IA brasileira avalia agressividade do cancro e pode orientar tratamentos

Cientistas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP), em colaboração com a Poznan University of Medical Sciences, desenvolveram uma plataforma de inteligência artificial capaz de aferir o grau de agressividade de vários tipos de cancro. A ferramenta, baptizada de PROTsi, recorre à análise de proteínas tumorais para estimar o potencial de propagação e resistência da doença.

Método baseia-se no índice “stemness”

O PROTsi calcula um indicador conhecido por stemness, que traduz o nível de semelhança entre as células malignas e células-tronco. Valores elevados sugerem maior capacidade de adaptação e, consequentemente, tumores mais difíceis de controlar. Ao focar-se nas proteínas, o sistema trabalha directamente com os produtos que a célula efectivamente utiliza, evitando as variações encontradas em análises de ADN ou ARN.

Para treinar o modelo, a equipa examinou 1 134 amostras distribuídas por 11 tipos de cancro. Os dados obtidos permitiram identificar padrões proteicos associados ao comportamento das células tumorais e distinguir tecido saudável de tecido doente.

Desempenho destacado em cabeça, pescoço e endométrio

Embora o algoritmo tenha apresentado bons resultados em todos os tumores avaliados, os desempenhos de topo surgiram nos cancros do endométrio e nos chamados tumores de cabeça e pescoço. Este último grupo ocupa a terceira posição entre os cancros mais frequentes no Brasil, o que realça a relevância clínica da descoberta.

Além de prever a agressividade, o PROTsi identificou proteínas presentes apenas em casos mais avançados. Várias dessas moléculas já são alvo de fármacos utilizados noutras patologias, abrindo caminho à reutilização terapêutica em oncologia.

Próximos passos requerem validação clínica

Apesar dos resultados encorajadores, os autores sublinham que a tecnologia necessita de estudos adicionais em novas populações. Testes com doentes de diferentes regiões do Brasil estão previstos para confirmar a robustez do modelo e aferir o seu impacto na decisão clínica.

Publicado na revista Cell Genomics, o trabalho reforça a tendência de incorporar inteligência artificial no diagnóstico e tratamento do cancro. Caso os ensaios clínicos confirmem a eficácia do PROTsi, os médicos poderão dispor de mais uma ferramenta objectiva para escolher terapias personalizadas e melhorar o prognóstico dos pacientes.

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