Estados Unidos avaliam proibir roteadores da TP-Link após apoio de cinco agências federais

Washington, 31 de outubro de 2025 — A possível retirada dos roteadores TP-Link das prateleiras norte-americanas ganhou novo fôlego após cinco órgãos federais endossarem a ideia de bloqueio comercial. A medida, sugerida pelo Departamento de Comércio no fim de 2024, passou a contar agora com o apoio adicional das secretarias de Segurança Nacional, Justiça, Defesa e de uma quinta agência não identificada, elevando a pressão sobre a Casa Branca para uma decisão que pode redesenhar o mercado de redes domésticas nos Estados Unidos.
O impasse envolve suspeitas de que a fabricante, de origem chinesa, mantenha laços que poderiam comprometer a privacidade de consumidores, empresas e do próprio governo norte-americano. Com participação de mercado estimada entre 36% e pouco mais de 50% no segmento de roteadores residenciais — boa parte instalada por operadoras de banda larga —, a TP-Link ocupa posição estratégica na infraestrutura digital do país, o que intensifica o debate sobre segurança.
- Quem é quem no processo de avaliação do banimento
- O que motiva a preocupação com os roteadores
- Estrutura societária e reorganização da fabricante
- Propostas da companhia para evitar a restrição
- Posicionamento oficial da TP-Link
- Impacto potencial sobre consumidores e operadoras
- Etapas que ainda faltam para o banimento se concretizar
- Cenário internacional e tensões tecnológicas
Quem é quem no processo de avaliação do banimento
O Departamento de Comércio foi o primeiro a colocar o tema na agenda oficial. Ao fim de 2024, a pasta defendeu publicamente que as vendas fossem suspensas, alegando riscos de espionagem e de exploração de vulnerabilidades. De lá para cá, a mobilização ganhou adesões importantes.
A Secretaria de Segurança Nacional tornou-se peça central no discurso de proteção de infraestrutura crítica. A pasta observa que roteadores domésticos podem servir de porta de entrada para redes corporativas, sistemas governamentais e dispositivos conectados, ampliando os efeitos de eventuais falhas.
Já o Departamento de Justiça avalia potenciais infrações às leis de proteção de dados e investiga se haveria fundamento jurídico para responsabilizar a companhia em casos de vazamento. Por sua vez, o Departamento de Defesa questiona a presença de equipamentos TP-Link em residências de militares, instalações terceirizadas e redes que possam, de forma direta ou indireta, carregar informações sensíveis.
O que motiva a preocupação com os roteadores
A base da ofensiva se concentra em duas linhas de temor. Primeiro, a possibilidade de que firmware ou componentes de comunicação canalizem dados para servidores externos vinculados ao governo de Xi Jinping. Segundo, o receio de que brechas — intencionais ou não — facilitem ataques a sistemas norte-americanos. Ambas as hipóteses se enquadram na definição de risco à segurança nacional, conceito que ultrapassa a esfera comercial e habilita respostas excepcionais.
Especialistas ouvidos por parlamentares — de acordo com a apuração citada pelo The Washington Post — indicam que a presença maciça de roteadores da marca na última milha da conexão torna qualquer falha potencialmente ampla. Mesmo sem evidências públicas de interceptação em grande escala, o simples acesso privilegiado ao tráfego de dados colocaria a empresa sob escrutínio.
Estrutura societária e reorganização da fabricante
Para atenuar críticas, a TP-Link passou por reestruturação recente. A companhia foi dividida em dois braços jurídicos:
TP-Link Systems — Responsável pela operação nos Estados Unidos e em outros mercados internacionais. A sede foi instalada em uma cidade da Califórnia, embora processos de engenharia, design e fabricação permaneçam, em boa parte, em território chinês.
TP-Link Technologies — Unidade que atua exclusivamente dentro da China, servindo ao mercado doméstico. Essa separação, segundo a empresa, reforça a independência das operações externas em relação a políticas governamentais de Pequim.
