Explosão de meteoro verde ilumina Patos de Minas durante pico das Táuridas do Sul

Patos de Minas registrou, na madrugada de terça-feira (4), um dos fenômenos mais luminosos da atual temporada de meteoros, quando um bólido de tonalidade verde cruzou o céu por volta de 0h15 e foi registrado em câmeras voltadas tanto para leste quanto para oeste da cidade.
- O que aconteceu nos céus de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul
- Relatos adicionais e alcance visual do fenômeno
- Pico da chuva de meteoros Táuridas do Sul
- Origem cósmica: o legado do cometa 2P/Encke
- Do meteoroide ao bólido: detalhando uma jornada de fogo
- Terminologia e segurança
- Por que o brilho foi verde?
- Importância do registro instrumental
- Atividade prevista para os próximos dias
- O papel da Lua quase cheia
- Como observar com segurança
- Fenômeno é parte do ciclo natural da Terra
O que aconteceu nos céus de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul
A sequência de eventos começou na noite de segunda-feira (3) e se estendeu até a madrugada seguinte. Observatórios instalados em municípios do Rio Grande do Sul captaram meteoros classificados como “bolas de fogo” — ou seja, objetos cujo brilho é comparável ou superior ao do planeta Vênus, de magnitude -4. Apesar da Lua quase cheia, cujo clarão costuma dificultar a visualização de rastros luminosos, os meteoros gaúchos foram claramente detectados, indicando intensidade considerável.
O ponto alto da atividade, entretanto, ocorreu a centenas de quilômetros dali, já em território mineiro. De acordo com informações divulgadas por Ivan Soares, operador do Observatório IDS Meteor, câmeras posicionadas em Patos de Minas flagraram um meteoro ainda mais reluzente, que não apenas cruzou a atmosfera, mas também explodiu, produzindo um brilho esverdeado raro de se ver a olho nu. A detonação foi tão forte que dois sistemas de gravação, apontados em direções opostas, captaram o instante exato em que o bólido se fragmentou.
Relatos adicionais e alcance visual do fenômeno
O clarão não foi percebido apenas no ponto de instalação das câmeras. Moradores de Rio Paranaíba, município vizinho a Patos de Minas, também relataram terem visto o céu iluminar-se por volta da meia-noite. Esses depoimentos reforçam a ideia de que o bólido atingiu elevado patamar de luminosidade, capaz de ser notado em localidades distintas, mesmo sob influência da forte luz lunar.
Pico da chuva de meteoros Táuridas do Sul
Observadores e astrônomos amadores associam os registros de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul à chuva de meteoros Táuridas do Sul. De acordo com o calendário oficial da Organização Internacional de Meteoros (IMO) para 2025, um enxame taurídeo era esperado exatamente para o início de novembro, com projeção de que a fase mais ativa duraria cerca de uma semana. O auge estava previsto para o dia 3, coincidindo com a noite em que as bolas de fogo foram avistadas.
A natureza peculiar dessa chuva ajuda a explicar a intensidade dos episódios recentes. Diferentemente de outras correntes meteóricas mais conhecidas — algumas chegam a exibir dezenas de rastros luminosos por hora —, as Táuridas se caracterizam por baixa densidade de partículas. A compensação surge no tamanho: os fragmentos remanescentes do cometa 2P/Encke tendem a ser maiores, o que os torna capazes de gerar clarões coloridos e explosões vistosas, mesmo em quantidades modestas.
Origem cósmica: o legado do cometa 2P/Encke
O cometa 2P/Encke foi o segundo cometa periódico identificado na história da astronomia. Ao longo de incontáveis passagens próximas ao Sol, o corpo gelado perdeu parte de sua massa, deixando para trás uma trilha de poeira e detritos. Essas partículas, quando interceptam a órbita terrestre, formam as chamadas Táuridas — subdivididas em ramo Norte e ramo Sul. Neste início de novembro, o ramo meridional encontra-se em condição geométrica favorável, aumentando a probabilidade de detecção de bolas de fogo como a observada em Patos de Minas.
Do meteoroide ao bólido: detalhando uma jornada de fogo
A trajetória do fragmento mineiro ilustra bem a sequência de transformações que se sucedem quando material extraterrestre penetra a atmosfera. Tudo começa com meteoroides, pequenas rochas ou poeira remanescentes de cometas ou asteroides que se deslocam pelo espaço. Ao colidir com a alta atmosfera terrestre a velocidades extremas, esses pedaços de detrito comprimem o ar à sua frente, aquecendo-o a temperaturas elevadas. A camada gasosa super-aquecida emite luz, fenômeno conhecido como meteoro, popularmente apelidado de “estrela cadente”.
