A Praça dos Três Poderes, em Brasília, está sob um dispositivo de segurança de grande dimensão para o início do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outros sete acusados de envolvimento numa alegada tentativa de golpe após as eleições de 2022. As sessões começam esta terça-feira, 2 de setembro, no Supremo Tribunal Federal (STF), e estendem-se, em princípio, até 12 de setembro.
Tecnologia de vigilância
Entre as medidas de proteção destaca-se o uso de drones equipados com câmaras de imagem térmica. Operados remotamente por agentes de segurança, estes aparelhos conseguem detetar a radiação de calor emitida pelo corpo humano, permitindo identificar pessoas tanto de dia como durante a noite. Também possibilitam a observação de objetos e movimentos a longas distâncias, aumentando o alcance da vigilância sem exposição direta das equipas em terra. Os detalhes técnicos dos equipamentos não foram divulgados pelas autoridades, que justificam a reserva por motivos estratégicos.
Esquema de segurança no terreno
O reforço envolve efetivos da Polícia Militar do Distrito Federal, incluindo a tropa de choque, unidades do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e o Comando de Operações Táticas (COT) da Polícia Federal. Novos pórticos de deteção de metais foram montados nas entradas do tribunal, complementados por revistas em mochilas e bolsas de visitantes e funcionários.
O perímetro conta ainda com viaturas adicionais, policiamento ostensivo, equipas cinotécnicas com cães farejadores e controlo de acesso mais rigoroso ao STF. Segundo os responsáveis pela operação, o objetivo é prevenir aglomerações não autorizadas, identificar possíveis ameaças antecipadamente e garantir a continuidade dos trabalhos do tribunal sem interrupções.
Calendário das sessões
O julgamento está distribuído em várias datas, com horários já definidos:
2 de setembro: 09h-12h e 14h-19h
3 de setembro: 09h-12h
9 de setembro: 09h-12h e 14h-19h
10 de setembro: 09h-12h
12 de setembro: 09h-12h e 14h-19h
O cronograma poderá ser ajustado conforme a necessidade de diligências ou a duração dos debates em plenário, mas, para já, o STF mantém as cinco sessões previstas.
Quem são os réus
Além de Jair Bolsonaro, estão no banco dos réus:
• Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin);
• Almir Garnier, ex-comandante da Marinha;
• Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do Distrito Federal;
• Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional;
• Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
• Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa, candidato a vice-presidente em 2022;
• Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Acusações em análise
A Procuradoria-Geral da República imputa ao grupo crimes como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e deterioração de património tombado. O Ministério Público alega que os arguidos integrariam o núcleo central de uma trama destinada a invalidar o resultado eleitoral e manter o então presidente no poder.
Os réus negam envolvimento na suposta tentativa de golpe. A defesa sustenta que as ações investigadas configuram atos políticos e não crimes, contestando a narrativa de preparação de ruptura institucional.
Impacto esperado
O julgamento é considerado sensível por envolver um ex-chefe de Estado e vários antigos altos quadros militares e governamentais. Por essa razão, as forças de segurança adotaram um modelo de atuação escalonada, combinando tecnologia avançada — como os drones térmicos — com efetivos especializados em controlo de multidões. A medida procura dissuadir possíveis protestos, preservar a integridade do edifício do STF e assegurar a ordem pública durante todo o período de apreciação do processo.
Até ao momento, não há registo de incidentes relacionados com a concentração de apoiantes ou opositores na região, mas o policiamento permanecerá ativo 24 horas por dia. As autoridades afirmam que tomarão novas providências se ocorrerem alterações no cenário de segurança.
