Geração Z volta às ruas da Ásia para denunciar corrupção e desigualdade, mobilizando milhares de jovens em Nepal, Indonésia e Filipinas. De Kathmandu a Manila, estudantes e recém-formados transformam indignação virtual em pressão real sobre governos acusados de privilegiar políticos e seus filhos.
No Nepal, o estopim foi um casamento luxuoso que bloqueou avenidas para convidados VVIP, entre eles o primeiro-ministro. Vídeos de festas, mansões e bolsas de grife publicados por “nepo kids” – filhos de autoridades – viralizaram, alimentando a sensação de injustiça social.
Geração Z lidera protestos anticorrupção na Ásia
A 8 de setembro, multidões ocuparam Kathmandu. Enfrentamentos deixaram mais de 70 mortos, o parlamento foi invadido e o premiê KP Sharma Oli renunciou. Organizações como Transparency International já classificam o país entre os mais suscetíveis à corrupção na região.
Tecnologia e hashtags conectam movimentos regionais
Inspirados pela queda do presidente do Sri Lanka em 2022 e pelas mobilizações estudantis em Bangladesh, jovens nepaleses, indonésios e filipinos adotam a mesma estética: um logotipo de caveira, derivado do anime One Piece, e a hashtag #SEAblings, que simboliza solidariedade sul-asiática. Plataformas como TikTok, Discord e Reddit permitem coordenação quase instantânea. Em Kathmandu, o coletivo “Gen Z Rebels” produziu 50 clipes com IA em poucos dias, driblando bloqueios a redes sociais.
Indonésia e Filipinas miram privilégios de parlamentares
Em Jacarta, a gota d’água foi um auxílio-moradia de 60 milhões de rupias para deputados, cerca de 20 vezes o salário médio. Universitário e mototaxista, Zikri Afdinel Siregar, 22, afirma que “enquanto o arroz encarece, políticos ficam mais ricos”. Dez pessoas morreram nos confrontos mais recentes.
Nas Filipinas, mais de 30 mil usuários participam de um “lifestyle check” no Reddit, levantando dados sobre patrimônio de autoridades. O presidente Ferdinand Marcos reconheceu a indignação e criou comissão independente para apurar uso de verbas contra enchentes, prometendo que “não haverá vacas sagradas”.
Força e limites de um levante líderless
Especialistas alertam que protestos digitais podem perder fôlego sem organização duradoura. Steven Feldstein, do Carnegie Endowment, observa que algoritmos favorecem a indignação rápida, não a elaboração de reformas de longo prazo. No passado, millennials nepaleses ajudaram a derrubar a monarquia em 2006, mas viram o país trocar 17 governos e estagnar economicamente.
Mesmo assim, ativistas como Aditya, 23, juram aprender com erros anteriores: “Não idolatramos líderes. Queremos transparência”. Medidas iniciais incluem o corte de benefícios parlamentares na Indonésia e a investigação filipina, indicando que a pressão começa a surtir efeito.
O avanço ou retrocesso do movimento dependerá da capacidade de transformar hashtags em programas políticos tangíveis, mantendo a coesão sem ceder à violência que governos classificam como “terrorismo” ou “traição”.
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Crédito da imagem: Sunil Pradhan/Anadolu via Getty Images