Hipotermia: como o corpo reage até a morte por frio

Hipotermia é o nome dado à queda da temperatura corporal central abaixo de 35 °C, condição que, se não revertida, pode progredir lentamente até a falência de órgãos vitais e a morte. O organismo, projetado para funcionar em torno de 37 °C, luta minuto a minuto para preservar calor, mas perde a batalha quando a exposição ao frio supera a capacidade de produção térmica.
Nessas situações, o corpo lança mão de estratégias automáticas: vasoconstrição periférica, tremores musculares intensos e redução do fluxo sanguíneo para pele e extremidades. A perda de calor ocorre por condução, convecção, radiação e evaporação, mecanismos que se somam a ventos fortes, roupas molhadas ou contato prolongado com superfícies geladas.
Hipotermia: como o corpo reage até a morte por frio
No estágio inicial, entre 35 °C e 33 °C, predominam tremores, fala arrastada e falta de coordenação. A pessoa ainda está consciente, mas já demonstra fadiga e pele fria. Caso não seja aquecida rapidamente, a hipotermia evolui para o nível moderado, de 32 °C a 30 °C, quando surgem confusão mental, lapsos de memória e o chamado “despimento paradoxal”, sensação ilusória de calor que leva a vítima a remover as roupas, acelerando a perda térmica.
Se a temperatura central desce abaixo de 28 °C, instala-se a hipotermia grave. Batimentos cardíacos e respiração ficam tão lentos que arritmias fatais são comuns, os rins praticamente cessam a filtragem do sangue e o cérebro entra em torpor profundo. Nesse ponto, tremores desaparecem, indicando exaustão energética; sem intervenção médica, a parada cardiorrespiratória é iminente.
Curiosamente, relatos de sobreviventes descrevem que a dor intensa dos primeiros minutos cede lugar a entorpecimento e sensação de calma, resultado da liberação de endorfinas e do declínio da atividade cerebral. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse torpor pode dar a falsa impressão de que a vítima está apenas adormecida, tornando o resgate ainda mais urgente.
Outro risco crítico é o “afterdrop”. Ao aquecer bruscamente um paciente em estágio avançado, o sangue frio das extremidades retorna ao tronco e pode provocar nova queda da temperatura interna, desencadeando colapso cardíaco. Por isso, protocolos recomendam aquecer primeiro o tórax, usando cobertores ou fluidos intravenosos aquecidos, antes de restaurar a circulação periférica.
Prevenção continua sendo a melhor estratégia. Vestir várias camadas, manter-se seco, abrigar-se do vento, ingerir alimentos energéticos e monitorar idosos, crianças e pessoas em situação de rua reduzem drasticamente os riscos. Em montanhas, mares ou ambientes hospitalares frios, atenção constante à temperatura corporal faz diferença entre recuperação e tragédia.
Hipotermia é, portanto, um processo gradual e silencioso que expõe a vulnerabilidade humana, mas também mostra a engenhosidade dos mecanismos de defesa do organismo. Ao reconhecer sinais precoces e agir depressa, é possível quebrar o ciclo de perda de calor e evitar o desfecho fatal.
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Crédito: 3dMediSphere (Shutterstock/reprodução)
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