El Niño altera ecossistemas marinhos no Atlântico e muda padrões de pesca, revela novo estudo

El Niño altera ecossistemas marinhos no Atlântico e muda padrões de pesca, revela novo estudo

El Niño está impactando o ecossistema marinho do Oceano Atlântico e, por consequência, modificando rotas e resultados da pesca em partes da América do Sul e da África, de acordo com um estudo divulgado em 18 de outubro na revista Nature Reviews Earth & Environment. A pesquisa associa a oscilação climática do Pacífico às variações de vento, chuva, temperatura, descarga fluvial e salinidade que sustentam a disponibilidade de oxigênio e nutrientes na água, elementos essenciais para a produtividade de organismos como o fitoplâncton e, portanto, para toda a cadeia alimentar marinha.

Índice

Entendendo El Niño e a Oscilação Sul

O fenômeno analisado pelos pesquisadores integra o conjunto conhecido como El Niño–Oscilação Sul (ENOS). Segundo o trabalho, o ENOS representa a alternância entre o esfriamento característico de El Niño e o aquecimento associado a La Niña nas águas superficiais do Pacífico. Essa alternância decorre de modificações na pressão atmosférica e nos sistemas de circulação oceânica e atmosférica, processos capazes de irradiar efeitos sobre outros oceanos. Embora o Atlântico não seja a bacia onde a anomalia térmica se origina, a investigação demonstra que oscilações de temperatura e pressão no Pacífico desencadeiam respostas em escala global, alcançando o regime climático atlântico e alterando as condições nas zonas costeiras de continentes banhados por esse oceano.

Essas conexões atmosféricas e oceânicas fazem com que variações aparentemente distantes, registradas primeiro no Pacífico, repercutam em locais afastados milhares de quilômetros. Como consequência, o Atlântico recebe mudanças em padrões de ventos, precipitação, descarga de grandes rios e salinidade, fatores apontados no artigo como decisivos para todo o ambiente marinho. A compreensão dessa cadeia causal ocupa posição central na pesquisa, pois somente a correlação clara entre ENOS e resposta atlântica permite prever impactos sobre pesca, recursos alimentares e economias regionais.

El Niño e as mudanças climáticas sobre o Oceano Atlântico

No âmbito físico, o estudo descreve que El Niño altera regimes de ventos e de chuva, além de influenciar a temperatura superficial do mar e a entrada de água doce em várias áreas atlânticas. Tais ajustes afetam diretamente a concentração de oxigênio dissolvido e a oferta de nutrientes que sustentam o fitoplâncton, base estrutural de toda produção biológica oceânica. Ao modificar a abundância desse microrganismo, o fenômeno amplifica ou reduz a oferta de alimento para zooplâncton, peixes, crustáceos e predadores maiores, redefinindo a distribuição e o sucesso reprodutivo de inúmeras espécies.

Os autores ressaltam, ainda, que as respostas ambientais não se distribuem de modo homogêneo por toda a extensão do Atlântico. Por envolver múltiplos mecanismos – entre eles chuva continental, vazão de rios e mistura vertical da coluna d’água – cada segmento oceânico reage de maneira singular. Essa heterogeneidade torna a previsão dos impactos uma tarefa complexa e impõe limites à generalização, ponto enfatizado repetidamente na análise científica.

Impactos regionais de El Niño no Norte do Brasil

Uma das regiões avaliadas com maior detalhe é o Norte do Brasil. Nas palavras do estudo, a fase de El Niño se relaciona à redução das precipitações sobre a bacia amazônica, padrão observado nos anos de 2023 e 2024. Quando a chuva diminui sobre a floresta, o volume de água que o rio Amazonas transporta até o oceano também cai. Essa retração reduz a chamada pluma amazônica – massa de água doce rica em sedimentos e nutrientes que se espalha pelas zonas costeiras do Norte e do Nordeste.

