Israel confirma controlo total de Gaza City e rejeita críticas globais
O governo israelita aprovou um plano de cinco pontos que prevê o controlo militar de Gaza City e a criação de uma administração civil alternativa, desencadeando condenações de vários governos e organismos internacionais. A decisão foi tomada pelo gabinete de segurança, que descreve o documento como fundamental para “derrotar o Hamas” e “concluir a guerra”.
Plano de cinco pontos para o território
De acordo com informações divulgadas em meios de comunicação israelitas, o plano estabelece os seguintes objetivos: desarmar o Hamas, garantir a libertação de todos os reféns, demilitarizar a Faixa de Gaza, assumir o comando da segurança em todo o enclave e instalar uma autoridade civil que não envolva nem o Hamas nem a Autoridade Palestiniana.
Numa primeira fase, as Forças de Defesa de Israel (IDF) deverão assumir o controlo integral de Gaza City, cidade onde vivem cerca de um milhão de pessoas. A população seria transferida para o sul do território, enquanto operações paralelas avançariam sobre campos de refugiados no centro da faixa e zonas onde se acredita existirem reféns.
Uma segunda ofensiva, projetada para algumas semanas depois, ocorreria em simultâneo com um aumento do envio de ajuda humanitária, indicam as mesmas fontes.
Resposta de Israel às críticas
Perante a contestação internacional, o ministro da Defesa, Israel Katz, declarou que os países que ameaçam sanções “não enfraquecerão a nossa determinação”. “Os nossos inimigos encontrar-nos-ão como um punho forte e unido que os atacará com grande força”, acrescentou.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu manifestou ainda a sua desilusão junto de Friedrich Merz, após a Alemanha suspender exportações militares para Israel, considerando a medida um “prémio ao terrorismo do Hamas”.
Condenação internacional alargada
A Organização das Nações Unidas, o Reino Unido, França, Canadá e Austrália expressaram preocupação com a escalada do conflito. O alto-comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou que uma nova ofensiva provocará “deslocações massivas, mais mortes e destruição sem sentido”.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, classificou a decisão como “errada” e avisou que trará “mais derramamento de sangue”. A chefe da diplomacia australiana, Penny Wong, pediu a Israel que “não siga esse caminho”, argumentando que apenas agravará a crise humanitária.
A Turquia apelou à comunidade internacional para travar o plano, que, segundo Ancara, visa “expulsar à força os palestinianos da sua terra”. Em Pequim, um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que “Gaza pertence ao povo palestiniano e é parte inseparável do seu território”.
Nos Estados Unidos, a posição foi mais moderada. O antigo presidente Donald Trump disse que cabia “quase exclusivamente a Israel” decidir sobre a ocupação total da Faixa de Gaza.
Reações internas e de Hamas
No interior de Israel, familiares dos reféns e alguns responsáveis militares receiam que a iniciativa coloque em risco a vida dos sequestrados. O Fórum das Famílias dos Reféns descreveu a medida como “catastrófica para reféns e soldados”.
O Hamas considerou o plano “um novo crime de guerra” que “custará caro a Israel”.
Situação no terreno e crise humanitária
Atualmente, as IDF controlam cerca de três quartos da Faixa de Gaza. A ONU estima que 87 % do território esteja militarizado ou sob ordens de evacuação, concentrando a maioria dos 2,1 milhões de habitantes na zona que permanece fora do domínio israelita.
A guerra, iniciada a 7 de outubro de 2023 após o ataque do Hamas que matou aproximadamente 1 200 pessoas e raptou 251, provocou um deslocamento em massa e uma emergência alimentar. O Ministério da Saúde de Gaza aponta mais de 61 158 mortos desde o início da contra-ofensiva israelita.
Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que julho foi o mês mais grave para a desnutrição aguda infantil: quase 12 000 crianças com menos de cinco anos foram afetadas. As restrições impostas por Israel à entrada de bens, justificadas como forma de enfraquecer o Hamas, agravam o cenário de privação, apontam especialistas apoiados pela ONU.
Próximos passos
Apesar das críticas, o governo israelita mantém o plano como eixo central da sua estratégia militar e política para Gaza. A evolução das operações e a resposta da comunidade internacional determinarão o impacto imediato sobre a população civil, os reféns ainda detidos e a estabilidade da região.

Imagem: bbc.com