Doença do Nobel: por que laureados defendem pseudociências

Doença do Nobel: por que laureados defendem pseudociências é o nome dado ao fenômeno que descreve a inclinação de alguns vencedores do Prêmio Nobel a adotar ou divulgar ideias sem respaldo científico, muitas vezes em campos alheios à sua especialidade.
A expressão surgiu após casos repetidos de cientistas premiados que, já consagrados, passaram a apoiar crenças como percepção extrassensorial, eugenia ou ceticismo sobre o aquecimento global. A notoriedade acaba conferindo autoridade a opiniões que colidem com o consenso acadêmico.
Doença do Nobel: por que laureados defendem pseudociências
Exemplos históricos ajudam a ilustrar o cenário. Pierre Curie, laureado em 1903 pela descoberta do rádio e do polônio, acreditava que fenômenos paranormais poderiam esclarecer o magnetismo. Joseph Thomson, descobridor do elétron, integrou por mais de três décadas a Society for Psychical Research, enquanto Charles Richet, Nobel de Medicina em 1913, cunhou o termo “ectoplasma” para substâncias supostamente expelidas por médiuns.
Nem todos os casos ficam no campo do folclore. Richard Smalley, Nobel de Química em 1996, questionou publicamente a evolução biológica. Kary Mullis, vencedor em 1993, duvidou da relação entre HIV e AIDS, negou a crise climática e relatou ter visto um “guaxinim verde” que se transformou em um “golfinho cantor”. Essas declarações repercutem porque partem de nomes reconhecidos, ampliando a difusão de conteúdos sem base empírica.
Para Paul Nurse, também premiado com o Nobel, o problema nasce da pressão externa: após o troféu, o cientista é visto como voz autorizada sobre qualquer tema. Em artigo no The Independent, Nurse relatou a enxurrada de convites para opinar sobre assuntos distantes de seu domínio, o que fomentaria excesso de confiança.
Análises acadêmicas apontam outros fatores cognitivos por trás da chamada “Nobelitis”: ilusão de onisciência, traços narcisistas e autoconfiança exacerbada. Mesmo gênios como Isaac Newton flertaram com alquimia, lembram pesquisadores, reforçando que a laureação não imuniza contra erros de julgamento.
Apesar das histórias curiosas, não há evidências de que ganhadores do Nobel sejam estatisticamente mais suscetíveis a pseudociências. O termo funciona como alerta para que especialistas — premiados ou não — mantenham o rigor científico fora e dentro de suas áreas.
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Imagem: wildpixel / iStock
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