Europa Clipper pode colher partículas do cometa interestelar 3I/ATLAS em alinhamento raro

Europa Clipper pode colher partículas do cometa interestelar 3I/ATLAS em alinhamento raro

Uma janela de seis dias entre o fim de maio e o início de novembro pode colocar a sonda Europa Clipper, da NASA, diante de uma oportunidade inédita: atravessar a cauda ionizada do cometa interestelar 3I/ATLAS e colher, sem qualquer manobra, partículas originadas além dos limites do Sistema Solar.

Índice

Quem participa do possível encontro espacial

No centro da previsão estão dois protagonistas: a sonda Europa Clipper, desenvolvida pela NASA para estudar Júpiter e sua lua Europa, e o cometa 3I/ATLAS, terceiro objeto interestelar identificado pelo ser humano. A análise que aponta para o encontro foi conduzida pelos cientistas Samuel Grant, do Instituto Meteorológico Finlandês, e Geraint Jones, da Agência Espacial Europeia (ESA). Ambos utilizaram dados de vento solar processados pelo software Tailcatcher, ferramenta que rastreia partículas carregadas emitidas pelo Sol.

O que pode acontecer durante o alinhamento

Entre 30 de maio e 6 de novembro, projeções indicam que o Sol, a trajetória do 3I/ATLAS e a rota da Europa Clipper ficarão alinhados. Essa configuração aumenta a probabilidade de o vento solar — um fluxo de prótons, elétrons e núcleos atômicos — arrastar íons desprendidos do cometa e conduzi-los diretamente ao caminho da espaçonave. Caso essa corrente chegue aos sensores da missão, será registrada a primeira amostra direta de material interestelar obtida por uma sonda.

Quando e onde cada corpo celeste estará

No momento em que o alinhamento se inicia, o 3I/ATLAS atinge o periélio, ponto de maior aproximação ao Sol, situado a aproximadamente 200 milhões de quilômetros da estrela. Essa proximidade intensifica a sublimação dos materiais na superfície do cometa, alongando a chamada cauda iônica. A Europa Clipper, por sua vez, encontra-se a mais de 300 milhões de quilômetros do Sol, após executar um sobrevoo por Marte no início do ano. Apesar da distância, a geometria solar torna possível o transporte de íons do cometa até a sonda.

Como o processo físico deve ocorrer

Cometas geram duas caudas distintas: uma de poeira, que se curva ao longo da própria órbita, e outra de gases ionizados, empurrada radicamente para longe do Sol pela pressão do vento solar. O software Tailcatcher simula a trajetória dessas partículas eletricamente carregadas. Segundo a modelagem, certas linhas de fluxo partirão do 3I/ATLAS e seguirão por milhões de quilômetros até interceptar o espaço percorrido pela Europa Clipper. Ao alcançar o instrumento de medição de partículas e campos magnéticos da nave, os íons poderão ser identificados pela sua assinatura química.

Por que o estudo dos íons é crucial

Cometas são frequentemente descritos como cápsulas do tempo cósmicas. Neles permanecem preservados fragmentos de gelo, rocha e poeira que remontam à formação do sistema de onde se originaram. No caso do 3I/ATLAS, esses componentes surgiram em um ambiente estelar desconhecido. Avaliar a proporção de moléculas de água, dióxido de carbono e outros elementos pesados nos íons forneceria pistas sobre processos de formação planetária fora do Sistema Solar, permitindo contraste com os dados já obtidos de corpos locais.

Condições necessárias para o sucesso

O êxito da coleta depende diretamente do vento solar. Ele deve soprar na orientação correta e em intensidade suficiente para vencer a dissipação natural dos íons pelo espaço. Se a velocidade ou a direção do fluxo se desviarem, a corrente de partículas poderá não alcançar a sonda. A maior atividade do 3I/ATLAS no periélio ajuda a compensar parte desse risco, pois expande o comprimento da cauda iônica e aumenta o volume de material disponível.

Histórico recente de objetos interestelares

Antes do 3I/ATLAS, apenas dois objetos vindos de fora foram confirmados: o 1I/'Oumuamua, observado em 2017, e o 2I/Borisov, detectado em 2019. Nenhuma missão conseguira interceptar o caminho desses visitantes. Se a previsão atual se concretizar, a Europa Clipper inaugura um novo modo de exploração baseado em passagens acidentais, sem a necessidade de missões dedicadas e custosas para alcançar cada cometa interestelar.

Aparatos a bordo da Europa Clipper

Embora desenhada primordialmente para estudar o ambiente de radiação de Júpiter e a composição da lua Europa, a nave carrega sensores de partículas carregadas e de campos magnéticos. Tais instrumentos são justamente aqueles capazes de diferenciar íons de origem cometária — ricos em elementos mais pesados — do próprio vento solar, predominantemente formado por hidrogênio e hélio.

Comparativo com outras missões em rota

No mesmo período do possível alinhamento, a missão Hera, da ESA, também terá seu caminho percorrido por correntes associadas ao 3I/ATLAS. Entretanto, Hera não dispõe de equipamento específico para medir a composição dos íons, o que reduz sua capacidade de confirmar a procedência do material. Dessa forma, a Europa Clipper permanece como a única plataforma operacional com um conjunto de sensores adequados para validar a amostra interestelar.

Validação do método de previsão

O Tailcatcher não é estreante em previsões bem-sucedidas. Em 2020, o software acertou que a Solar Orbiter cruzaria a cauda do cometa C/2019 Y4. Observações posteriores confirmaram a passagem, conferindo credibilidade ao modelo matemático agora aplicado ao 3I/ATLAS. Esse histórico reforça a expectativa de que a nova projeção também reflita as condições reais do espaço interplanetário.

Consequências para a ciência planetária

Se o encontro se concretizar, a Europa Clipper entregará à ciência a primeira leitura in situ de partículas originadas em outro sistema estelar. Tal avanço poderá alimentar modelos de formação de cometas, planetas e atmosferas, além de oferecer pistas sobre a distribuição de moléculas orgânicas pelo cosmos. O resultado servirá ainda como prova de conceito para futuras missões que visem interceptar e estudar exocometas de maneira planejada.

Próximos passos da exploração de cometas interestelares

A ESA já planeja lançar em 2029 a missão Comet Interceptor, que permanecerá em órbita de espera até identificar um novo visitante interestelar. O possível sucesso da Europa Clipper demonstraria que encontros casuais — previstos por softwares como o Tailcatcher — podem complementar essa estratégia, multiplicando as oportunidades de coleta de dados sem exigir grandes mudanças de rota.

Independentemente do desfecho, a chance de atravessar a cauda iônica do 3I/ATLAS comprova que missões concebidas para outros objetivos podem tornar-se laboratórios de física e química interestelares quando alinhamentos cósmicos raros entram em cena.

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