Google lança primeiro anúncio publicitário criado inteiramente com inteligência artificial para a campanha Just Ask Google

Um vídeo publicitário produzido do início ao fim por sistemas internos de inteligência artificial marca a entrada definitiva do Google na criação de campanhas sem etapas artesanais de filmagem. O material inaugura uma nova fase da estratégia de comunicação da empresa, ao integrar o portfólio de peças da iniciativa Just Ask Google e, ao mesmo tempo, assumir o caráter experimental de bastidores que antes era restrito a testes. O protagonista da história é um peru de pelúcia que tenta escapar do tradicional jantar de Ação de Graças, numa narrativa de tom leve que dialoga com clássicos animados de fim de ano.
- Quem está por trás da produção
- O que foi criado
- Quando e onde o anúncio será exibido
- Como a inteligência artificial foi aplicada
- Por que adotar uma abordagem totalmente automatizada
- Decisão de não rotular o uso de IA
- Limites estabelecidos pela própria empresa
- Equilíbrio entre tecnologia e criatividade humana
- Pontos que definem a nova peça do Google
- Perspectivas para o setor de publicidade
Quem está por trás da produção
A responsabilidade pelo conceito e pela execução recaiu sobre o Google Creative Lab, divisão interna voltada à criação de experiências de marca. O grupo contou com a participação direta de Robert Wong, cofundador e vice-presidente da área, que conduziu a escolha dos recursos e definiu o escopo do uso de IA na peça. Segundo a liderança da equipe, a decisão de empregar tecnologia generativa não foi o ponto de partida; inicialmente, o roteiro e o visual foram concebidos de modo convencional e, somente depois, as ferramentas de automação entraram em cena para materializar frames, movimento e trilha sonora.
O que foi criado
O filme publicitário apresenta um peru de pelúcia que, diante da proximidade do feriado de Thanksgiving, desenvolve estratégias de fuga para não acabar à mesa. Ao adotar um animal de brinquedo em vez de figuras humanas hiper-realistas, a equipe buscou driblar o chamado uncanny valley — sensação de estranhamento que ocorre quando personagens digitais se aproximam demais da aparência real, sem atingir perfeição. A estilização permite maior liberdade estética e reforça o caráter lúdico pretendido.
Quando e onde o anúncio será exibido
A veiculação na televisão começa imediatamente após a finalização da campanha. A partir do sábado subsequente, o conteúdo alcançará salas de cinema, redes sociais e demais plataformas digitais administradas ou contratadas pelo Google. Para ampliar o calendário sazonal, uma versão com ambientação natalina está programada como sequência direta, aproveitando o mesmo universo visual e as funções de IA que sustentam a produção inicial.
Como a inteligência artificial foi aplicada
O principal recurso tecnológico empregado foi o Veo 3, solução proprietária capaz de gerar vídeos a partir de prompts de linguagem natural e ajustes finos de estilo. O sistema interpretou descrições de cenário, texturas, cores e movimentação, produzindo takes completos que dispensaram filmagens físicas. Outras ferramentas internas complementaram o fluxo, automatizando elementos de pós-produção, como composição de camadas, correção de cor e mixagem de áudio.
Até este projeto, o Google costumava restringir a IA a versões conceituais ou storyboards evoluídos. Nessas etapas, as sequências eram posteriormente regravadas com atores, diretores de fotografia e equipes tradicionais. A peça do peru de pelúcia rompe esse modelo ao migrar do laboratório para a mídia final sem intervenção humana de captação, posicionando-se como o primeiro anúncio 100 % gerado por IA da companhia.
Por que adotar uma abordagem totalmente automatizada
A iniciativa atende a dois objetivos complementares. Em primeiro lugar, busca tornar os recursos de IA do buscador mais tangíveis para públicos que ainda demonstram cautela diante da tecnologia. Ao apresentar uma trama emocional e familiar, o Google procura dissociar a ideia de que algoritmos geram conteúdos frios ou impessoais. Em segundo lugar, a peça serve como prova de conceito interna, testando a robustez das ferramentas quando expostas a prazos e exigências de campanha que, tradicionalmente, dependem de estúdios externos.
Decisão de não rotular o uso de IA
A ausência de um selo que informe explicitamente a participação do Veo 3 é um ponto central. De acordo com Robert Wong, a audiência se envolve mais com a história do que com a tecnologia que a viabiliza. Exibir um aviso poderia reduzir o filme a uma demonstração de produto, em vez de preservá-lo como narrativa. O Google aposta que, ao ocultar o bastidor, a mensagem de marca ganha força e evita o rótulo de experimento.
Limites estabelecidos pela própria empresa
Embora o lançamento seja considerado um marco, a companhia reforça que não pretende abandonar processos tradicionais. A diretriz é tratar a inteligência artificial como ferramenta complementar — comparável ao lugar ocupado hoje por softwares de edição —, e não como substituto absoluto da mão de obra criativa. A liderança do Creative Lab reconhece que peças de má qualidade existiam antes da era generativa e continuarão a surgir, o que torna irrelevante uma corrida para reduzir custos a qualquer preço.
Equilíbrio entre tecnologia e criatividade humana
O debate interno reflete questionamentos mais amplos sobre o futuro da publicidade. Outras marcas já exploravam o Veo 3 e soluções como o Sora em campanhas recentes, pressionando o mercado a experimentar. Mesmo assim, muitos desses primeiros anúncios enfrentaram críticas por representações de pessoas com aparência quase real, agravando o desconforto do público. O Google, ao optar por animação estilizada, tenta demonstrar que é possível inovar sem provocar estranhamento.
Pontos que definem a nova peça do Google
• Primeiro anúncio completo feito por IA dentro da empresa;
• Criação viabilizada pelo Veo 3 e por outras ferramentas internas;
• Personagem principal: peru de pelúcia em fuga do jantar de Ação de Graças;
• Exibição imediata na TV e, em seguida, em cinemas e ambientes online;
• Integração à campanha Just Ask Google;
• Ausência de sinalização de uso de IA no vídeo final;
• Continuidade prevista com uma versão de Natal;
• Compromisso declarado de manter métodos tradicionais em paralelo.
Perspectivas para o setor de publicidade
A decisão do Google de levar um anúncio inteiramente gerado por IA à televisão e ao cinema coloca a companhia no centro da discussão sobre caminhos futuros da indústria. Se, por um lado, demonstra a maturidade técnica das ferramentas internas, por outro, instala parâmetros de comparação para avaliar ganhos de tempo, custo e qualidade frente a produções convencionais. Agências e anunciantes podem observar o desempenho da campanha — alcance, engajamento e receptividade — como termômetro para calibrar suas próprias apostas em automação.
Ao sublinhar que a tecnologia deve permanecer invisível para o público, a empresa enfatiza que a experiência do espectador continua no topo da hierarquia de decisões. A narrativa do peru de pelúcia, portanto, funciona como estudo de caso sobre como contar histórias sazonais, despertar emoção e, ainda assim, evidenciar o potencial prático da inteligência artificial sem recorrer a discursos técnicos.
Nesse contexto, o equilíbrio que o Google pretende alcançar — usar IA como mais uma ferramenta no repertório criativo, sem substituir integralmente a participação humana — assume papel de bússola para iniciativas futuras. O lançamento oferece um olhar concreto sobre os limites e as possibilidades de unir algoritmos generativos e estratégias de marca, sinalizando que inovação e tradição podem conviver no mesmo plano quando orientadas por objetivos narrativos claros.
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