Fragmentos revelados: nova pesquisa desvenda o destino da Pedra do Destino após o furto de 1950

Lead: A investigação mais abrangente já realizada sobre a Pedra do Destino — artefato central nas coroações britânicas — acaba de lançar luz sobre o paradeiro dos fragmentos gerados durante o furto realizado por estudantes escoceses na manhã de Natal de 1950. Conduzido pela Universidade de Stirling, o estudo mapeia 34 pedaços numerados e outros fragmentos não catalogados que permaneceram fora do radar público por mais de sete décadas.
- Quem participou do episódio de 1950
- O que aconteceu: o furto e a fratura do artefato
- Quando e onde cada etapa se desenrolou
- Como os fragmentos foram distribuídos
- Por que a pedra tem peso simbólico
- Detalhes sobre alguns fragmentos rastreados
- A pesquisa da Universidade de Stirling
- Consequências jurídicas e institucionais
- Situação atual da Pedra do Destino e dos fragmentos
- Implicações culturais do estudo
Quem participou do episódio de 1950
O grupo responsável pela retirada ilícita era composto por estudantes universitários identificados como nacionalistas escoceses. Entre eles estava Ian Hamilton, cujo envolvimento se tornou emblemático quando recebeu um fragmento da pedra posteriormente cravado em um broche de prata dedicado à esposa, Sheila.
No campo da restauração, o escultor de monumentos e político liberal Robert Gray assumiu papel essencial. Ele não apenas liderou o reparo do artefato danificado, como também numerou cuidadosamente 34 lascas e as distribuiu em uma rede de contatos que incluía familiares, aliados políticos e profissionais da imprensa.
O que aconteceu: o furto e a fratura do artefato
A ação ocorreu em 25 de dezembro de 1950, nas dependências da Abadia de Westminster, em Londres. Ao ser removida da Cadeira da Coroação, a pedra — também conhecida como Pedra de Scone — foi transportada às pressas. No trajeto, caiu e se partiu em dois blocos principais, evento que gerou lascas posteriormente preservadas por Gray.
Quando e onde cada etapa se desenrolou
O furto iniciou-se em Londres e desencadeou consequências imediatas: pela primeira vez em quatro séculos a fronteira anglo-escocesa foi temporariamente fechada. A restauração ocorreu em local não detalhado no estudo, mas a devolução oficial da peça, já recomposta, deu-se em abril de 1951 na Abadia de Arbroath, na Escócia. Embora o artefato principal tenha regressado à Inglaterra, os fragmentos seguiram trajetos diversos, atravessando continentes.
Como os fragmentos foram distribuídos
Após numerar as lascas, Robert Gray empregou um método deliberado de doação. As peças eram acompanhadas por cartas que atestavam a autenticidade e instruíam os destinatários a preservar a memória da causa escocesa. Entre os agraciados estavam:
Familiares e amigos próximos: para garantir que partes da pedra permanecessem sob guarda de pessoas de confiança.
Aliados políticos: como forma de fortalecer o movimento pela autonomia escocesa no pós-guerra.
Jornalistas nacionais e estrangeiros: estratégia destinada a internacionalizar o feito e angariar simpatia fora do Reino Unido.
Por que a pedra tem peso simbólico
Usada na unção de reis escoceses desde 1249, a Pedra de Destino foi confiscada em 1296 por Eduardo I da Inglaterra. A partir de então, passou a integrar a Cadeira da Coroação na Abadia de Westminster, sendo ocupada por quase todos os monarcas ingleses e, posteriormente, britânicos. Para muitos escoceses, esse ato de tradição representava a subjugação do seu território. O furto de 1950 foi, portanto, interpretado por nacionalistas como uma reafirmação de identidade cultural e protesto contra séculos de dominação.
Detalhes sobre alguns fragmentos rastreados
Broche de Sheila Hamilton: Ian Hamilton converteu uma lasca em joia destinada à esposa, criando um elo pessoal com o episódio.
Museu de Queensland, Austrália: Catherine Milne, turista australiana presenteada por Gray, levou o pedaço ao hemisfério sul; após sua morte, em 1967, a família entregou a peça à instituição museológica, ampliando o alcance global do artefato.
SNP e Alex Salmond: O filho de John MacCormick — líder do Pacto Nacional pela independência escocesa — deu uma lasca ao futuro primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, em 2008. A peça foi exposta na sede do Partido Nacional Escocês e, em 2014, repassada aos Comissários para a Salvaguarda das Insígnias Reais, que ainda avaliam seu destino definitivo.
Medalhão de Winnie Ewing: A política nacionalista exibiu o item em entrevista televisiva de 1967, declarando o desejo de ser detida por posse de bem roubado — gesto que reforçava a narrativa de resistência.
Escritório do Calgary Herald: O jornalista canadense Dick Sanburn mantinha seu fragmento sobre a mesa como troféu, evidenciando o impacto midiático além das fronteiras do Reino Unido.
A pesquisa da Universidade de Stirling
Liderada pela professora Sally Foster, da Faculdade de Artes e Humanidades, a investigação foi motivada pela recente coroação do rei Charles, ocasião em que a pedra voltou a ocupar lugar de destaque na cerimônia. Foster constatou que a comunidade acadêmica havia negligenciado o valor histórico e simbólico das pequenas lascas, concentrando-se exclusivamente no bloco principal.
Para suprir essa lacuna, a equipe realizou levantamento em jornais e arquivos, consultou curadores de coleções públicas e privadas e conduziu trabalho etnográfico junto a famílias que herdaram os fragmentos. À medida que a pesquisa ganhou notoriedade, pessoas de diferentes localidades forneceram documentação, correspondências e fotografias que confirmavam a proveniência das peças.
Consequências jurídicas e institucionais
Apesar da remoção forçada, nenhum processo criminal foi aberto contra os envolvidos. Autoridades consideraram que a perseguição penal não serviria ao interesse público. Em 1996, o governo britânico decidiu transferir a guarda da pedra original ao Castelo de Edimburgo, com a ressalva de que o artefato retornaria a Londres sempre que um novo monarca fosse coroado. Essa solução conciliatória não contemplou, contudo, os fragmentos distribuídos por Gray, que permaneceram fora do controle estatal.
Situação atual da Pedra do Destino e dos fragmentos
O bloco principal repousa em Edimburgo, sob supervisão de comissários responsáveis pelas Insígnias Reais. Quando mobilizada para eventos de coroação, a pedra viaja para a Abadia de Westminster, retomando temporariamente o espaço simbólico de onde foi retirada em 1950. Já os fragmentos seguem múltiplos destinos: alguns em coleções privadas, outros em museus internacionais, e parte ainda à espera de decisão sobre eventual reintegração ao patrimônio oficial.
Implicações culturais do estudo
Ao rastrear as 34 lascas numeradas e outros pedaços não catalogados, a pesquisa de Stirling redefine a compreensão do episódio de 1950. Os fragmentos deixam de ser meras curiosidades para se tornarem testemunhos materiais de um movimento político que buscava projetar a questão da autonomia escocesa além das fronteiras nacionais. O mapeamento acadêmico fornece base documental para futuras discussões sobre posse, conservação e narrativa histórica, sem alterar o status atual do bloco principal.
Conclusão factual: As descobertas reveladas pela Universidade de Stirling encerram décadas de incerteza sobre o destino dos fragmentos da Pedra do Destino. A sistematização de informações dispersas em cartas, arquivos e relatos orais traz nova perspectiva a um dos atos mais simbólicos do nacionalismo escocês no século XX, ao mesmo tempo em que reforça a importância de documentação rigorosa para salvaguarda de patrimônios históricos.
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