História real de A Mula chega ao centro das atenções desde que o longa de Clint Eastwood foi incluído no catálogo da Netflix. O filme retrata um idoso que, à primeira vista, parece inofensivo, mas que se torna peça-chave no tráfico internacional de drogas. O roteiro se inspira na vida de Leo Sharp, veterano da Segunda Guerra Mundial que acabou recrutado pelo cartel de Sinaloa já na terceira idade.
Lançado em 2018, o filme dramatiza eventos que ocorreram por quase uma década. Entre 2001 e 2011, Sharp transportou grandes carregamentos de cocaína pelos Estados Unidos, usando sua aparência pacata para despistar a polícia. A história verídica, no entanto, apresenta detalhes ainda mais impressionantes do que a versão de Hollywood.
História real de A Mula: a trajetória de Leo Sharp
Nascido em 1924, Leo Sharp serviu no front italiano durante a Segunda Guerra e foi condecorado por bravura. Ao retornar, dedicou-se à horticultura e ganhou fama pelo cultivo de lírios-do-dia, flores que lhe renderam prêmios e reconhecimento entre colecionadores. O sucesso, porém, começou a ruir com mudanças de mercado e a chegada da internet, fazendo suas finanças desmoronarem.
Nesse cenário de dificuldades, emissários do cartel de Sinaloa perceberam em Sharp o mensageiro ideal: discreto, experiente ao volante e fora do radar das autoridades. Já octogenário, ele aceitou conduzir pequenas cargas, que evoluíram rapidamente para volumes de cerca de 250 quilos de cocaína por viagem. Pelo serviço, recebia em média US$ 1 mil por quilo entregue e ganhou o apelido de “El Tata”.
Ao longo de quase dez anos, o horticultor transformou-se em lenda dentro da organização criminosa. A cada nova missão concluída, reforçava a crença de que idosos passariam despercebidos em patrulhas rodoviárias. O disfarce ruiu em 2011, quando agentes da DEA interceptaram sua caminhonete Lincoln repleta de drogas em uma rodovia de Michigan.
Preso, Sharp confessou participação nos crimes e foi condenado a três anos de reclusão. Segundo reportagem do The New York Times, sua defesa chegou a propor que ele pagasse a pena cultivando papaias para o governo no Havaí, sugestão negada pela Justiça. Libertado em 2015 por motivos de saúde, morreu em 2016, aos 92 anos, vítima de doença terminal.
É nesse ponto que realidade e ficção se distanciam. No filme, Clint Eastwood interpreta Earl Stone, veterano da Guerra da Coreia com laços familiares conflituosos e apenas algumas viagens ilícitas registradas. A adaptação condensa dez anos de crimes em poucos meses e adiciona camadas de drama e redenção ausentes na biografia do verdadeiro Sharp. Ainda assim, o núcleo permanece: um idoso aparentemente irrepreensível que enganou as autoridades e movimentou toneladas de cocaína.
O caso de Leo Sharp segue como um dos exemplos mais curiosos de como idade avançada e aparência dócil podem mascarar atividades ilegais em larga escala.
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Crédito da imagem: ABC / Warner Bros.