A adoção de ferramentas de inteligência artificial (IA) generativa está a afetar o acesso de jovens profissionais ao mercado de trabalho nos Estados Unidos. Um estudo da Universidade de Stanford, divulgado no mês passado, aponta para uma queda nas contratações de pessoas entre os 22 e os 25 anos em áreas muito expostas à automação.
Queda de 13% nas oportunidades para recém-chegados
De acordo com os investigadores, as vagas disponíveis para trabalhadores em início de carreira diminuíram 13% nos últimos três anos. A análise baseia-se em dados de folhas de pagamento de milhões de empregados em todo o país. O recuo começou a ser notório em 2022, ano em que várias empresas reduziram custos e ferramentas como o ChatGPT se popularizaram.
O levantamento mostra que o impacto se concentra em funções susceptíveis de serem automatizadas pela IA, em vez de apenas complementadas. Segmentos como programação de software e atendimento ao cliente registaram a maior retração. Nesta última área, os sistemas conversacionais conseguem resolver um elevado número de pedidos, reduzindo a necessidade de operadores humanos principiantes.
Programadores iniciantes entre os mais afetados
Entre os programadores que iniciam a carreira, a queda nas contratações aproximou-se dos 20% em julho deste ano, quando comparada com o pico observado nos últimos meses de 2022. O estudo frisa, no entanto, que esse padrão não se verifica para profissionais com mais experiência. Para estes, as ofertas permaneceram estáveis e, em alguns casos, até aumentaram.
Os autores sublinham que a distinta evolução entre faixas etárias sugere um efeito desigual da IA no mercado laboral. Enquanto a tecnologia automatiza tarefas rotineiras — frequentemente delegadas a empregados juniores — continua a depender de trabalhadores seniores para supervisionar sistemas, desenvolver modelos ou integrar soluções nos processos empresariais.
Sectores menos expostos beneficiam-se
O relatório também identifica cenários em que a IA está associada a um crescimento das contratações. Em ocupações onde os algoritmos funcionam como ferramenta de apoio, e não como substituto, registou-se aumento de oportunidades para todos os perfis, incluindo os mais jovens. Os auxiliares de enfermagem são apontados como exemplo: a tecnologia auxilia na gestão de registos ou no acesso a informação clínica, mas não automatiza o cuidado directo ao paciente.
Segundo os investigadores, estes casos evidenciam que o impacto da IA depende do grau de exposição de cada função às capacidades dos modelos generativos. Quando o sistema executa a totalidade da tarefa, existe maior probabilidade de eliminação de postos de entrada. Quando apenas agiliza parte do trabalho, pode libertar tempo para tarefas de maior valor acrescentado e até impulsionar novas contratações.
Implicações para o mercado e para a formação
Os autores afirmam que os resultados fornecem “evidências iniciais” de um impacto significativo e desproporcional sobre quem procura o primeiro emprego, corroborando alertas prévios de especialistas do setor. A longo prazo, esta dinâmica pode influenciar estratégias de formação: universidades e centros de ensino poderão rever programas para incluir competências complementares à IA, reforçando as hipóteses de empregabilidade.
Em paralelo, empresas que pretendam manter talento júnior terão de ajustar processos de integração e delinear responsabilidades que não sejam facilmente replicáveis por algoritmos. A investigação sublinha que, apesar da tendência observada, a tecnologia também abre portas para novas funções focadas em supervisão, personalização de modelos e avaliação de resultados.
A equipa de Stanford conclui que o impacto da inteligência artificial no emprego é heterogéneo: prejudica quem executa tarefas passíveis de total automação, mas pode beneficiar profissões onde atua como complemento. Nos próximos anos, o ritmo de adoção empresarial e a evolução das capacidades dos modelos serão decisivos para definir se o saldo final será negativo ou positivo para os trabalhadores em início de carreira.