Festival de Comédia em Riad atrai astros e polêmica

Festival de Comédia em Riad atrai astros e polêmica ao levar à capital saudita nomes como Dave Chappelle, Bill Burr, Jack Whitehall e Jimmy Carr. A estreia, ocorrida no último fim de semana, surpreendeu o público local com piadas sobre sexo, pessoas trans e costumes conservadores — algo raro em um país onde a homossexualidade é proibida e punida com pena de morte.

Relatos de espectadores como “Sara” e “Zain” (nomes fictícios) indicam que os comediantes se abstiveram de criticar diretamente o governo saudita, foco de intensas denúncias de violações de direitos humanos. A ausência de comentários políticos, porém, não impediu a casa cheia nem o riso de plateias formadas por sauditas e expatriados.

Festival de Comédia em Riad atrai astros e polêmica

O evento — patrocinado pela Autoridade Geral de Entretenimento da Arábia Saudita — acontece entre 26 de setembro e 9 de outubro, coincidindo com o sétimo aniversário do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Organizações como a Human Rights Watch acusam o festival de “branquear” a imagem do reino, alegando que dissidentes continuam detidos injustamente.

Para muitos artistas, o convite para se apresentar em Riad veio acompanhado de pagamentos milionários. O norte-americano Tim Dillon revelou ter sido oferecido US$ 375 mil, enquanto outros nomes teriam garantido valores ainda maiores. Comediantes que recusaram, como Shane Gillis e Atsuko Okatsuka, justificaram a decisão citando possíveis cláusulas contratuais que vetariam críticas à família real ou à religião.

Dentro do teatro, o conteúdo foi descrito como “profano” por Zain. Ele se disse surpreso ao ouvir uma abertura de dez minutos sobre sexo antes do set de Bill Burr. Omid Djalili, por sua vez, arriscou piadas sobre niqab e mulheres ao volante, mostrando ter “feito a lição de casa” sobre a cultura local. Já Burr, segundo o mesmo espectador, preferiu tópicos familiares sobre esposa e filhos, parecendo “mais nervoso” no palco.

Fora do país, a presença das estrelas gerou críticas de colegas que apontam incoerência entre defender liberdade de expressão e aceitar cachês de um governo que restringe amplamente esse direito. “É moralmente repugnante”, resumiu a humorista britânica Rosie Holt.

Internamente, contudo, parte do público enxerga o festival como sinal da transformação promovida pelo programa Visão 2030, que busca diversificar a economia e posicionar o reino como polo de entretenimento. “Há muito entusiasmo, principalmente entre os jovens”, afirmou Sara, destacando que muitos nunca tinham assistido a stand-up ao vivo.

Bill Burr respondeu às críticas em seu podcast, classificando a experiência em Riad como “uma das três melhores” de sua carreira. Para ele, a receptividade demonstra que o público saudita “quer ver stand-up de verdade” e que isso “pode levar a coisas positivas”.

Resta saber se o evento abrirá espaço para discussões mais amplas ou permanecerá limitado a temas seguros. Por enquanto, a comédia avançou onde antes era impensável, ainda que o silêncio sobre política permaneça tão evidente quanto o riso nas cadeiras.

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Crédito da imagem: Getty Images