IA generativa reduz tráfego dos sites de notícias e força nova estratégia de otimização

Assistentes de inteligência artificial capazes de gerar respostas completas estão a mudar o modo como as pessoas pesquisam informação, com impacto direto nos portais de notícias que dependem de cliques e publicidade. Especialistas do setor preveem anos particularmente difíceis para a imprensa, que procura agora adaptar-se para não perder relevância nem receitas.

Queda de tráfego e receitas publicitárias

Matt Karolian, vice-presidente de investigação e desenvolvimento do Boston Globe Media, antecipa “três a quatro anos extremamente desafiantes” para publicações de todas as dimensões. A preocupação assenta na diminuição dos acessos vindos de motores de busca tradicionais, cenário confirmado por um estudo do Pew Research Center. Segundo o instituto, muitos utilizadores consideram suficientes os resumos exibidos no topo dos resultados por sistemas baseados em IA, reduzindo em cerca de 50 % a frequência de cliques em artigos completos.

A quebra de visitas traduz-se em menor visibilidade para os anúncios e, consequentemente, em receitas publicitárias mais baixas. Para sites cujo modelo de negócio depende largamente dessa fonte de rendimento, a alteração de hábitos de leitura coloca em risco a sustentabilidade a curto prazo.

A resposta dos meios: GEO substitui SEO

Perante o novo contexto, começou a ganhar força o conceito de Generative Engine Optimization (GEO). A estratégia mantém o princípio de tornar o conteúdo encontrável, mas foca-se em estruturar textos com etiquetas e dados que facilitem a interpretação pelos modelos de IA. Inclui ainda presença ativa em redes sociais e fóruns, onde os algoritmos recolhem informação adicional para alimentar as respostas.

Thomas Peham, diretor da startup OtterlyAI, observa que as publicações representam hoje cerca de 29 % dos links citados pelo ChatGPT, valor inferior aos 36 % atribuídos a sites corporativos. O dado sugere que organizações empresariais estão a adaptar-se mais rapidamente às exigências da nova pesquisa conversacional.

Ao mesmo tempo, o Instituto Reuters indica que aproximadamente 15 % dos jovens com menos de 24 anos já recorrem a IA generativa como fonte principal de notícias, percentagem que deverá aumentar. Estes números reforçam a urgência de ajustar formatos e canais de distribuição para captar leitores que deixam de passar pelo motor de busca tradicional.

Negociações, processos e um impasse estratégico

Os órgãos de comunicação enfrentam um dilema: permitir a indexação integral do seu conteúdo—correndo o risco de perder tráfego direto—ou bloquear os rastreadores e ficar fora das respostas fornecidas pela IA, reduzindo a visibilidade da marca. Enquanto ponderam a melhor opção, advogados e editores procuram formas de ser compensados pelo uso de material protegido por direitos de autor.

Avançam, assim, duas frentes paralelas. De um lado, negociações para acordos de licenciamento, como os estabelecidos entre a Associated Press e a Google ou as conversações reportadas entre o The New York Times e empresas tecnológicas. Do outro, ações judiciais contra programadores de modelos de linguagem que utilizaram bases de dados jornalísticas sem autorização expressa.

Apesar das divergências, há consenso sobre um ponto: as plataformas de IA precisam de jornalismo de qualidade para continuar a fornecer respostas fiáveis. Karolian sublinha que, sem repórteres no terreno, “não haverá nada para resumir”. O desafio passa por criar um modelo de remuneração que reconheça esse papel sem comprometer a experiência do utilizador que procura respostas rápidas.

Perspetivas para os próximos anos

Os especialistas admitem que a fase de transição obrigará as redações a testar novos formatos, desde newsletters geradas por IA a pacotes de artigos otimizados para assistentes virtuais. Embora algumas experiências já resultem em subscrições adicionais, os números continuam modestos em comparação com as receitas obtidas pelos canais tradicionais.

Entretanto, a Google trabalha em integrar conteúdos jornalísticos no seu próprio sistema de IA, numa tentativa de conciliar interesses e garantir sustentabilidade a longo prazo. A forma como estes acordos evoluem poderá definir o equilíbrio entre conveniência para o leitor e viabilidade económica para quem produz a informação.

Até lá, a imprensa procura encontrar o ponto de equilíbrio entre abrir portas à tecnologia e preservar o tráfego que alimenta as redações. O sucesso dessa estratégia determinará qual o peso do jornalismo humano num ecossistema cada vez mais dominado por respostas automáticas.

IA generativa reduz tráfego dos sites de notícias e força nova estratégia de otimização - Imagem do artigo original

Imagem: olhardigital.com.br

Posts Similares

Deixe uma resposta

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.