EUA e Emirados Árabes erguem mega-campus de IA e reforçam aliança estratégica

Abu Dhabi recebeu esta semana o anúncio da construção de um amplo complexo dedicado à inteligência artificial, resultado de uma parceria entre os Estados Unidos e os Emirados Árabes Unidos. O projeto, designado Stargate, pretende criar o maior campus de IA fora do território norte-americano, com investimento estimado em milhares de milhões de dólares financiados por fundos soberanos do Golfo.

Maior complexo de IA fora dos Estados Unidos

O futuro campus reunirá centros de dados, laboratórios de pesquisa e infra-estrutura de alto desempenho destinada ao treino de modelos de IA de última geração. A Nvidia ficará responsável pelo fornecimento dos chips mais avançados, elemento considerado essencial para garantir a capacidade de computação necessária aos algoritmos modernos. Entre os parceiros industriais constam ainda a Microsoft e outras empresas do ecossistema tecnológico norte-americano.

Durante a apresentação em Abu Dhabi, Donald Trump assumiu o papel de impulsionador político da iniciativa, sublinhando a relevância do Golfo como novo polo de infra-estrutura digital. Segundo os responsáveis pelo Stargate, o complexo deverá começar a operar por fases nos próximos anos, embora não tenham sido divulgadas datas concretas para a conclusão total.

Computação torna-se o “novo petróleo” na região

O anúncio enquadra-se numa estratégia mais ampla dos Emirados Árabes de diversificação económica. A metáfora do “novo petróleo” passou a referir-se ao compute — o poder de processamento — que sustenta a economia digital. Tal como as reservas de crude moldaram a geopolítica do século XX, a oferta de capacidade computacional de alto nível promete definir as cadeias de valor da inteligência artificial nas próximas décadas.

Além do campus Stargate, a estatal Khazna continua a expandir a sua rede de centros de dados. A empresa opera actualmente 29 instalações nos Emirados Árabes e planeia novos edifícios para servir clientes como OpenAI, Cisco, Oracle e SoftBank. Estes projectos reforçam o papel da região como ponto de trânsito para dados globais e infra-estrutura de serviços em nuvem.

Benefícios mútuos e distanciamento da tecnologia chinesa

Para Washington, o acordo oferece uma via adicional para conter a expansão de fornecedores chineses no Médio Oriente, especialmente em áreas sensíveis como redes 5G e plataformas de IA. Como contrapartida, Abu Dhabi recebe acesso a tecnologia de ponta e consolida-se como parceiro preferencial dos Estados Unidos num domínio considerado estratégico.

Especialistas ouvidos por meios internacionais apontam que a escolha de fornecedores norte-americanos foi vista pelos Emirados como decisão pragmática, dado o domínio dos Estados Unidos em chips, software e serviços de nuvem. Ao mesmo tempo, o alinhamento reduz dependências de soluções chinesas, como as propostas pela Huawei.

Arábia Saudita segue caminho semelhante

O movimento de diversificação atinge também a Arábia Saudita. O fundo soberano PIF criou recentemente a Humain, empresa dirigida à construção de “fábricas de IA” equipadas com centenas de milhares de processadores Nvidia. O objectivo é acelerar o desenvolvimento de serviços baseados em modelos linguísticos avançados e consolidar o estatuto do reino como actor relevante na economia digital.

A coordenação entre Abu Dhabi e Riade poderá favorecer sinergias regionais em infra-estrutura e talento, aumentando a atractividade do Golfo para empresas internacionais que procuram capacidade de computação a larga escala.

Próximos passos do projecto Stargate

Os organizadores do Stargate indicam que o campus será desenvolvido em várias fases. A primeira inclui a construção de instalações de armazenamento de dados e laboratórios de pesquisa. Seguir-se-ão supercomputadores destinados ao treino de grandes modelos de linguagem, bem como programas de formação para engenheiros locais.

O financiamento provém sobretudo de fundos soberanos dos Emirados Árabes, complementado por participação directa de empresas dos EUA. Embora detalhes sobre o volume exacto de investimento não tenham sido divulgados, analistas do sector estimam valores na ordem de dezenas de milhares de milhões de dólares, dada a dimensão prevista da infra-estrutura.

Com a criação do Stargate, os Emirados Árabes procuram transitar de investidores passivos em tecnologia para fornecedores activos de serviços de computação global. Para os Estados Unidos, a iniciativa reforça a rede de aliados num mercado onde a corrida à inteligência artificial se intensifica diariamente.

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Imagem: Khazna via olhardigital.com.br

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