HIV em Fiji: drogas injetáveis impulsionam surto recorde

HIV em Fiji: drogas injetáveis impulsionam surto recorde é a expressão que resume a nova crise sanitária no arquipélago do Pacífico, onde os diagnósticos cresceram de menos de 500, em 2014, para cerca de 5.900 em 2024.
Somente no ano passado foram identificados 1.583 novos casos, 41 deles em menores de 15 anos. O ministério da Saúde classificou o avanço da doença como “surto” em janeiro, enquanto o vice-ministro Penioni Ravunawa alertou para a possibilidade de ultrapassar 3.000 registros adicionais até o fim de 2025.
HIV em Fiji: drogas injetáveis impulsionam surto recorde
Especialistas ouvidos pela BBC relacionam a escalada a práticas perigosas como o compartilhamento de agulhas, o chemsex (uso de metanfetamina durante relações sexuais) e o “bluetoothing” — retirada de sangue após a injeção da droga para aplicação em outra pessoa. A falta de programas de distribuição de seringas, dificultada por pressões policiais e valores religiosos, contribui para o problema.
Segundo o Ministério da Saúde, 20% dos 1.093 novos casos registrados nos primeiros nove meses de 2024 decorreram diretamente do uso intravenoso de drogas. Relatório da Organização Mundial da Saúde indica que intervenções de redução de danos, como pontos de troca de seringas, são essenciais para conter a transmissão, mas a implantação em Fiji segue lenta.
Nos últimos 15 anos, o país transformou-se em rota de tráfico de cristal, situado entre grandes produtores asiáticos e mercados de alto valor na Oceania. A droga barata e acessível atinge faixas etárias cada vez mais jovens, segundo a ONG Drug Free Fiji, que distribui preservativos e equipamento esterilizado nas ruas de Suva.
A carência de pessoal, testes rápidos e medicamentos dificulta o diagnóstico precoce e o tratamento. Para José Sousa-Santos, da University of Canterbury, o sistema de saúde local não dispõe de recursos para enfrentar a “avalanche” de infecções que deve aparecer nos próximos anos.
Apesar do aumento de testagens e da maior conscientização, organizações comunitárias temem que os números oficiais reflitam apenas parte da realidade, alimentando incertezas sobre a real dimensão da epidemia.
No cenário atual, fortalecer a educação sexual, ampliar a distribuição de seringas e garantir estoques de antirretrovirais são passos urgentes para conter o avanço do HIV em Fiji. Para acompanhar outras análises sobre saúde pública e tecnologia, visite nossa editoria de Ciência e Tecnologia e continue informado.
Crédito da imagem: Getty Images
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