Hubble registra detalhes inéditos do cometa 3I/ATLAS, terceiro visitante interestelar do Sistema Solar

cometa 3I/ATLAS foi flagrado novamente pelo Telescópio Espacial Hubble a poucas semanas de sua maior aproximação da Terra, reforçando o status de terceiro objeto interestelar já reconhecido em nosso Sistema Solar e trazendo novos dados sobre composição, velocidade e rota de saída.
- Descoberta do cometa 3I/ATLAS e confirmação de origem interestelar
- Campanha global de telescópios terrestres acompanha cada movimento do visitante
- Observatórios espaciais e imagens de alta definição do Hubble
- Composição química revela dióxido de carbono abundante e elementos inusitados
- Passagens críticas: máxima aproximação à Terra e futuro encontro com Júpiter
- Discussão sobre classificação: cometa ou asteroide em atividade?
Descoberta do cometa 3I/ATLAS e confirmação de origem interestelar
O cometa 3I/ATLAS entrou no radar dos astrônomos em julho, quando sistemas automáticos de vigilância do céu detectaram um ponto luminoso com comportamento fora do padrão dos corpos criados ao redor do Sol. A trajetória, calculada a partir das primeiras medições de posição, revelou uma órbita hiperbólica — configuração típica de viajantes que chegam de além da nuvem de Oort, região onde termina a influência gravitacional dominante da nossa estrela. Essa geometria orbital confirmou que o objeto não é ligado gravitacionalmente ao Sol e, portanto, tem procedência externa ao Sistema Solar.
Na sequência da identificação preliminar, a União Astronômica Internacional atribuiu a designação 3I/ATLAS, indicando tratar-se do terceiro “Interestelar” catalogado, depois de ’Oumuamua, em 2017, e do cometa 2I/Borisov, em 2019. O sufixo ATLAS refere-se à rede Asteroid Terrestrial-impact Last Alert System, responsável pelo alerta inicial.
Campanha global de telescópios terrestres acompanha cada movimento do visitante
Imediatamente após a descoberta, a Agência Espacial Europeia (ESA) mobilizou uma campanha internacional para refinar os parâmetros orbitais do cometa 3I/ATLAS. Observatórios no Havaí, no Chile e na Austrália sincronizaram agendas para realizar medições fotométricas e astrométricas diárias. Esses registros permitiram reduzir incertezas sobre velocidade e direção, essenciais para prever quando o corpo chegaria ao ponto mais próximo da Terra e quando atravessaria a órbita de Júpiter.
Ao longo de novembro, conforme o objeto emergia do brilho solar, a liberação de gases aumentou e a coma tornou-se mais evidente. O fenômeno ampliou o contraste do cometa contra o fundo celeste, facilitando a coleta de espectros de alta resolução a partir do solo. Esses dados complementaram as curvas de luz obtidas durante a fase inicial da campanha.
Observatórios espaciais e imagens de alta definição do Hubble
Com telescópios terrestres garantindo o monitoramento de rotina, a atenção voltou-se para plataformas fora da atmosfera. O Telescópio Espacial Hubble, operado pela NASA em cooperação com a ESA, capturou uma primeira sequência em agosto, quando o 3I/ATLAS estava a cerca de 445 milhões de quilômetros da Terra. A câmera WFC3 registrou detalhes na zona central da coma e na cauda, fundamentais para estudar atividade cometária em objeto de origem externa.
Em 30 de novembro, o Hubble retornou ao alvo e produziu a imagem de maior definição até agora, enquanto o cometa cruzava a 286 milhões de quilômetros do nosso planeta. O registro ocorre poucos dias antes da máxima aproximação, prevista para esta sexta-feira, a 270 milhões de quilômetros de distância — quase o dobro do intervalo médio Terra-Sol — sem representar risco de impacto. Além do Hubble, a ESA mantém acompanhamento com o observatório de raios X XMM-Newton e com a missão XRISM, operada pela agência espacial japonesa (JAXA). Sondas em órbita de Marte também coletaram dados durante a recente passagem pelo planeta vermelho.
Composição química revela dióxido de carbono abundante e elementos inusitados
Análises espectroscópicas apontam que o cometa 3I/ATLAS exibe proporção atípica entre dióxido de carbono e água. Enquanto cometas formados no Sistema Solar costumam liberar grandes quantidades de vapor d’água ao se aquecer, o 3I/ATLAS demonstra menor atividade hídrica, porém significativa emissão de CO2. Observações também registraram presença de níquel atômico, sinal que reforça a hipótese de origem em ambiente químico diferente daquele que moldou os corpos gelados da nossa vizinhança.
A distribuição de partículas e gases detectada fornece pistas sobre as condições de temperatura e pressão na região natal do objeto, permitindo comparar modelos de formação de planetesimais em outros sistemas estelares. O contraste com as composições médias dos cometas de longo período da nuvem de Oort torna o 3I/ATLAS um laboratório natural para astrofísicos investigarem diversidade química em escalas interestelares.
Passagens críticas: máxima aproximação à Terra e futuro encontro com Júpiter
O cronograma orbital indica que a maior aproximação do 3I/ATLAS com a Terra ocorre nesta sexta-feira, quando o visitante interestelar atingirá 270 milhões de quilômetros de distância. Essa separação é insuficiente para produzir brilho visível a olho nu, mas adequada para medições em banda óptica e infravermelha por instrumentos de grande abertura. Logo após o periastro — ponto de maior proximidade com o Sol — o objeto inicia trajetória de saída definitiva do Sistema Solar.
Em março de 2026, os cálculos apontam a passagem pela órbita de Júpiter, representando o último contato dinâmico relevante com um corpo significativo do nosso sistema. A interação gravitacional com o planeta gigante poderá alterar levemente a velocidade de fuga, mas não o bastante para retê-lo. Depois desse encontro, o 3I/ATLAS mergulhará no espaço interestelar, onde deverá permanecer sem novos retornos previsíveis.
Discussão sobre classificação: cometa ou asteroide em atividade?
Estudo recente, baseado em imagens de alta resolução, levantou a hipótese de que parte das feições superficiais observadas no 3I/ATLAS lembraria estruturas mais comuns em asteroides do que em cometas tradicionais. A possibilidade acendeu debate momentâneo na comunidade, mas não houve proposta formal de reclassificação. Conforme explicado por astrônomos envolvidos nas observações nacionais, o comportamento geral — coma visível e emissão de gases — mantém o objeto dentro dos critérios estabelecidos para cometas, ainda que apresente peculiaridades químicas.
A discussão, no entanto, destaca como cada novo visitante interestelar expande as fronteiras de comparação entre pequenos corpos. Ao contrastar 3I/ATLAS com 1I/’Oumuamua e 2I/Borisov, pesquisadores notam espectro de características que vai de objetos inativos a corpos com atividade gasosa intensa, reforçando a necessidade de observações multiespectrais sempre que um forasteiro cruza nossa vizinhança.
Com as últimas imagens coletadas em alta resolução e a previsão de passagem pela órbita de Júpiter em março de 2026, o cometa 3I/ATLAS seguirá recebendo atenção até sair do alcance dos principais telescópios, quando se despedirá definitivamente do Sistema Solar.

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