Globo prepara GE TV e leva transmissões desportivas para o YouTube

Rio de Janeiro – A Globo está a desenvolver um novo projecto digital, designado GE TV, que pretende reforçar a presença do grupo no YouTube através de transmissões desportivas em directo e conteúdos de formato mais informal.

Modelo inspirado no êxito da CazéTV

O plano surge na sequência do sucesso da CazéTV, canal liderado pelo streamer Casimiro Miguel em parceria com a empresa Livemode. Com 21,8 milhões de subscritores, a CazéTV consolidou-se como referência na plataforma de vídeo graças à combinação de eventos desportivos, reacções em tempo real e debates descontraídos. Entre as transmissões já realizadas contam-se os Jogos Olímpicos e o Mundial de Clubes.

A Globo, que detém o tradicional Globo Esporte em sinal aberto, pretende replicar parte desta fórmula no ambiente digital. A estação confirmou ao portal F5 que GE TV está em fase de desenvolvimento, embora sem revelar calendário de lançamento ou pormenores sobre a grelha inicial.

Estrutura e equipa em definição

Segundo informações recolhidas pela mesma publicação, a emissora planeia utilizar o canal existente do Globo Esporte no YouTube, que soma 6,2 milhões de subscritores, passando a oferecer programação regular em vez de apenas excertos de jogos. A aposta inclui transmissões em directo com linguagem acessível, mistura de influenciadores digitais e profissionais do jornalismo desportivo e interacção constante com a audiência através do chat da plataforma.

A composição do elenco ainda não está fechada. A Globo prevê recrutar rostos novos para diferenciar o projecto da versão televisiva, reduzindo a participação de nomes já associados ao Globo Esporte. Uma das poucas excepções avaliadas é Fred Bruno, apresentador que transita entre televisão e ambiente digital. A contratação ou não de perfis adicionais dependerá do resultado dos testes internos nas próximas semanas.

Foco em transmissões ao vivo

O objectivo principal do GE TV é consolidar-se como destino para eventos desportivos em tempo real, acompanhados por comentários imediatos e formatos curtos de análise. Este posicionamento visa atrair sobretudo o público mais jovem, habituado a consumir conteúdo desportivo em dispositivos móveis e a interagir simultaneamente nas redes sociais.

Elementos como watch-alongs, programas de balanço pós-jogo e desafios com criadores de conteúdo deverão compor a grelha. A emissora estuda ainda a integração de dados estatísticos e elementos gráficos próprios do ambiente digital, bem como a possibilidade de parcerias com ligas e clubes para garantir direitos de transmissão exclusivos.

Mudança de hábitos do consumidor

A decisão da Globo surge num contexto de alteração significativa nos hábitos de consumo de conteúdos no Brasil. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicam que, desde 2016, o número de assinantes de televisão paga caiu de 22,2 milhões para 18,3 milhões. Em sentido inverso, os serviços de streaming e plataformas de vídeo online registam crescimento contínuo.

Para os grupos de comunicação, a migração de audiências para o ambiente digital impõe a necessidade de modelos de negócio que contemplem publicidade direccionada, parcerias com criadores independentes e experiências interactivas. A Globo pretende, com o GE TV, posicionar-se de forma mais competitiva neste panorama.

Próximos passos

A emissora não avançou datas oficiais para o arranque do canal, mas fontes próximas do projecto admitem que a fase piloto pode arrancar ainda este ano, sujeita à obtenção de direitos de transmissão e à definição dos acordos com patrocinadores. Enquanto isso, o canal do Globo Esporte no YouTube continuará a exibir resumos de partidas e blocos informativos.

Com o lançamento do GE TV, a Globo procura diversificar plataformas, captar novos públicos e competir directamente com criadores independentes que têm conquistado relevância nas transmissões desportivas online. A evolução do projecto será acompanhada de perto pelo mercado publicitário e pelos detentores de direitos de competição, atentos ao potencial de alcance e retorno no ecossistema digital.

Imagem: Reprodução via olhardigital.com.br