Escândalo dos DIUs na Groenlândia: Dinamarca pede desculpas

Escândalo dos DIUs na Groenlândia volta aos holofotes após a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, pedir perdão público às mulheres inuítes que tiveram dispositivos intrauterinos implantados sem consentimento nas décadas de 1960 e 1970.
Em um auditório lotado no centro de Nuuk, capital groenlandesa, Frederiksen disse: “Hoje só há uma coisa correta a dizer: desculpe”. A plateia, formada por dezenas de vítimas, testemunhou um momento tenso quando uma delas se levantou de costas para a premiê, com uma mão negra pintada sobre a boca, simbolizando silenciamento.
Escândalo dos DIUs na Groenlândia: Dinamarca pede desculpas
Investigação oficial divulgada neste mês concluiu que ao menos 4 000 mulheres — cerca de metade das groenlandesas em idade fértil na época — receberam o DIU até 1970. Dentre 300 casos analisados detalhadamente, meninas de apenas 12 anos foram submetidas ao procedimento sem qualquer informação prévia.
Naja Lyberth, uma das primeiras denunciantes, foi ovacionada ao destacar que a reparação só começará após o reconhecimento formal do abuso. Apesar do pedido de desculpas, ela criticou a ausência de um debate explícito sobre violações de direitos humanos.
Frederiksen reconheceu traumas físicos e psicológicos sofridos pelas vítimas e citou nomes como o de Elisa Christensen, que classificou o discurso como “avassalador”, mas lamentou a falta de menção a indenizações. Um grupo de 143 mulheres já move processo contra o Estado dinamarquês.
Antes da cerimônia, o governo anunciou a criação de um “fundo de reconciliação”. Entretanto, não há detalhes sobre quem terá acesso ou quando os pagamentos começarão. Também foram prometidos ressarcimentos a outros cidadãos groenlandeses expostos a “falhas e discriminação sistemática”.
A repercussão ocorre em meio ao escrutínio internacional sobre a relação entre Dinamarca e seu território ártico, intensificada nos últimos anos, como lembra a BBC. O histórico inclui controvérsias atuais, como casos de adoções forçadas e separação de famílias inuítes por critérios de “competência parental”.
Greenland foi colônia dinamarquesa até 1953, tornou-se condado em 1953 e obteve autogoverno em 1979, mas Copenhague manteve o controle da saúde até 1992. “Vocês não foram ouvidas nem vistas”, afirmou o primeiro-ministro groenlandês Jens-Frederik Nielsen, classificando o episódio como “um dos capítulos mais sombrios” da história local.
No encerramento da sessão, muitas vítimas expressaram esperança de que o pedido de desculpas seja o primeiro passo para reparação efetiva e reconciliação entre os dois povos.
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Crédito da imagem: EPA/Shutterstock

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