Israel avalia ocupação total de Gaza em reunião decisiva do gabinete de segurança
Israel reúne o seu gabinete de segurança esta quinta-feira para decidir se avança para a ocupação militar completa da Faixa de Gaza, medida apontada pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu como essencial para eliminar o Hamas e libertar os reféns ainda detidos.
Reunião marcada para as 18:00 em Jerusalém
O encontro está agendado para as 18:00 locais (15:00 GMT) e deverá colocar em votação um plano que, segundo meios de comunicação israelitas, implica o envio de dezenas de milhares de soldados adicionais para o território. Desde o início da ofensiva, Israel diz controlar cerca de 75 % da Faixa de Gaza; a proposta em análise visa conquistar as zonas restantes.
Fontes citadas pela imprensa descrevem uma primeira fase centrada na totalidade da Cidade de Gaza. A operação passaria pela transferência de cerca de um milhão de habitantes para o sul e pela tomada de campos de refugiados no centro do enclave, bem como de áreas onde se presume estarem retidos reféns. Uma segunda fase, semanas depois, incluíria nova ofensiva paralela ao reforço da ajuda humanitária.
Divisões internas e alertas internacionais
Relatos dão conta de divergências no seio da liderança militar. O chefe do Estado-Maior, general Eyal Zamir, terá advertido Netanyahu de que uma ocupação prolongada pode prender as tropas em combates urbanos e aumentar o risco para os sequestrados. Zamir terá apresentado uma alternativa que passa por cercar os últimos bastiões do Hamas em vez de assumir controlo directo sobre todo o território.
Apesar das reservas, a maioria do gabinete é apontada como favorável à proposta do primeiro-ministro. Ainda assim, famílias de reféns expressaram receio de que a medida provoque retaliações fatais contra os seus familiares.
Na arena internacional, o subsecretário-geral da ONU para os Assuntos Políticos, Miroslav Jenča, advertiu esta semana no Conselho de Segurança que uma ocupação integral violaria o direito internacional e teria «consequências catastróficas». O alerta soma-se às preocupações de várias agências humanitárias sobre a situação no enclave, classificada por especialistas apoiados pela ONU como estando em nível de fome em termos de consumo alimentar.
Distribuição de ajuda sob escrutínio
Paralelamente, o embaixador dos Estados Unidos em Israel, Mike Huckabee, afirmou ao canal Fox News que está previsto um aumento substancial dos pontos de distribuição da Gaza Humanitarian Foundation (GHF), entidade apoiada por Washington e Telavive. A GHF opera actualmente quatro locais que, segundo organizações de socorro, funcionam de forma caótica e obrigam milhares de palestinianos a deslocações perigosas em busca de mantimentos.
Desde Maio, centenas de pessoas foram mortas em episódios de violência nesses postos. Testemunhas e o ministério da Saúde dirigido pelo Hamas responsabilizam forças israelitas; as Forças de Defesa de Israel alegam ter disparado apenas tiros de aviso ou respondido a ameaças directas, negando ter visado civis.
Contexto da guerra
O conflito iniciou-se em 7 de Outubro de 2023, quando o Hamas atacou Israel, provocando cerca de 1 200 mortos e sequestrando 251 pessoas. A contra-ofensiva israelita provocou, segundo o ministério da Saúde de Gaza, pelo menos 61 158 vítimas mortais. A maioria da população do enclave — estimada em 2,3 milhões — já foi deslocada.
Com as conversações de cessar-fogo suspensas há duas semanas, a decisão do gabinete de segurança torna-se central para o rumo do conflito. Questionado esta terça-feira, o ex-presidente norte-americano Donald Trump declarou que a eventual ocupação «cabe a Israel».
Se o plano receber luz verde, a operação deverá avançar nas próximas semanas, condicionada, contudo, pela logística de mobilização militar, pelas negociações diplomáticas e pela pressão crescente de grupos humanitários que pedem suspensão dos combates para permitir assistência à população civil.

Imagem: bbc.com