IA revoluciona gestão de frotas no Brasil com dados em tempo real
A gestão de frotas brasileira passa por uma mudança profunda. Tecnologias de telemática, inteligência artificial e videotelemática substituem processos antes limitados a papel, caneta e tacógrafo, oferecendo monitorização detalhada de veículos e motoristas numa escala inédita.
Dos tacógrafos à telemática avançada
Durante décadas, o tacógrafo em disco de papel foi o principal recurso para registar velocidade e horários de autocarros e camiões. Embora permitisse confirmar excessos de velocidade ou desvios de rota, tratava-se de uma solução passiva e de curto alcance. A transição para a telemática alterou esse cenário. Em vez de apenas registar o trajecto entre dois pontos, os dispositivos actuais captam informação sobre uso do cinto de segurança, travagens bruscas, consumo de combustível, estado dos pneus, activação dos limpa-pára-brisas e tempo de ralenti, entre outros indicadores.
A canadiana Geotab, presente em mais de cinco milhões de viaturas no mundo, exemplifica essa evolução. Segundo a empresa, são recolhidos cerca de 75 mil milhões de pontos de dados por dia a nível global. No Brasil, as falhas de conectividade não travam a recolha: cada veículo consegue armazenar localmente até 85 mil registos, o equivalente a cerca de um mês de operação, e transmiti-los assim que o sinal é reposto.
Dados que poupam vidas, tempo e dinheiro
A vasta quantidade de informação serve três objectivos principais: segurança, eficiência e sustentabilidade. Câmaras voltadas para o condutor detectam sinais de sonolência, uso de telemóvel ou distracções e podem emitir alertas imediatos, reduzindo o risco de colisões. Sensores de motor e travões permitem prever avarias, evitando paragens não programadas e custos de oficina.
No consumo de combustível, a análise de estilos de condução, rotas e períodos de ralenti ajuda a baixar despesas e emissões. Empresas com metas ambientais beneficiam de relatórios que medem e comparam o impacto de cada viatura, validando planos de redução de carbono.
Casos de adopção por clientes como Mercado Livre e PepsiCo na América Latina mostram retorno financeiro tangível: cada segundo ganho em entregas, cada litro de diesel poupado e cada acidente evitado contribuem para amortizar rapidamente o investimento em telemática avançada.
Barreira cultural mantém potencial por explorar
Apesar da oferta tecnológica, o maior obstáculo continua a ser cultural. Muitos gestores ainda associam controlo de frota apenas à localização da carga. Especialistas defendem a necessidade de dashboards personalizados que apresentem métricas adaptadas a cada realidade operacional. A pergunta central deixa de ser “Onde está o veículo?” e passa a ser “Qual é o meu problema prioritário — segurança, combustível ou disponibilidade — e como os dados o resolvem?”.
Outro desafio reside na idade média da frota nacional: 12,2 anos, atingindo 16 anos entre motoristas autónomos, segundo dados de entidades do sector. A modernização de veículos, incluindo motorização eléctrica, traz novas variáveis a monitorizar, como autonomia de bateria, tempo de recarga e consumo energético, ampliando o escopo das plataformas de gestão.
Brasil transforma-se em laboratório de inovação
Com mais de 1,2 milhão de quilómetros de rodovias, condições climáticas diversas e desafios logísticos característicos de um país continental, o Brasil oferece um ambiente robusto para testar soluções de transporte orientadas por dados. A combinação de longas distâncias, infra-estrutura desigual e procura crescente por eficiência torna-o um mercado estratégico para fornecedores de tecnologia automóvel.
Especialistas do sector consideram que as empresas que adoptarem modelos de decisão suportados por dados ganharão vantagem competitiva. O processo inclui seleccionar indicadores relevantes, formar equipas para interpretar relatórios e alinhar a cultura corporativa com metas de segurança, custo e sustentabilidade.
A substituição de registos manuais por análises em tempo real marca uma viragem na logística rodoviária. O avanço da inteligência artificial e da telemática promete reduzir acidentes, optimizar rotas, cortar emissões e prolongar a vida útil dos veículos, desenhando um novo paradigma para o transporte de mercadorias no Brasil.

Imagem: tecmundo.com.br