Eleições na Síria ocorrem sem três províncias-chave

Eleições parlamentares na Síria serão realizadas neste domingo (15), as primeiras desde a deposição de Bashar al-Assad há dez meses. O pleito, contudo, já nasce limitado: três províncias — Raqqa, Hassakeh e Suweida — não participarão por “razões de segurança”, segundo o governo de transição liderado por Ahmed al-Sharaa.
Em vez de voto direto, colégios eleitorais escolherão representantes para dois terços das 210 cadeiras da Assembleia do Povo; o terço restante será nomeado pelo presidente interino. São mais de 1.500 candidatos, todos integrantes desses colégios. Pessoas ligadas ao antigo regime, a grupos considerados terroristas ou que defendam secessão ficaram impedidas de concorrer.
Eleições na Síria ocorrem sem três províncias-chave
Com a suspensão do pleito em três províncias, apenas 50 dos 60 distritos vão preencher cerca de 120 assentos. Os lugares reservados às áreas excluídas permanecerão vagos até nova convocação. Sharaa justificou a decisão afirmando que “metade da população está fora do país e sem documentos”, referência aos 12 milhões de deslocados internos e refugiados.
A composição do Parlamento também causa controvérsia. Organizações da sociedade civil alertaram que a prerrogativa presidencial de indicar 70 parlamentares compromete a representatividade e “torna a eleição simbólica, quando deveria garantir prestação de contas”. Entre as críticas, está ainda a ausência de cotas mínimas para mulheres e minorias, apesar de 20% dos membros dos colégios eleitorais serem obrigatoriamente mulheres.
Os assentos em cada distrito foram definidos com base em dados de 2010, um ano antes de a guerra civil que matou mais de 600 mil pessoas e deslocou outros milhões. Analistas temem que o uso de um censo desatualizado distorça a distribuição populacional atual e favoreça grupos alinhados ao governo.
De acordo com a agência Reuters, líderes curdos veem o processo como exclusório e comparável ao antigo regime. A Aliança das Forças Democráticas Sírias, que controla grande parte de Raqqa e Hassakeh, acusa Damasco de adiar indefinidamente a integração militar e civil pactuada em março.
No sul, a tensão permanece alta em Suweida desde o confronto sectário de julho entre milícias drusas e tribos beduínas, que resultou em mais de mil mortos. Moradores relatam desconhecer listas de candidatos e classificam a votação como “mera nomeação”.
Apesar das críticas, o Comitê Superior para as Eleições — criado por Sharaa em junho — garante que o processo “marca a reconstrução institucional do Estado” após 13 anos de conflito.
O anúncio dos resultados está previsto para a próxima semana. Até lá, a viabilidade de representar efetivamente uma nação fragmentada continua em aberto.
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Crédito da imagem: Reuters
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