pela ex-mulher e, horas depois, sofreu vómitos intensos e diarreia, acabando observado num hospital.
O episódio mais grave ocorreu em maio de 2022, durante um acampamento nos Alpes de Victoria. Após comer caril de frango confecionado por Erin, Simon desenvolveu complicações tão severas que entrou em coma num hospital de Melbourne e perdeu parte do intestino numa cirurgia de urgência. Segundo o seu testemunho, a família foi chamada duas vezes para se despedir, pois os médicos temiam o pior.
Cinco meses mais tarde, em setembro, o empresário voltou a adoecer depois de ingerir uma wrap de legumes preparada pela ex-mulher durante uma visita à costa do estado. Nesta ocasião, além de náuseas, perdeu controlo muscular e apresentou convulsões durante o transporte para a urgência.
O clínico Christopher Ford, amigo da família, aconselhou então a criação de um diário alimentar para identificar a origem dos sintomas. A polícia viria a encontrar no computador da arguida um ficheiro com informação sobre toxinas de uso doméstico; os investigadores suspeitaram da utilização de veneno para ratos em pelo menos uma das ocorrências.
Alerta tardio à família e tragédia de 2023
Já em 2023, Simon contou a alguns familiares que acreditava estar a ser envenenado. A irmã, Anna Terrington, tentou dissuadir os pais de comparecerem ao almoço de 29 de julho, mas o casal minimizou o risco e decidiu manter o encontro. Cinco dias depois, Don e Gail Patterson e a cunhada Heather morreram no hospital, enquanto Ian Wilkinson lutava pela vida.
Durante a investigação, apurou-se que Erin Patterson visitou um aterro municipal na tarde do fatídico almoço e regressou dias depois para descartar um desidratador de alimentos usado na preparação do prato. O juiz considerou irrelevante informar o júri sobre a primeira deslocação, mas esses movimentos integram agora o dossiê disponível.
Comportamentos considerados suspeitos
Os procuradores referiram ainda uma publicação feita pela arguida, em 2020, num fórum sobre venenos no Facebook. Na mensagem, Patterson relatava que o suposto gato tinha vomitado após ingerir cogumelos encontrados no jardim, acompanhando o texto com fotografias dos fungos. O tribunal ouviu que a mulher nunca possuíra um gato, facto apresentado como indício do seu interesse prolongado na toxicidade de cogumelos.
Próximos passos processuais
O juiz Christopher Beale marcou a audiência de sentença para 25 de agosto, data em que as vítimas sobreviventes e familiares poderão apresentar declarações sobre o impacto dos crimes. Patterson, já condenada por três homicídios e uma tentativa de homicídio, aguardará em prisão preventiva até à leitura da pena.

Imagem: bbc.com