Doppelgänger é o termo que define o encontro com um “duplo” idêntico, figura que há séculos intriga culturas e, hoje, também domina produções do cinema e da TV.
Associado a presságios, sombras ou simples coincidências físicas, o conceito foi cunhado em 1796 pelo escritor alemão Jean Paul no romance Siebenkäs. Desde então, atravessou mitos, teorias médicas e narrativas de entretenimento, mantendo seu poder de fascínio.
Doppelgänger: origem, lendas e presença no cinema
A palavra junta os radicais alemães “Doppel” (duplo) e “Gänger” (andarilho), sugerindo uma réplica que vaga livremente. Civilizações antigas já mencionavam versões semelhantes: o ka egípcio guardava memórias do indivíduo; o vardøger nórdico repetia ações da pessoa antes que ela as realizasse; e, na tradição islâmica, o qarin era um espírito gêmeo capaz de influenciar pensamentos.
No Ocidente, o tema ganhou impulso após The Night-Side of Nature (1848), de Catherine Crowe, compilação de casos sobrenaturais que popularizou o termo em língua inglesa. Na psiquiatria moderna, experiências semelhantes podem ser explicadas pela heautoscopia, alucinação em que o paciente vê a própria imagem à distância, comum em quadros de esquizofrenia, enxaqueca com aura e epilepsia.
Autores clássicos aproveitaram o medo do duplo como sinal de morte iminente. Entre eles, E. T. A. Hoffmann em O Elixir do Diabo (1815), Edgar Allan Poe em William Wilson (1839) e Fiódor Dostoiévski em O Duplo (1846). Relatos pessoais incluem Goethe, que teria visto a si mesmo cavalgando em sentido oposto, e John Donne, que enxergou o reflexo da esposa na noite em que perderam a filha.
O cinema transformou o doppelgänger em recurso dramático de peso. Destacam-se A Dupla Vida de Véronique (1991), O Grande Truque (2006) e Us (2019), de Jordan Peele, onde uma família enfrenta versões sombrias de si mesma. A lista inclui ainda O Duplo (2013), adaptação de Dostoiévski dirigida por Richard Ayoade, além de longas que levam o termo no título, como Doppelganger (1993) e Doppelgänger (2003).
Na TV, séries como The Vampire Diaries, Twin Peaks, Supernatural e The Flash exploram clones ou realidades paralelas. Nos animes, o tema aparece em Hunter x Hunter. A recorrência reforça a atemporalidade do medo de se deparar com uma imagem perfeita de si mesmo — e questionar quem, de fato, é o original.
Em resumo, o doppelgänger transita entre lenda, ciência e cultura pop, mantendo-se atual ao refletir sobre identidade, destino e mortalidade. Para aprofundar temas de criatividade, tecnologia e mistério, explore a editoria de Ciência e Tecnologia e fique por dentro das próximas análises.
Crédito: Universal Pictures (divulgação)