Ex-CEO da Intel defende entrada de 40 mil milhões dos clientes para salvar produção de chips
Craig Barrett, antigo presidente-executivo da Intel, defende que um grupo de clientes de referência invista 40 mil milhões de dólares na fabricante para garantir capacidade produtiva de semicondutores nos Estados Unidos.
Proposta de financiamento direto pelos clientes
Num artigo de opinião, o responsável que liderou a Intel entre 1998 e 2005 sustenta que empresas como Nvidia, Apple ou Google deveriam adquirir participações na tecnológica para assegurar um segundo fornecedor de chips avançados. Segundo Barrett, a iniciativa proporcionaria estabilidade na cadeia de abastecimento, reforçaria a segurança nacional e daria às companhias norte-americanas maior margem negocial face à Taiwan Semiconductor Manufacturing Company (TSMC) ou à Samsung.
O antigo executivo sugere um aporte conjunto de 40 mil milhões de dólares, valor que considera suficiente para sustentar a evolução dos processos de fabrico mais recentes. Em troca, os investidores obteriam prioridade no acesso às linhas de produção e influência estratégica no rumo da empresa.
Contexto de dificuldades e pressão política
A Intel atravessa um período de reestruturação marcado por milhares de despedimentos anunciados desde 2023. A direção admite abandonar a produção interna de chips se não conseguir clientes para o futuro processo de 14 angstrom (14A), previsto para suceder à tecnologia de 18A que suportará a família de processadores Panther Lake.
Paralelamente, o atual CEO, Lip-Bu Tan, tem encontro agendado na Casa Branca com o Presidente Donald Trump, embora a reunião não conste da agenda pública oficial. Trump já manifestou desconfiança em relação a Tan devido a ligações passadas a empresas chinesas de capital de risco e chegou a exigir a sua demissão.
O Governo norte-americano aprovou, através do CHIPS Act, incentivos de vários milhares de milhões de dólares para fortalecer a produção doméstica. Ainda assim, Barrett considera que o apoio estatal não é suficiente sem o compromisso financeiro dos principais clientes da Intel. Para estimular esse movimento, o antigo gestor admite a possibilidade de tarifas significativas sobre a importação de semicondutores de ponta.
Divergência face a ex-administradores
A posição de Barrett contrasta com a de quatro antigos membros do conselho de administração, que recentemente defenderam a saída de Tan e o fracionamento da companhia. O ex-CEO rejeita essa via, classificando-a como perda de tempo numa fase em que, afirma, o problema central é garantir capital imediato para manter fábricas e competências nos Estados Unidos.
Argumentos para um “segundo fornecedor” nacional
O antigo dirigente recorda que nem a TSMC nem a Samsung planeiam, a curto prazo, transferir as suas linhas mais avançadas para território norte-americano. Nessa perspetiva, as grandes empresas tecnológicas sediadas nos EUA ficariam dependentes de unidades localizadas na Ásia, vulneráveis a flutuações geopolíticas ou a ruturas logísticas. Ao investir diretamente na Intel, argumenta, os clientes obteriam:
- Garantia de fornecimento de chips de última geração em solo norte-americano;
- Maior segurança no planeamento de produtos;
- Alternativa competitiva que reforça poder de negociação com outros fabricantes;
- Contribuição para objetivos de segurança nacional defendidos por Washington.
Perspetivas para o futuro próximo
A direção da Intel não comentou publicamente a proposta de Barrett. Entretanto, a empresa continua a ajustar a sua estrutura e a concentrar recursos no avanço dos processos de 18A e 14A, que deverão entrar em produção em larga escala nos próximos anos, condicionados ao fecho de novos contratos.
Analistas do setor acompanham com atenção a combinação de pressões comerciais, tecnológicas e políticas que envolve a maior fabricante norte-americana de semicondutores. A aceitação — ou rejeição — da ideia de financiamento pelos clientes poderá definir não só o rumo da Intel, mas também o equilíbrio de poder num mercado essencial para a economia global.

Imagem: pcworld.com