Documentário da Netflix omite detalhes cruciais sobre o caso AJ Owens e a condenação de Susan Lorincz

Documentário da Netflix omite detalhes cruciais sobre o caso AJ Owens e a condenação de Susan Lorincz

Lead — Lançado pela Netflix em outubro de 2025, o documentário A Vizinha Perfeita reconstitui o assassinato de Ajike “AJ” Shantrell Owens, ocorrido em 2023 na Flórida, utilizando imagens de câmeras corporais da polícia e gravações de segurança. Ao retratar o disparo que tirou a vida da mãe de quatro filhos, a produção expõe tensões raciais que atravessam comunidades norte-americanas, mas deixa lacunas significativas sobre a vítima, o histórico de conflitos e o desfecho judicial da vizinha Susan Lorincz, condenada em 2024. A seguir, veja como cada aspecto deste caso foi abordado ou omitido pelo filme.

Índice

O evento central: o que aconteceu em 2023

O fato principal que sustenta o documentário é o disparo efetuado por Susan Lorincz contra Ajike Owens em 2023. As duas eram vizinhas em um bairro residencial da Flórida. Testemunhas relataram que a discussão final começou quando crianças brincavam perto da porta de Lorincz. Naquele momento, a vizinha branca disparou, matando Owens, mulher negra de 35 anos. O material audiovisual exibido na obra mostra a chegada dos policiais, o atendimento a AJ já ferida e as primeiras declarações de Lorincz.

A vida de AJ Owens além das câmeras

Embora o filme apresente Owens como vítima direta do crime, a construção de sua trajetória pessoal recebe espaço reduzido. Dados ignorados na montagem revelam que AJ era mãe solo de quatro filhos, trabalhava no McDonald’s para sustentar a família e era descrita por moradores como afetuosa e participativa. Nos momentos de folga, transformava a rua em um improvisado campo de futebol, incentivando o esporte como forma de integração infantil. Esse retrato humano não aparece de forma completa na narrativa final, onde a vítima surge mais como peça de um quebra-cabeça policial do que como protagonista de uma história comunitária.

Meses de tensão: o conflito que antecedeu o disparo

Relatos de vizinhos indicam que a hostilidade entre as duas casas começou muito antes do dia do crime. Durante meses, Susan Lorincz reclamou do barulho das crianças de Owens e, em diversas ocasiões, proferiu insultos raciais. AJ, segundo relatos, insistia para que os filhos evitassem confrontos e buscava preservar a convivência pacífica. O documentário menciona apenas de forma fragmentada essa cronologia de atritos, omitindo a escalada de agressões verbais que ajudou a contextualizar o desfecho violento.

Como as imagens foram obtidas

Todo o material audiovisual exibido — câmeras corporais da polícia e filmagens de segurança do condomínio — chegou à produção após um processo amparado pelo Freedom of Information Act, legislação dos Estados Unidos que garante acesso a documentos públicos. A equipe da diretora Geeta Gandbhir precisou recorrer a um longo trâmite legal para liberar os arquivos. Esse bastidor reforça o caráter investigativo do projeto e evidencia as barreiras encontradas para documentar o caso, mas não é mencionado na versão exibida pela Netflix.

A tramitação judicial contra Susan Lorincz

O longa termina antes de informar o resultado do julgamento, deixando parte do público com a impressão de que o processo ainda estava em aberto. Na realidade, em agosto de 2024, Lorincz foi considerada culpada por homicídio culposo. Três meses depois, em novembro do mesmo ano, a Justiça determinou pena de 25 anos de prisão. Esses dados encerram a discussão judicial, mas ficaram de fora da obra.

A tentativa de aplicação da Stand Your Ground Law

Durante o processo, a defesa de Lorincz tentou enquadrar o disparo na Stand Your Ground Law, legislação vigente na Flórida que autoriza o uso de força letal em suposta defesa pessoal. A estratégia reacendeu debates sobre desigualdade racial e aplicação seletiva de leis. Embora o documentário cite brevemente o dispositivo, não aprofunda o histórico da norma, os argumentos apresentados nem as críticas apontadas por especialistas.

O impacto no bairro

Antes do crime, o conjunto de residências onde Owens morava era descrito como um espaço de forte solidariedade. Após o disparo, moradores relataram sensação de medo, esvaziamento de áreas comuns e quebra de vínculos comunitários. A diretora mencionou em entrevistas que esse abalo foi decisivo para entender a extensão do trauma. No entanto, a versão final da obra sugere, mas não contextualiza totalmente, as consequências sociais sentidas pelos vizinhos.

Depoimentos excluídos na edição final

Várias entrevistas foram gravadas e não chegaram ao corte definitivo. Entre elas, a fala de Phyllis Wills, vizinha que descreveu Owens como “a alma do quarteirão”, ressaltando sua presença constante ao vigiar e cuidar das crianças da rua. Esses depoimentos reforçariam a dimensão humana de AJ, mas ficaram de fora, possivelmente para ajustar tempo de exibição ou foco narrativo.

As quatro crianças e o trauma invisível

Um dos aspectos mais delicados envolve os filhos de Owens, que presenciaram parte da discussão que antecedeu o tiro. Após a morte da mãe, as crianças passaram a viver com a avó, Pamela Dias, que iniciou campanhas públicas contra violência armada e racismo. O documentário cita a família de forma breve e não se aprofunda no impacto psicológico do episódio nem na rotina das crianças depois da tragédia.

Por que as omissões importam

A Vizinha Perfeita é efetivo ao expor o momento do crime e a atuação policial, porém suas escolhas narrativas suprimem detalhes essenciais para compreender as dimensões social, jurídica e emocional do caso AJ Owens. A invisibilidade de antecedentes, bastidores legais, depoimentos comunitários e consequências familiares limita a compreensão pública do episódio e pode levar espectadores a conclusões incompletas sobre o processo criminal e a realidade da vítima.

Mesmo com esses limites, o documentário permanece entre os títulos mais assistidos da plataforma desde a estreia, e o debate sobre o caso continua a mobilizar atenção dentro e fora do streaming.

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