Estudo atribui mais de 400 mortes indiretas aos incêndios de Los Angeles
Um estudo publicado na revista médica JAMA estima que os incêndios florestais que assolaram a área de Los Angeles no início do ano provocaram cerca de 440 mortes adicionais, número muito superior às 31 vítimas diretas reconhecidas oficialmente. A investigação analisou o período compreendido entre 5 de janeiro e 1 de fevereiro, quando os fogos de Palisades e Eaton destruíram milhares de edifícios e obrigaram à retirada de mais de 100 mil residentes.
Excesso de mortalidade supera dados oficiais
Os autores avaliaram todos os óbitos registados no condado durante as semanas dos incêndios e compararam-nos com médias de anos anteriores. O resultado aponta para um aumento de quase 7 % na mortalidade total, traduzido em aproximadamente 440 falecimentos adicionais. Estas mortes não decorreram diretamente das chamas, mas de condições agravadas pela crise, como problemas respiratórios e cardiovasculares, ou por atrasos no acesso a cuidados essenciais.
O balanço oficial do condado continua a contabilizar apenas os óbitos diretamente causados pelo fogo, atualmente fixados em 31 depois de recentes identificações de restos mortais. A discrepância sublinha a importância de incluir impactos indiretos na avaliação de catástrofes climáticas, defendem os investigadores.
Metodologia e causas identificadas
Para calcular o excesso de mortalidade, a equipa examinou certificados de óbito, causas declaradas e tendências históricas. Entre os fatores apontados estão crises de asma, insuficiências cardíacas e stress induzido pela poluição atmosférica gerada pelo fumo. Adicionalmente, interrupções em serviços de saúde levaram a adiamentos de diálise, tratamentos oncológicos e outras terapias críticas, contribuindo para o agravamento do estado clínico de doentes vulneráveis.
Os autores alertam que os números permanecem provisórios, pois podem existir mais falecimentos relacionados com o desastre fora da janela temporal estudada. Recomendam, por isso, um sistema de vigilância de mortalidade mais abrangente durante e após eventos extremos.
Reações das autoridades de saúde
Questionado sobre as conclusões, o Departamento de Saúde Pública do Condado de Los Angeles declarou não ter comentários específicos, mas reconheceu que situações de emergência “frequentemente provocam mortes prematuras ou em excesso”. A entidade sublinhou que catástrofes de grande escala tendem a sobrecarregar os serviços de socorro, perturbar rotinas e expor a população a ambientes nocivos.
Impacto mais amplo dos incêndios e da poluição por fumo
Os incêndios florestais têm vindo a tornar-se mais frequentes e intensos, impulsionados por condições climatéricas mais quentes e secas. Além dos danos materiais, o fumo liberta partículas finas com toxicidade até quatro vezes superior à de outros poluentes urbanos, afetando especialmente idosos, grávidas, crianças e doentes crónicos, mas também adultos saudáveis.
Um segundo estudo, também divulgado na JAMA, analisou as consequências dos incêndios de Maui, ocorridos em agosto de 2023. Naquela região havaiana, 22 % dos adultos apresentavam redução da função pulmonar e metade registava sintomas de depressão meses após o desastre. Os investigadores referem uma subida nas taxas de suicídio e overdoses naquele período, reforçando a necessidade de acompanhamento clínico prolongado após eventos climáticos extremos.
Os novos dados vindos de Los Angeles e Maui convergem para a mesma conclusão: a contagem de vítimas deve ir além dos números imediatos. Políticas de saúde pública, alertas de qualidade do ar e planos de evacuação mais eficientes podem mitigar efeitos indiretos que, como agora se confirma, superam largamente as fatalidades diretas.

Imagem: bbc.com