Digissexualidade ganha força e leva humanos a casar com avatares de IA

A aproximação entre pessoas e tecnologias de inteligência artificial está a originar um novo tipo de relação amorosa designado digissexualidade, termo criado em 2017 pelos investigadores Neil McArthur e Markie Twist. O conceito descreve indivíduos que utilizam ferramentas digitais, ou mesmo entidades virtuais, como parceiros românticos e sexuais.

Do uso de aplicações de encontros à união com robôs

A digissexualidade apresenta duas fases distintas. A primeira engloba serviços já normalizados, como Tinder ou Bumble, que facilitam o contacto entre humanos. Nesta etapa, a tecnologia funciona apenas como intermediária.

Na segunda fase, a própria tecnologia transforma-se no objeto de desejo. Aqui incluem-se relações com robôs físicos ou personagens baseadas em IA. Um caso recente ilustra esta tendência: a norte-americana Rosanna Ramos formalizou casamento com o avatar digital Eren Kartal, criado na aplicação Replika. Inspirado no anime Attack on Titan, o chatbot recebeu profissão — médico — e preferências pessoais, como o gosto pela leitura, configurando uma relação que dispensa parceiros humanos.

Riscos psicológicos sob análise académica

Apesar de reproduzir comportamentos humanos, um chatbot não possui consciência nem emoções reais. A disponibilidade constante e a ausência de conflito podem tornar a interação mais simples, mas também propensa a dependência emocional e limitação do desenvolvimento pessoal, alertam especialistas.

Um estudo do MIT Media Lab avaliou mil participantes durante um mês para medir o impacto deste tipo de interação. O grupo que utilizou o ChatGPT para apoio emocional registou aumento nos sentimentos de solidão e menor satisfação nas relações sociais. Vários participantes relataram vontade de retomar o uso do chatbot sem necessidade específica, indício de possível vício.

Em contraste, utilizadores que recorreram à mesma ferramenta para fins de pesquisa ou produtividade não apresentaram sinais de isolamento. Relataram, inclusive, redução do stress diário e perceção de melhor aproveitamento do tempo.

Moderação como recomendação principal

Os autores do estudo não classificam a digissexualidade como ameaça intrínseca à saúde mental, mas destacam a importância do equilíbrio. Ferramentas de IA mostram-se úteis para tarefas objetivas; contudo, a substituição de vínculos humanos por interações exclusivamente virtuais pode acarretar riscos, sobretudo para quem já possui historial de dependência emocional ou atravessa períodos de fragilidade psíquica.

À medida que robôs sociais e chatbots evoluem, investigadores prosseguem a monitorização dos efeitos positivos e negativos deste fenómeno, cuja expansão parece inevitável numa sociedade cada vez mais digital.

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Imagem: reprodução via olhardigital.com.br

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