Israel intensifica bombardeamentos em Gaza City e prepara avanço terrestre

As forças israelitas reforçaram esta quarta-feira os ataques nos arredores de Gaza City, numa fase que o exército descreve como preparatória para uma ofensiva terrestre destinada a conquistar a cidade.

Operações militares e vítimas civis

Hospitais do enclave confirmaram mais de 30 mortos em Gaza City, entre eles mulheres e crianças, sobretudo nas zonas norte e oeste. No total, desde a meia-noite, as autoridades de saúde relataram pelo menos 46 vítimas mortais em toda a Faixa de Gaza.

No hospital Al-Shifa deram entrada 21 corpos, incluindo cinco pessoas que morreram quando um caça bombardeou um apartamento na área portuária oeste da cidade. Entre os sobreviventes encontra-se Ibrahim al-Mabhuh, de três anos, resgatado dos escombros; os pais e duas irmãs não resistiram.

Relatos de residentes dão conta de drones israelitas a lançar engenhos incendiários perto de uma clínica no bairro de Sheikh Radwan, onde tropas e blindados avançam. Vídeos publicados nas redes sociais mostram viaturas de socorro em chamas. Habitantes referem ainda a utilização de granadas contra três escolas que serviam de abrigo a deslocados, bem como a detonação de viaturas blindadas carregadas de explosivos para demolir habitações.

O porta-voz do exército disse estar a verificar estes relatos. Durante uma visita às tropas, o chefe do Estado-Maior, tenente-general Eyal Zamir, anunciou a entrada na “segunda fase” da operação designada “Carros de Gideão” e prometeu “continuar a atacar os centros de gravidade do Hamas até à sua derrota” e à libertação dos reféns.

Deslocação forçada e emergência humanitária

A ONU e organizações de ajuda alertam para “consequências humanitárias horríveis” das novas operações num território com cerca de um milhão de habitantes e onde foi declarada fome no mês passado. O cluster de gestão de locais de abrigo indica que, desde 14 de agosto, mais de 82 000 pessoas abandonaram as suas casas; a maioria deslocou-se para a costa ocidental, já sobrelotada. Apenas um terço conseguiu dirigir-se ao sul, como exige o exército.

Os militares aconselham a população a concentrar-se em al-Mawasi, prometendo água, alimentos e cuidados médicos. A ONU refere, porém, que os campos de tendas estão superlotados e inseguros e que os hospitais a sul funcionam muito acima da sua capacidade. Na terça-feira, cinco crianças morreram enquanto aguardavam água em al-Mawasi; testemunhas culpam um drone israelita. O exército afirma ter visado “um importante terrorista do Hamas” e diz estar a rever o incidente.

Pressão interna por acordo de reféns

Em Israel, manifestantes organizaram um “dia de perturbação” para exigir ao governo um acordo imediato que termine a guerra em troca da libertação dos 48 reféns ainda em Gaza, dos quais 20 são considerados vivos. Em Jerusalém, incendiaram pneus e caixotes do lixo e danificaram viaturas estacionadas; treze pessoas foram detidas depois de subirem ao telhado da Biblioteca Nacional com uma faixa onde se lia: “Abandonaram-nos e também nos mataram”.

Familiares dos sequestrados temem que a ofensiva coloque os cativos em maior risco. Mediadores regionais propuseram uma trégua de 60 dias que libertaria 10 reféns vivos e os corpos de 18 vítimas, mas o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu insiste num acordo global que envolva todos os reféns e o desarmamento do Hamas.

Balanço do conflito

O exército israelita lançou a sua campanha em Gaza após o ataque de 7 de outubro de 2023, no qual militantes liderados pelo Hamas mataram cerca de 1200 pessoas e capturaram 251. Desde então, o Ministério da Saúde administrado pelo Hamas contabiliza 63 746 mortos na Faixa de Gaza, além de 367 vítimas de desnutrição, seis das quais nas últimas 24 horas.

Perante a escalada, especialistas da ONU alertam que a imposição de novas movimentações massivas pode configurar transferência forçada, violando o direito internacional. Enquanto isso, milhares de reservistas israelitas foram chamados a integrar unidades posicionadas junto a Gaza City, sinalizando uma possível entrada terrestre nos próximos dias.

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