EUA e China prolongam trégua comercial e adiam subida de tarifas por 90 dias
O Presidente norte-americano, Donald Trump, assinou uma ordem executiva que estende por mais 90 dias a suspensão de novas tarifas sobre produtos chineses. Pequim anunciou medida idêntica quase em simultâneo, adiando uma escalada que poderia entrar em vigor às 00h01 de terça-feira.
Extensão evita escalada imediata
Sem a prorrogação, Washington estava autorizado a elevar os direitos de importação para além dos actuais 30 %, enquanto a China preparava aumento proporcional nos impostos aplicados às exportações norte-americanas. A extensão mantém, portanto, inalterados os níveis tarifários acordados após o recuo de Maio, quando as taxas chegaram a atingir 145 % sobre bens chineses e 125 % sobre mercadorias dos Estados Unidos.
Segundo a Casa Branca, todos os restantes termos do entendimento anterior permanecem válidos. O Ministério do Comércio chinês confirmou o prolongamento e acrescentou que continuará a suspender sanções impostas a algumas empresas dos Estados Unidos incluídas em listas de controlo de exportações e de “entidades pouco fiáveis”.
Tempo extra para negociar
A nova pausa é encarada como oportunidade para aprofundar conversações que poderão conduzir a uma cimeira entre Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping, ainda este ano. Sean Stein, presidente do U.S.-China Business Council, considerou o adiamento «crítico» para alcançar um acordo capaz de melhorar o acesso das empresas norte-americanas ao mercado chinês e oferecer previsibilidade ao investimento a médio e longo prazo.
Washington procura igualmente garantias sobre a redução do fluxo de produtos químicos utilizados na produção de fentanil, em troca da diminuição de tarifas e do levantamento de medidas retaliatórias que afectam, entre outros, os sectores agrícola e energético dos Estados Unidos.
Reacção de empresas e mercados
O prolongamento foi recebido com alívio por companhias que dependem do comércio bilateral. Nos últimos meses, vários grupos industriais criticaram o aumento de custos provocado pelas tarifas e alertaram para o impacto nas cadeias de abastecimento. A manutenção do statu quo afasta, por enquanto, o risco de novos encargos, embora o ambiente continue marcado pela incerteza.
Pequim anunciou ainda que suspenderá, por igual período, restrições que limitavam a venda de bens de dupla utilização a firmas norte-americanas, medida que deverá facilitar, por exemplo, o fornecimento de componentes electrónicos e matérias-primas estratégicas.
Divergências estruturais persistem
Apesar do alívio temporário, permanecem em aberto temas de fundo como a protecção da propriedade intelectual, os subsídios estatais chineses e o défice comercial norte-americano, que somou 262 mil milhões de dólares no último ano. Especialistas recordam que as iniciativas unilaterais de Washington, baseadas em tarifas elevadas, demonstraram alcance limitado e incentivaram Pequim a explorar a dependência global de minerais raros, cruciais para sectores de alta tecnologia.
Claire Reade, antiga responsável da representação comercial dos Estados Unidos, sublinha que a Casa Branca «reconheceu não ter a vantagem absoluta» e aponta para a probabilidade de compromissos pontuais — como a compra chinesa de soja norte-americana ou o reforço do combate ao fentanil — em vez de um entendimento abrangente.
Jeff Moon, ex-diplomata especializado em assuntos comerciais, prevê que o conflito continue a desenrolar-se «durante vários anos», com avanços limitados e sucessivas rondas de negociações.
Cenário global
A disputa entre as duas maiores economias do mundo já levou a média das tarifas norte-americanas para 18,6 %, o valor mais alto desde 1933, alterando significativamente o panorama do comércio internacional. Parceiros como União Europeia e Japão aceitaram acordos considerados desequilibrados para evitar sobretaxas ainda mais pesadas.
Enquanto isso, as bolsas reagiram positivamente à notícia do prolongamento, reflectindo expectativa de maior estabilidade. Contudo, analistas alertam que a trégua agora anunciada não elimina o risco de nova escalada caso não surjam avanços concretos até ao final do período de 90 dias.
A prorrogação concede, assim, espaço político para ambas as partes procurarem compromissos, mas deixa intactas as divergências que originaram a guerra comercial iniciada em 2018.

Imagem: Paul Wiseman and Didi Tang via globalnews.ca