Jogadores e criadores contestam Visa e Mastercard após bloqueio de jogos adultos
Grupos formados por jogadores, estúdios independentes, activistas e artistas iniciaram uma campanha coordenada contra empresas de processamento de pagamentos, em resposta à recente remoção ou ocultação de jogos com temática adulta em lojas digitais como Steam e itch.io.
Protestos visam processadores de pagamento
A mobilização decorre sobretudo em redes sociais e fóruns como o Reddit, onde são partilhados contactos de serviços de apoio ao cliente da Visa, Mastercard, PayPal e Stripe. Os organizadores incentivam chamadas telefónicas — consideradas mais eficazes do que e-mails — para expressar descontentamento com a pressão exercida por estas empresas sobre as plataformas de distribuição.
Os manifestantes defendem que a limitação de métodos de pagamento conduz à perda de receitas para lojas e criadores, afectando de forma particular os estúdios independentes que dependem de um único título para subsistência. As instruções divulgadas pedem tom cordial nas interacções e rejeitam ameaças aos funcionários.
Origem da controvérsia
A disputa começou no final de Março de 2025, quando o jogo “No Mercy”, acusado de incentivar violência sexual, foi alvo de críticas de organizações não governamentais e acabou removido em Abril. Entre os grupos envolvidos está o colectivo australiano Collective Shout, que exige a exclusão de obras que representem violência não consensual, abuso infantil ou incesto.
Após alegar que a Valve, proprietária da Steam, ignorou repetidos alertas, o Collective Shout contactou processadores de pagamento para bloquear transacções associadas a esses conteúdos. A intervenção resultou em alterações nas políticas das plataformas: a Steam passou a restringir “determinados conteúdos exclusivamente adultos” que possam violar critérios dos prestadores de serviços financeiros.
Impacto na Steam e no itch.io
Na sequência da mudança, vários títulos desapareceram da pesquisa ou foram removidos da loja da Valve. Alguns continham material que já infringia as próprias regras da empresa, mas a comunidade reporta também eliminação de jogos com conteúdo sexual consensual ou temáticas LGBT+ não consideradas ilegais.
O itch.io, plataforma dirigida a projectos independentes, optou por desindexar provisoriamente todo o conteúdo marcado como “NSFW” para preservar o apoio das empresas de pagamento. A direcção do serviço anunciou uma auditoria interna para alinhar o catálogo com os requisitos exigidos e afirmou que a retirada não deve afectar o acesso de compradores a produtos já adquiridos.
Posição das empresas de cartões
Em resposta a contactos de utilizadores, a Visa divulgou uma nota padrão onde declara não emitir “julgamentos morais” sobre compras legítimas, mas proíbe actividades ilegais. A companhia refere que não modera conteúdos vendidos por comerciantes e não tem visibilidade dos bens específicos durante o processamento das transacções. Quando identifica risco elevado de actividade ilícita, exige “salvaguardas reforçadas” aos bancos parceiros.
A Mastercard, PayPal e Stripe não publicaram comunicados detalhados até ao momento, mas continuam mencionadas nas críticas da comunidade gamer.
Próximos passos
Organizadores dos protestos planeiam manter a campanha até que os processadores de pagamento clarifiquem políticas e deixem de condicionar a disponibilidade de jogos que, segundo os manifestantes, cumprem a lei e as classificações etárias. Por agora, a situação permanece em evolução, com desenvolvedores a aguardar orientações definitivas para avaliar impacto financeiro e possibilidades de distribuição alternativa.

Imagem: tecmundo.com.br