Novas pesquisas apontam que a Elevação do Rio Grande, formação rochosa localizada a cerca de 1 200 quilómetros da costa brasileira e 650 metros abaixo da superfície do Atlântico, concentra quantidades significativas de terras raras. O achado reforça o potencial do Brasil, já detentor da segunda maior reserva mundial destes minerais, estimada em 21 milhões de toneladas.
Estudos sustentam origem continental
Artigos publicados nas revistas Scientific Reports e Social Science Research Network indicam que a estrutura submersa apresenta argila vermelha e outras características geológicas idênticas às da plataforma continental brasileira. As evidências sugerem que a elevação terá sido uma extensa ilha tropical há cerca de 40 milhões de anos, com dimensão comparável à da Islândia, antes de afundar gradualmente.
A confirmação da continuidade geológica é decisiva para a estratégia diplomática do Governo brasileiro. Desde 2018, Brasília solicita à Organização das Nações Unidas (ONU) a extensão da sua plataforma continental para além dos atuais 370 quilómetros de zona económica exclusiva, abrangendo toda a Elevação do Rio Grande. O território encontra-se hoje em águas internacionais sob gestão da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos.
Interesse económico e pressão internacional
Os depósitos identificados incluem cobalto, níquel, platina, selénio e nódulos ferro-manganês, essenciais para ímanes de alto desempenho, baterias de veículos elétricos, turbinas eólicas e equipamentos espaciais. A procura por estes materiais cresce, enquanto a oferta permanece concentrada: mais de 70 % da produção global provém da China, e os Estados Unidos enfrentam limitações de abastecimento.
Washington tem procurado diversificar fontes, estabelecendo acordos com a Ucrânia e manifestando interesse na Groenlândia. A possível ampliação das reservas brasileiras, caso seja reconhecida pela ONU, poderá alterar a dinâmica do mercado internacional e reduzir a dependência de poucos fornecedores.
Processo de reivindicação continua
Para que a Elevação do Rio Grande passe oficialmente a integrar a plataforma continental do Brasil, é necessário o parecer favorável da Comissão de Limites da Plataforma Continental, órgão técnico da ONU. O procedimento envolve análise de dados sísmicos, amostras de sedimentos e documentação cartográfica. Não há prazo definido para a decisão.
Enquanto isso, a exploração comercial permanece proibida. Qualquer atividade mineira numa área ainda classificada como internacional requer autorização da Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos e depende de regras ambientais rigorosas. Caso a extensão seja aprovada, a gestão dos recursos ficará sob jurisdição exclusiva do Brasil.
Impacto potencial para o país
O reconhecimento da Elevação do Rio Grande como extensão natural do território pode reforçar a posição do Brasil na cadeia global de fornecimento de metais críticos, atrair investimento em tecnologia de extração em águas profundas e abrir margem de negociação em disputas comerciais, incluindo tarifárias. Para já, a comunidade científica continua a reunir provas, enquanto o governo prepara argumentação técnica adicional para apresentar nas Nações Unidas.

Imagem: Joaquin Corbalan via olhardigital.com.br