Dormir com cães ou gatos afeta o sono? Estudos traçam diferenças claras
Partilhar a cama com um animal de estimação é um hábito comum em muitos lares e costuma ser associado a conforto e segurança. Dois estudos recentes, contudo, revelam que o impacto desse costume no descanso humano varia consoante a espécie e alguns factores de saúde.
Estudos científicos revelam impactos distintos
Uma investigação publicada em 2024 na revista Nature analisou 1 591 voluntários. Entre eles, 758 (47,6 % da amostra) dormiam regularmente com os seus animais. A equipa concluiu que, no conjunto, os participantes que partilhavam a cama com pets apresentavam maior gravidade de insónia e indicadores de sono mais precários.
A análise detalhada trouxe, porém, uma distinção relevante. O efeito negativo foi associado à presença de cães, mas não à de gatos. Segundo os autores, o padrão de sono dos cães — geralmente mais reativo a movimentos e sons — tende a interferir no ciclo de descanso humano. Já os gatos, embora activos em horários diferentes dos humanos, não provocaram alterações estatisticamente significativas nos parâmetros avaliados.
O mesmo trabalho salienta ainda que o número de animais por cama faz diferença: quanto mais companheiros de quatro patas dormem com o tutor, maiores são as hipóteses de fragmentação do sono.
Uma segunda pesquisa, focada exclusivamente em duplas mulher-cão, contraria parcialmente estas conclusões. Neste ensaio, 12 mulheres e os respectivos cães foram monitorizados durante 10 noites. Todas dormiam sem outro parceiro humano e possuíam apenas um animal. As participantes relataram percepcionar o hábito como benéfico, e os registos indicaram que os movimentos das tutoras influenciaram mais os cães do que o contrário. Apesar de a amostra ser pequena, o estudo mostra que a experiência pode variar conforme o contexto familiar e o comportamento individual do animal.
Em síntese, não existe consenso científico. Enquanto alguns dados sugerem que cães podem perturbar o descanso, outros apontam para uma convivência harmoniosa. Nos gatos, a tendência actual aponta para menor interferência, mas os investigadores alertam que faltam estudos de larga escala.
Cuidados recomendados para tutores e animais
Independentemente das conclusões de cada estudo, especialistas em saúde humana e veterinária concordam em vários pontos de precaução. O primeiro passa pela higiene. Banhos regulares, patas limpas após passeios e vacinação em dia reduzem riscos de doenças e infestação por pulgas ou carraças.
Pessoas com alergias ou patologias respiratórias, como asma, devem avaliar cuidadosamente se devem dormir com o animal. O contacto directo com pelos pode agravar sintomas ou desencadear crises. Nestes casos, é preferível que o pet tenha uma cama própria, colocada próxima ao tutor para manter a sensação de proximidade sem comprometer a saúde.
Outro aspecto a considerar é a qualidade do sono do próprio animal. Cães podem acordar com ruídos mínimos ou movimentos ligeiros, o que leva a despertares frequentes tanto deles como do tutor. Se for notório que o descanso de um dos dois está afectado, especialistas recomendam introduzir gradualmente uma cama individual para o companheiro de quatro patas. A mudança deve ser feita de forma consistente, pois os animais valorizam rotinas estáveis.
A quantidade de animais também influencia. Quem possui mais de um pet deve ponderar se todos cabem confortavelmente na mesma cama sem perturbar o espaço pessoal de cada um. Estudos indicam que o aumento de mascotes partilhando o colchão está ligado a maior fragmentação do sono do tutor.
Conclusão baseada em dados actuais
Dormir com cães ou gatos não é, por si só, uma prática considerada perigosa quando tanto tutor como animal se encontram saudáveis. As evidências disponíveis sugerem, contudo, que os cães apresentam maior probabilidade de interferir nos ciclos de sono humanos, enquanto os gatos tendem a ter impacto reduzido. Como cada caso difere, a decisão deve assentar em observação própria, avaliação médica quando necessário e cumprimento rigoroso de cuidados de higiene e saúde animal.
Se o descanso noturno se revelar comprometido, a solução mais indicada continua a ser disponibilizar ao pet um espaço confortável e separado, garantindo bem-estar para ambas as partes.

Imagem: Mix and Match Studio via olhardigital.com.br