A retração da pluma significa menor aporte de fósforo, nitrogênio e outros compostos indispensáveis à produção primária. A pesquisa indica que uma oferta menor de nutrientes pode comprometer a produtividade de determinadas pescarias locais. Em contrapartida, a diminuição da turbidez e o aumento da penetração de luz criam condições mais claras na coluna d’água, facilitando a captura de algumas espécies de interesse comercial, como o camarão-marrom. Dessa forma, o mesmo fenômeno climatológico gera efeitos opostos: de um lado, ameaça a disponibilidade de alimento para determinadas cadeias; de outro, favorece o esforço de pesca sobre espécies específicas.

Consequências de El Niño para o Sul do Brasil e Atlântico Sul

Em contraste com o Norte do país, o Sul do Brasil tende a experimentar aumento de chuva durante eventos de El Niño. Em 2024, a pesquisa registrou precipitações intensas no Rio Grande do Sul, acompanhadas de maior descarga de água doce e nutrientes para o ambiente marinho adjacente. Esse fluxo ampliado pode tornar a zona costeira mais produtiva e, segundo os autores, potencialmente favorecer a captura de espécies adaptadas a condições de alta disponibilidade de nutrientes.

Mais ao sul, no Atlântico central da mesma latitude, o estudo relaciona El Niño ao incremento na captura de albacora, espécie de atum de valor econômico elevado. A associação sugere que variações de temperatura, salinidade e nutrientes criam nichos temporariamente mais favoráveis para a ocorrência e a agregação desse recurso pesqueiro. Embora o trabalho não detalhe a amplitude numérica dessa elevação, a constatação reforça a tese de que o ENOS redefine oportunidades e desafios para diferentes frotas pesqueiras.

Alterações na pesca e na cadeia alimentar marinha durante El Niño

A interdependência entre meio físico e biológico, evidenciada pelo estudo, afeta desde organismos microscópicos até grandes peixes pelágicos. Quando os regimes de vento e descarga fluvial se alteram, muda a quantidade de oxigênio disponível, a estratificação da coluna d’água e a oferta de nutrientes dissolvidos. Essas variáveis determinam a taxa de crescimento do fitoplâncton; por consequência, elas modulam a presença de zooplâncton e pequenos peixes, elo fundamental consumido por espécies maiores.

O artigo lembra que nem todas as respostas são imediatas. Algumas espécies reagem em questão de semanas, enquanto outras apresentam ajustes sazonais ou mesmo decadais. A estação do ano em que o evento ocorre – por exemplo, período reprodutivo ou fase de migração – pode ampliar ou mitigar o impacto. Dessa forma, produtores locais e comunidades pesqueiras precisam lidar com um cenário de alta variabilidade, no qual o sucesso de cada ciclo de pesca dependerá de como os fatores climáticos e biológicos se combinam.

Lacunas de conhecimento e necessidade de monitoramento de El Niño

Apesar de mapear diversos efeitos, o estudo destaca importantes lacunas. Entre elas estão limitações em observações por satélite, que nem sempre captam variações de pequena escala, e a carência de séries históricas completas sobre desembarques pesqueiros. Essas deficiências reduzem a capacidade de projetar impactos e de elaborar políticas de adaptação para as comunidades dependentes da pesca.

Os autores defendem a implementação de um monitoramento oceânico coordenado, capaz de integrar dados climáticos, hidrológicos e biológicos. A intenção é acompanhar a oscilação do ENOS em tempo real, avaliar suas repercussões e melhorar a gestão de recursos marinhos. Ao reconhecer que as respostas variam conforme espécie, estação e tendências decadais, a pesquisa aponta para a necessidade de sistemas de observação contínua que deem suporte às decisões de pesca e conservação.

Além de planejar monitoramentos, o levantamento conclui que futuras análises devem preencher lacunas sobre transportes de nutrientes, concentração de oxigênio e rotas migratórias de espécies-chave. Esses elementos se mostram cruciais para entender, com maior precisão, de que forma uma alteração climática originada no Pacífico continua reverberando no Atlântico e moldando a disponibilidade de pescado em diferentes latitudes.

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