Isolamento internacional de Israel ganha novo fôlego à medida que governos, empresas e entidades culturais ampliam sanções em resposta à guerra em Gaza. De proibições comerciais a ameaças de boicote em eventos globais, analistas já comparam a pressão atual ao “momento África do Sul” que levou ao fim do apartheid.
Com um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional, o número de países que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu pode visitar sem risco de detenção diminuiu drasticamente. Paralelamente, Reino Unido, França, Austrália, Bélgica e Canadá planejam reconhecer o Estado da Palestina, movimento que sinaliza crescente desconforto diplomático.
Isolamento internacional de Israel se aproxima de ápice
A Bélgica iniciou em setembro um pacote de sanções que inclui veto a importações de assentamentos na Cisjordânia e restrições a ministros ultranacionalistas Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich. Dias depois, a Espanha transformou um embargo de armas em lei, proibiu escalas de navios com armamentos para Israel e barrou a entrada de suspeitos de crimes de guerra.
O impacto chega às finanças: o fundo soberano da Noruega, avaliado em US$ 2 tri, começou a retirar investimentos de empresas israelenses; 23 companhias já foram excluídas. Além disso, a União Europeia – principal parceira comercial de Israel – discute sancionar membros do governo e suspender partes do acordo de associação, atitude defendida publicamente pela presidente da Comissão, Ursula von der Leyen (fonte oficial).
Na esfera cultural, quatro países europeus ameaçam boicotar a edição de 2026 do Eurovision caso Israel participe. Em Hollywood, mais de 4 000 profissionais, entre eles Emma Stone e Javier Bardem, assinaram carta pedindo embargo a produtoras ligadas ao Estado israelense. No esporte, protestos encerraram prematuramente a Vuelta a España depois de manifestações contra a equipe Israel-Premier Tech.
Netanyahu e o chanceler Gideon Saar reagiram acusando as medidas de “obsessão antissionista”. Em conferência no Ministério da Fazenda, o premiê admitiu “algum grau de isolamento econômico” e defendeu investimentos em “operações de influência” para reverter a imagem negativa.
Diplomatas veteranos demonstram preocupação. Jeremy Issacharoff, ex-embaixador em Berlim, afirma não recordar um momento de credibilidade tão comprometida. Já Ilan Baruch, ex-chefe da missão na África do Sul, vê paralelos com as pressões que derrubaram o apartheid e defende sanções “assertivas” da Europa, mesmo que dolorosas.
Apesar da maré contrária, especialistas lembram que resistência interna na UE – liderada por Alemanha, Itália e Hungria – dificulta a adoção de punições mais severas, como a suspensão total do acordo de associação ou o bloqueio ao programa de pesquisa Horizon. Outra âncora para Tel Aviv é o apoio incondicional dos Estados Unidos, reafirmado pelo Secretário de Estado Marco Rubio em visita oficial.
Para Daniel Levy, ex-negociador de paz israelense, o “tsunami diplomático” é irreversível, mas ainda não atingiu força suficiente para alterar a estratégia militar em Gaza. “Netanyahu está ficando sem estrada, mas não chegamos ao fim dela”, resume.
No balanço, cresce a percepção de que Israel corre risco real de se tornar um pária, caso o conflito e a ocupação na Cisjordânia avancem sem solução política tangível.
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Crédito da imagem: Reuters