Se o brilho atinge ou ultrapassa o padrão estabelecido pela Sociedade Americana de Meteoros (AMS) — magnitude igual ou superior à de Vênus — o evento recebe a designação de bola de fogo. Caso, além do clarão, haja explosão associada a possível estrondo audível, surge então a categoria bólido. Exatamente esse último estágio foi percebido sobre Patos de Minas, justificando o destaque dado ao registro.
Terminologia e segurança
Segundo explica Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA) e membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), o meteoro em si é apenas luz. Não se trata de um objeto físico com consistência sólida, líquida ou gasosa. Por isso, na maioria absoluta dos casos, o fenômeno não oferece perigo direto à população: os meteoroides se desintegram completamente antes de tocar o solo. Somente em situações raras, fragmentos sobrevivem ao atrito atmosférico e chegam à superfície; quando isso ocorre, passam a ser chamados de meteoritos.
Por que o brilho foi verde?
Embora as gravações indiquem uma forte tonalidade verde, a coloração não implica qualquer composição química incomum ou ameaça adicional. A tonalidade resulta da interação entre a ionização de elementos presentes tanto no meteoroide quanto no ar, somada à temperatura atingida durante a combustão. No caso específico do bólido mineiro, a intensidade e o comprimento de onda favoreceram a percepção do verde, cor que se destaca até mesmo frente ao brilho da Lua quase cheia.
Importância do registro instrumental
As filmagens obtidas pelas câmeras do Observatório IDS Meteor cumprem um papel fundamental para a ciência. Ao capturar o fenômeno em duas direções diferentes, os dispositivos permitem estimar a altitude em que a explosão ocorreu, bem como a trajetória prévia do meteoroide. Esses dados podem ser cruzados com os relatos de moradores de Rio Paranaíba e de outras localidades, refinando cálculos sobre a velocidade do material e o ponto exato da atmosfera em que houve a fragmentação.
Atividade prevista para os próximos dias
Conforme o cronograma divulgado pela plataforma Starwalk Space, ainda estamos dentro da janela de maior atividade das Táuridas do Sul. A tendência é de que os números de rastros luminosos e bolas de fogo se mantenham elevados por cerca de uma semana a partir do pico registrado no dia 3. Observadores em todo o país, mesmo em áreas urbanas, podem ter oportunidades extras de testemunhar clarões, especialmente durante a madrugada, quando o céu geralmente está mais escuro e a radiante da chuva atinge posição mais favorável no firmamento.
O papel da Lua quase cheia
A presença de uma Lua bastante iluminada costuma ser um obstáculo para observações astronômicas de objetos tênues, pois o brilho lunar aumenta o ofuscamento do fundo celeste. Ainda assim, no episódio mineiro, o bólido manteve intensidade suficiente para se destacar. Isso ressalta a energia liberada e reforça o grau incomum de luminosidade que fragmentos maiores das Táuridas conseguem apresentar.
Como observar com segurança
Para quem pretende acompanhar a fase final do enxame taurídeo, a recomendação é buscar locais relativamente afastados de poluição luminosa. Não são necessários instrumentos ópticos: a olho nu, um observador paciente costuma captar mais meteoros do que quando utiliza telescópios ou binóculos de campo estreito. Olhar em direção à constelação de Touro pode aumentar as chances de presenciar rastros vindos do radiante da chuva, mas bolas de fogo podem surgir em qualquer região do céu.
Fenômeno é parte do ciclo natural da Terra
Episódios como o de Patos de Minas integram o ciclo rotineiro de interações entre a Terra e detritos cósmicos. Todos os anos, o planeta atravessa diversas trilhas de partículas deixadas por cometas, gerando espetáculos luminosos que, embora visuais, não representam ameaça significativa. O registro minucioso desses acontecimentos, porém, fornece material precioso para o estudo da composição de cometas, da dinâmica orbital dos detritos e da própria estrutura da atmosfera superior.
Com expectativa de mais algumas madrugadas de alta atividade, observadores brasileiros permanecem atentos, na esperança de repetir a experiência de ver uma explosão verde cortar o céu e lembrar que, mesmo em meio ao cotidiano, há sempre espaço para a surpresa cósmica.
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