Estudo britânico sugere rever as estações do ano para refletir o clima atual
Um grupo de geógrafos da University of York e da London School of Economics defende que o calendário climático baseado em primavera, verão, outono e inverno já não descreve com rigor a realidade de muitas regiões. O trabalho, publicado na revista científica Progress in Environmental Geography, indica que o aquecimento global está a alterar de forma profunda os ciclos anuais, obrigando a repensar o conceito de estação do ano.
Proposta académica questiona o modelo de quatro estações
A equipa britânica reconhece que a inclinação da Terra e a variação sazonal da radiação solar permanecem intactas, mas argumenta que a experiência quotidiana do clima mudou substancialmente. Temperaturas médias mais elevadas, picos de calor fora de época e uma distribuição diferente das chuvas criam cenários que não se enquadram nas categorias tradicionais. Segundo os autores, manter o calendário convencional pode dificultar a preparação de comunidades para fenómenos meteorológicos extremos que se tornaram recorrentes.
Quatro categorias para o clima contemporâneo
Para descrever de forma mais fiel os padrões actuais, o estudo apresenta quatro tipos de “estações”:
Emergentes — períodos sazonais totalmente novos para uma determinada localização, inexistentes em décadas anteriores;
Extintas — intervalos que desapareceram ou perderam características identitárias, tornando-se irreconhecíveis;
Arrítmicas — fases com alterações na duração ou no momento habitual de ocorrência;
Sincopadas — temporadas marcadas por flutuações irregulares na intensidade do fenómeno climático.
Estes conceitos pretendem funcionar como instrumentos de análise, não como substitutos legais das estações clássicas. O objetivo é facilitar respostas desde o planeamento urbano até à gestão de riscos para a saúde.
Mudanças detectadas em várias latitudes
Entre os exemplos citados, o verão tem-se prolongado e intensificado, enquanto os invernos se encurtam e tornam-se mais amenos. A primavera inicia-se mais cedo em muitas regiões do hemisfério norte, e os períodos de furacões ou de queimadas estendem-se por mais meses. No Sudeste Asiático, a população passou a referir-se a uma “estação da fumaça” devido à poluição recorrente provocada por queimadas de turfa, fenómeno que se repete anualmente e obriga à adopção de filtros de ar em casas e escolas.
Os investigadores sublinham que a nomenclatura alternativa pretende dar visibilidade às alterações já em curso e incentivar políticas adaptativas. A flexibilização do entendimento das estações, defendem, pode melhorar a comunicação de riscos, optimizar calendários agrícolas e orientar estratégias de saúde pública. Para a equipa, reconhecer que o padrão de quatro estações deixou de ser universal é um passo importante para lidar com os efeitos do aquecimento global no quotidiano das populações.

Imagem: Mongkolchon Akesin via olhardigital.com.br