A alteração estrutural, contudo, não dissipou as suspeitas. Nos bastidores, autoridades argumentam que manter etapas essenciais da cadeia de produção na China continuaria abrindo espaço para interferências, independentemente do endereço fiscal da subsidiária norte-americana.
Propostas da companhia para evitar a restrição
Em resposta às investidas, a fabricante apresentou um pacote de compromissos que inclui:
Maior investimento em cibersegurança — Ampliação de auditorias independentes de código-fonte e testes de intrusão, com relatórios periódicos destinados a reguladores.
Transparência operacional — Criação de centros de dados localizados nos Estados Unidos para hospedar serviços de atualização de firmware, reduzindo o fluxo internacional de informações.
Transferência de processos críticos — Migração gradual de parte da engenharia e de linhas de montagem para território norte-americano, de modo a atender exigências de soberania tecnológica.
Embora detalhados em comunicados enviados à imprensa, os planos ainda não convenceram os órgãos federais envolvidos nem reduziram o ritmo das discussões em Washington.
Posicionamento oficial da TP-Link
Por meio de porta-voz, a empresa declarou discordar “vigorosamente” das acusações e reiterou considerada identidade corporativa norte-americana. De acordo com a nota, não há conexão direta entre produtos vendidos nos Estados Unidos e atores estatais chineses. O comunicado também rejeita a leitura de que o possível veto funcionaria como barganha comercial na relação bilateral entre Washington e Pequim.
Segundo a companhia, um bloqueio penalizaria sobretudo consumidores e distribuidores norte-americanos, já que não afetaria o mercado chinês atendido pela divisão Technologies. Assim, o argumento central da defesa é que impedir a comercialização nos Estados Unidos resultaria em prejuízos locais sem corresponder a ganhos estratégicos contra a China.
Impacto potencial sobre consumidores e operadoras
Com presença superior a um terço do segmento — e, em alguns cenários, ultrapassando a metade do total de unidades instaladas —, a TP-Link exerce liderança consolidada entre usuários residenciais. Muitas operadoras de banda larga adotam equipamentos da marca como padrão de fornecimento, o que reduz custos e simplifica processos de suporte.
Uma proibição exigiria substituição massiva de dispositivos ou readequação de contratos, pressionando financeiramente provedores e possivelmente encarecendo pacotes de internet ao consumidor final. Além disso, a escassez momentânea de alternativas compatíveis, caso não haja tempo de transição, poderia comprometer novas ativações de serviço.
Etapas que ainda faltam para o banimento se concretizar
Apesar do avanço institucional, não existe data definida para a assinatura de uma ordem executiva nem para a abertura de procedimento formal que resulte em sanções comerciais. A Casa Branca permanece sem pronunciamento público, indicando que a recomendação dos órgãos técnicos ainda está em análise.
Entre possíveis caminhos, analistas apontam que o Executivo pode optar por:
• Solicitar estudos complementares de impacto econômico;
• Convocar audiências públicas com a empresa e representantes do setor;
• Implementar restrições graduais, começando por novos contratos governamentais, antes de estender ao varejo.
Nenhuma dessas alternativas foi confirmada oficialmente, e qualquer decisão dependerá da avaliação de custo-benefício político em um contexto de concorrência tecnológica entre as duas maiores economias do mundo.
Cenário internacional e tensões tecnológicas
A discussão sobre roteadores TP-Link integra um quadro mais amplo de cautela dos Estados Unidos em relação a fornecedores de origem chinesa. Embora cada caso apresente características próprias, a tônica de segurança nacional permanece central. O episódio atual surge em sequência a outras iniciativas, reforçando a percepção de que equipamentos de conectividade ocupam posição crítica e requerem vigilância redobrada.
Até que a Casa Branca tome posição definitiva, o mercado segue em compasso de espera. Fabricantes concorrentes monitoram a situação, operadoras avaliam planos de contingência e consumidores acompanham o desenrolar de um possível veto que pode alterar preços, disponibilidade de dispositivos e a própria arquitetura das redes domésticas norte-americanas.
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