Como estresse e tristeza interferem nos hormônios que regulam o apetite
O apetite resulta da interação entre hormônios, emoções e circuitos neurológicos. Quando emoções como estresse e tristeza se intensificam, o equilíbrio desse sistema pode se romper, produzindo aumento ou queda do consumo alimentar.
Em situações desafiadoras, o organismo aciona o estado de “luta ou fuga”, liberando o hormônio liberador de corticotrofina (CRH) e cortisol. Ambos atuam diretamente sobre centros cerebrais que controlam a fome e a saciedade.
No estresse agudo, que surge de forma intensa e breve, o CRH suprime o apetite. Esse hormônio reduz a atividade digestiva, dificultando a sensação de fome e favorecendo a escolha de adiar refeições.
O cortisol, liberado em paralelo, aumenta a produção de suco gástrico. Esse processo pode resultar em náuseas, indigestão ou diarreia, o que contribui para tornar a alimentação menos atraente durante episódios agudos de tensão.
Quando o estresse se torna crônico, a resposta muda. Níveis elevados e prolongados de cortisol aumentam a grelina, conhecida como “hormônio da fome”, e reduzem a leptina, responsável pela saciedade. O resultado é a busca por alimentos calóricos, ricos em gordura e açúcar.
A repetição desse padrão favorece o comportamento chamado comer emocional, marcado por episódios de compulsão alimentar. Nesses momentos, a comida atua como estratégia rápida de conforto, mesmo sem necessidade energética real.
A tristeza influencia o apetite por outra via. Regiões cerebrais como hipotálamo e amígdala, envolvidas no processamento emocional, também comandam os sinais de fome. Quando dominadas por sentimentos de melancolia, essas áreas costumam reduzir o estímulo à ingestão de alimentos.
Nem todos, porém, reagem da mesma forma. Para algumas pessoas, a comida torna-se refúgio contra a dor emocional. Esse fenômeno, chamado fome emocional, surge repentinamente, é pouco saciado e costuma direcionar a escolhas de baixa qualidade nutricional, como doces e ultraprocessados.
A ingestão de produtos ricos em açúcar e gordura ativa o sistema de recompensa cerebral, liberando dopamina e serotonina. A sensação de alívio é passageira, podendo ser seguida de culpa, ganho de peso e risco de problemas metabólicos.
Diferenciar fome física e fome emocional é essencial. A primeira aparece gradualmente e cessa após a refeição; a segunda é imediata, persiste mesmo depois de comer e costuma estar associada a sentimentos de angústia.
Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que mais de 18 milhões de brasileiros convivem com ansiedade, o maior índice mundial. O cenário reforça a importância de reconhecer alterações de apetite ligadas a estados emocionais para evitar a evolução para transtornos alimentares.
Fatores genéticos, hormonais e comportamentais modulam a resposta de cada indivíduo. Estudos mostram que mulheres tendem a aumentar a ingestão calórica sob estresse, possivelmente por questões hormonais e influências socioculturais.
Pessoas com histórico de restrição alimentar também revelam maior vulnerabilidade. Pesquisa da George Mason University observou que, diante de abalo emocional, esse grupo rompe o autocontrole com mais facilidade e recorre à comida como forma de consolo.
O ciclo de comer para aliviar emoções e sentir culpa depois pode agravar quadros de ansiedade, depressão, burnout ou transtorno bipolar, além de favorecer ganho de peso e dificuldades no relacionamento com a alimentação.
Estrategias saudáveis auxiliam no controle do estresse e da tristeza sem recorrer à comida. Exercícios físicos regulares elevam endorfina, criando sensação de bem-estar. Yoga, meditação, caminhadas e escrita terapêutica também reduzem a tensão emocional.
Identificar gatilhos que levam ao comer emocional é outra medida essencial. Manter diário alimentar, buscar apoio psicológico ou psiquiátrico e adotar técnicas de respiração podem ajudar no reconhecimento dos padrões.
Práticas simples, como organizar a despensa com opções nutritivas, planejar refeições e evitar compras impulsivas quando se está abalado, contribuem para estabelecer relação mais equilibrada com a comida e proteger a saúde a longo prazo.